Por Adolfo Pegoraro – Quando vem o processo eleitoral, principalmente o municipal, muitas pessoas fazem a seguinte pergunta: por que não são os mais votados que se elegem como vereador? Para responder essa pergunta, é preciso explicar primeiro a diferença entre voto proporcional (vereadores, deputados estaduais e deputados federais) e voto majoritário (prefeito, governador, senador e presidente). No majoritário, é simples: 50% dos votos válidos mais 1 e o candidato está eleito. Cabe aqui observar que só há segundo turno em municípios com mais de 200 mil eleitores, que não é o caso de Francisco Beltrão, que tem 66.048 eleitores.
No caso do voto proporcional, que é o mais utilizado no mundo, é preciso levar em conta o Quociente Eleitoral (QE), o Quociente Patidário (QE) e as sobras. Cada partido ou federação podia, em Francisco Beltrão, ter até 18 candidatos, obedecendo a regra do número de cadeiras (17), mais um. Então o Quociente Eleitoral é o número de votos válidos, que em 2024 em Francisco Beltrão foi de 49.303, dividido pelo número de cadeiras para vereador, que é 17. Portanto, o QE do município nessas eleições foi de 2.900,1. Ou seja, cada partido ou federação precisava somar 2.900,1 para eleger um vereador. Para descobrir o Quociente Partidário (QE), você precisa dividir os votos válidos do partido pelos QE. O caso do PSDB, que foi o partido que mais recebeu votos pra vereador, o QEfoi de 2,9, ou seja, teve o direito a duas cadeiras na primeira rodada, elegendo Junior Nesi e Oberdan Saretta. Seus outros dois vereadores (Maria de Fátima e Silmar Gallina) foram eleitos nas sobras. Mas como são calculadas as sobras?
Vamos aos números novamente: pelo Quociente Partidário (primeira rodada), foram eleitos dez vereadores: Junior Nesi (PSDB), Emanuel Venzo (PL), Aline Biezus (Novo), Marcos Folador (PT), Tiago Correa (PV), Pedro Tufão Filho (PP), Nildo Borges Gás (PP), Oberdan Saretta (PSDB), Fernando Misturini (Podemos) e a Anelise Marx (MDB).
O cálculo das sobras é feito cadeira a cadeira. Quem conquistou a 11ª cadeira foi a Maria de Fátima Niclotti (PSDB), pois ela era a terceira colocada de seu partido, que teve maior média na segunda rodada. Para fazer esse cálculo, é preciso pegar os votos válidos do partido (8.471) e dividi pelo Quociente Partidário + 1. Então, no caso do PSDB, que teve o QE superior a 2, é preciso dividir 8.471 por 2+1, que o total ficou em 2.823,66.
Só que para a disputa da 12ª cadeira, a média do PSDB baixou, pois você precisa dividir os 8.471 por 2+1+1, que é a quarta cadeira que o partido está pleiteando, aí a média ficou em 2.117,55. Então a 12ª cadeira ficou com o vereador Cidão, do Podemos, que embora tenha a menor votação dentre os eleitos (695 votos), conquistou uma cadeira bem à frente pela média de seu partido, que ficou em 2.759,4.
A 13ª cadeira, pela média, seria do MDB, que teve 5.229 votos em sua chapa de vereadores. O problema foi que a segunda candidata mais votada do partido, Karen Teló, não atingiu os 20% do Quociente Eleitoral, que seria mais de 580 votos. Faltaram apenas 84 votos para ela conquistar a 13ª cadeira, que seria a segunda do MDB. Com isso, quem se beneficiou foi o PSD, elegendo Dile Tonello, que fez mais de 20% do QE e seu partido também fez mais de 80% do QE, um critério exigido na contagem das sobras. O PDT só não elegeu sua candidata mais votada, Edina Mocellin (1.038 votos), porque o partido não fez os 80% do QE, que seria 2.320. O PDT, com seus 13 candidatos, somou apenas 2.043 votos, ficando de fora da disputa das sobras.
Algumas curiosidades sobre a eleição 2024
– Se fossem apenas 13 vereadores, como era até 2020, Bruno Savarro, Julio Spada, Mara Urbano e Silmar Gallina não teriam sido eleitos;
– O PSDB precisaria somar 10.550 votos para fazer a quinta cadeira, faltaram 2.079 votos. Em 2024, o partido recebeu apenas 97 votos de legenda, contra 1.364 votos de legenda que obteve em 2020;
– Os 17 candidatos do PP precisavam somar apenas 41 votos a mais para conseguir a terceira cadeira. Se isso acontecesse, Elenir Maciel seria vereadora no lugar de Silmar Gallina, pois o PSDB faria apenas três cadeiras;
– Faltaram 835 votos para o Podemos eleger três vereadores;
– Karen Teló (MDB) seria vereadora se superasse a marca de 580 votos, pois ela foi a segunda mais votada do partido com 496 votos. Mas cabe aqui uma outra curiosidade: Se o MDB tivesse conseguido um QE de 2, que seria atingido com 5.800 votos de toda a chapa, aí sim Karen Teló seria vereadora mesmo com seus 496 votos, pois na primeira rodada é necessário apenas 10% do QE, que seria mais de 290 votos, mas a partir da segunda rodada, que calcula as sobras, é obrigatório ter 20% do QE;
– A federação PT/PV precisava mais 1.755 votos para fazer sua quarta cadeira. E aqui cabe outra observação: em caso de federação, são somados os votos e os candidatos dos dois partidos, essa foi uma das grandes novidades das eleições de 2024, pois não havia essa opção em 2020. Mas vale lembrar que a federação é feita de forma vertical, um acordo nacional entre os partidos, que não pode ser mudado de município para município;
– Se a chapa do PSD fizesse 277 votos a menos, não teria atingido os 80% do QE e não teria nenhum vereador eleito;
– Faltaram 277 votos para a chapa do PDT atingir os 80% do QE e eleger a Edna Mocellin, que fez 1.038 votos;
– Faltaram 941 votos para a chapa do PSB atingir os 80% do QE. Só que mesmo se atingisse essa marca, Maikel Krug, o candidato mais votado do partido, não seria eleito porque fez 323 votos e não atingiu os 20% do QE, que é 580 votos. Caso a chapa do PSB fizesse os 2.900 votos do QE, teria um QEde 1, aí sim Maikel Krug seria vereador mesmo com seus 323 votos, pois na primeira rodada é necessário ter apenas 10% do QE;
– O Agir teve a pior média de votos por candidato: 37,8. Seus 18 candidatos somaram apenas 681 votos. Mas caso os 18 candidatos fizessem pelo menos 160 votos cada e o mais votado tivesse 290, o Agir teria um vereador em Francisco Beltrão com menos de 300 votos. Só que isso só é possível na primeira rodada, que avalia o QE. Nesta primeira rodada, se o partido tiver um QE de 1 e seu vereador mais votado tiver pelo menos 10% do QE, seria possível sim um dos candidatos se eleger com apenas 290 votos. E o mais curioso é que o partido teria a 11ª cadeira;
– Os dois candidatos do PSOL precisariam somar juntos 2.900 votos para fazer uma cadeira;
– Em 2024, os partidos que mais fizeram votos de legenda foram: MDB (545), PSD (278), PV (133), PL (120), PT (116), PSDB (97), PP (86), PDT (74), Novo (64), Podemos (56), Agir (35), PSB (23) e PSOL (5).
Sequência das cadeiras conforme o voto proporcional
1º Junior Nesi (PSDB) eleito por QE
2º Emanuel Venzo (PL) eleito por QE
3º Aline Biezus (Novo) eleita por QE
4º Marcos Folador (PT) eleito por QE
5º Tiago Correa (PV) eleito por QE
6º Pedro Tufão Filho (PP) eleito por QE
7º Nildo Borges Gás (PP) eleito por QE
8º Oberdan Saretta (PSDB) eleito por QE
9º Fernando Misturini (Podemos) eleito por QE
10º Anelise Marx (MDB) eleita por QE
11º Maria de Fátima Niclotti (PSDB) eleita por média
12º Cidão Barbieri (Podemos) eleito por média
13º Valmir Dile Tonello (PSD) eleito por média
14º Bruno Savarro (PL) eleito por média
15º Julio Spada (Novo) eleito por média
16º Mara Urbano (PT) eleita por média
17º Silmar Gallina (PSDB) eleito por média