Sudoestinos não apostam numa guerra, mas conflito econômico com a China tende a se manter no centro das relações internacionais.

JdeB – O republicano Donald Trump, 78 anos, assumiu a Casa Branca dia 20 de janeiro, depois de uma vitória esmagadora em novembro passado, conquistando também a maioria na Câmara e no Senado, no voto popular e entre os delegados que referendaram seu nome como o 47º presidente dos Estados Unidos.
Contando o dia 20/1, amanhã serão 20 dias de gestão — e foram dias que sacudiram o mundo. “Acho que o Trump está cumprindo as promessas de campanha. Porém, na prática, algumas promessas têm efeito bumerangue. Só para exemplificar: estas sobretaxas aos produtos de outros países vão encarecer estes produtos, e quem paga é o consumidor. Não gosto de bravateiros, mas, historicamente, os governos republicanos sempre foram melhores para o Brasil do que os governos democratas”, comentou o advogado de Realeza Camilo De Toni.
Além da economia, tem a questão geopolítica que transborda no noticiário, com as declarações sobre a anexação do Canadá, a vontade de comprar a Groenlândia (que pertence à Dinamarca) e de controlar o Canal do Panamá.
E anteontem, o plano de expulsar os palestinos da Faixa de Gaza — proposta que espantou o primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que estava a seu lado em Washington.
O vereador de Itapejara d´Oeste Marcus Vinícius Santos Mineiro analisou: “Eu vejo o Trump fazendo essa mídia dele, querendo pôr os Estados Unidos sempre como protagonista, e isso é um perigo na atualidade, quando ele fala em tomar a Groenlândia, tomar o Canadá, tomar o Canal do Panamá e mudar o nome do Golfo do México, isso mexe com o brio das outras pessoas, o brio dos outros países, e acaba sendo um perigo para um conflito maior no futuro, quem sabe de guerra mesmo”.
Será que o mundo corre esse risco de uma guerra? O ex-prefeito de Flor da Serra do Sul Paulo Savaris pondera: “Não vejo esse risco de guerra como iminente. O que percebo é uma estratégia de manipulação midiática, onde determinados atores utilizam a retórica – um instrumento de persuasão desde a Grécia Antiga – para conduzir a opinião pública conforme seus interesses. O jogo de ameaças e recuos só encontra espaço em uma sociedade marcada pela efemeridade, onde a credibilidade de valores sólidos se torna secundária. Diante desse cenário, talvez o melhor seja observar com cautela, pois hoje se impõe uma narrativa, amanhã se desmonta outra, tudo conforme o ritmo dos cliques e do mercado da atenção”.
Paulo Savaris complementa: “Se o mundo fosse regido por bravatas em vez de diálogo, estaríamos diante de um verdadeiro caos. Em uma era de informação instantânea, declarações inflamadas muitas vezes não passam de encenações para conquistar apoio popular. A política internacional, no entanto, se constrói sobre regras e respeito mútuo. Fora disso, o que se vê é um jogo onde apenas um lado vence, uma dinâmica perigosa que pode levar a desdobramentos imprevisíveis. Como disse Jesus: Quem tem olhos, veja; quem tem ouvidos, ouça”.
Economia mundial: EUA x China
O economista de Francisco Beltrão Inácio Pereira discorre sobre a economia global, um tema central para os americanos: “É preciso destacar primeiro que existe uma potência econômica mundial chamada China, que tem condições de fazer um contraponto ao poderio econômico americano. Vale destacar que essa mesma potência possui as maiores reservas de dólares no mundo e isso pode fazer desabar o poder de compra do dinheiro americano, embora isso seja pouco provável”.
Inácio continua: “A postura de Trump é exatamente o que ele prometeu em campanha, então não me causa estranheza, e embora que eu não concorde com algumas medidas dele, entendo o seguinte: grandes problemas requerem grandes decisões, e muitas delas difíceis de serem tomadas e mesmo compreendidas.
Por fim, o que me parece é que Trump está querendo colocar novamente os Estados Unidos em evidência, sobretudo para conquistar um espaço que agora foi ocupado pelos chineses. São os interesses econômicos que falam mais alto. O resto, a diplomacia que resolva”.
Então, para enfrentar a China, é necessário adotar uma postura rígida?
Quem responde é Paulo Savaris: “A postura durona desse líder parece, na verdade, um espetáculo de palavras. Na prática, revela-se um jogo de bravatas que alimenta um ciclo interminável de instabilidade midiática. O discurso de enfrentamento com a China serve mais para a plateia do que para negociações reais. Enquanto isso, nos bastidores, interesses particulares se sobrepõem ao bem comum. O perigo maior reside no dia em que um líder, movido por ego ou mau humor, decida transformar palavras em ações concretas. O que vejo com tristeza é a maior potência do mundo se dobrando ao espetáculo de um homem que prioriza sua própria vaidade, manipulando mentes sedentas por um novo capítulo dessa narrativa”.