Para sudoestinos, porém, não há clima para encaminhar processo de impeachment.

O presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), declarou que “está cada vez mais claro” que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) cometeu crime de responsabilidade por não ter atuado frente às denúncias de irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin.
Aziz se referia especificamente ao fato de o presidente não ter respondido as indagações sobre as denúncias que teriam sido levadas a ele pelo deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e por seu irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda.No fim de semana, o Datafolha publicou pesquisa indicando um desgaste do presidente — 56% reprovam sua gestão. “Por mais que o presidente Bolsonaro tenha cometido erros em sua administração, não vemos corrupção em seu governo perto do governo anterior. Não existe clima para o impeachment do presidente. O que há é que não deixam ele governar, infelizmente”, analisou o advogado de Pato Branco Fábio Forselini.
Outro advogado, ex-presidente Michel Temer, em entrevista para a Folha de S. Paulo na semana passada, foi na mesma linha que Fábio: “O processo de impeachment não é jurisdicional, é político. De conveniência e oportunidade (…). Eu não acho útil, com toda a franqueza. Se formos cronometrar, [o processo de impeachment] vai levar oito, nove meses, chegando nas eleições. Vale a pena? Convenhamos, o pessoal que apoia o presidente é tão ou mais ativo do que do PT”.

Processo de impeachment agora geraria transtorno
Ex-vereador de Francisco Beltrão, veterinário Léo Garcia concorda: “Não vejo clima para impeachment no momento. Acho que a prioridade é cuidar da economia e priorizar cuidados com a pandemia e a vacinação. Estamos a quase um ano do período eleitoral, e um impeachment só geraria transtornos”.
Economista e ex-secretário de Desenvolvimento Econômico e Tecnológico de Francisco Beltrão, Inácio Pereira também concorda: “Não vejo qualquer possibilidade de impeachment. São pouco mais de 12 meses para as próximas eleições. O prejuízo para o país seria imenso, pois ações como essas só aumentam a instabilidade política, mas principalmente a econômica”.
Para Inácio, “a Covid deixou claro a fragilidade do Brasil, e isso veio se arrastando ao longo dos anos. Portanto, sou totalmente contrário a um impeachment nesse momento”, reforçou. Em depoimento à CPI, os irmãos, deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, confirmaram que se encontraram com o presidente no Palácio do Alvorada, em março, quando levaram as denúncias de irregularidades na compra da vacina indiana, desenvolvida pela Bharat Biotech e intermediada no Brasil pela empresa Precisa Medicamentos.

“Não vou responder”
A cúpula da CPI encaminhou uma carta a Bolsonaro pedindo que ele se manifestasse sobre a hipótese de ter conhecimento das denúncias de irregularidades e quais medidas adotou.“Caguei para a CPI. Não vou responder nada”, disse o presidente em uma transmissão ao vivo em suas redes sociais.
A CPI da Covid nesta semana
Hoje, 13, a CPI vai ouvir Emanuele Medrades, que é representante da Precisa Medicamentos. Senadores investem nesse depoimento para tentar contornar o habeas corpus que foi obtido pelo sócio-administrador da empresa, Francisco Maximiano, que acabou tendo seu depoimento cancelado.
A suspeita sobre a compra de vacinas veio à tona em torno da negociação da Covaxin, quando o jornal Folha de S.Paulo revelou o teor do depoimento sigiloso do servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda ao Ministério Público Federal, que relatou pressão “atípica” para liberar a importação da vacina indiana.
A partir do caso Covaxin, a Folha chegou a outro caso de suspeitas de irregularidades, envolvendo a empresa Davati Medical Supply.
A reportagem localizou Luiz Paulo Dominghetti Pereira, que se apresentou como vendedor da empresa.
Em entrevista à Folha, ele disse que o então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, pediu propina de US$ 1 por dose para fechar contrato. As acusações foram repetidas em depoimento à CPI da Covid. Ferreira Dias foi exonerado.
Amanhã, 14, vai depor o reverendo Amilton Gomes de Paula, fundador da ONG Senah. Ele teria sido o responsável por intermediar o contato entre o policial Luiz Paulo Dominghetti e representantes do governo federal.
Na quinta-feira será a vez do tenente-coronel Marcelo Blanco, que participou do encontro em que teria acontecido o pedido de propina. Na sexta-feira, será a vez da oitiva de Cristiano Carvalho, representante da Davati no Brasil.