Deus
Crise econômica moderada, crise política grave, governo descendo o pau em professor em um Estado e em alunos noutro, barragem estourando e pintando um mar de lama, a polícia peneirando carro de varde, o Cunha preso no cargo que nem carrapato e a relação população e Estado arranhada como não se via desde a Revolução Francesa. E aí, meu amigo Tião Carreiro, é o começo do fim?
Num tempo de múltiplas tragédias anunciadas, catástrofes naturais e humanas, pedidos de reza e compaixão e o diabo a quatro, impossível não pensar no profético Riobaldo: “Deus, mesmo, se vier, que venha armado”.
O Brasil de 2015 continua o mesmo sertão da década de 50. Existe, porém, uma ordem no caos; a ideia de que as coisas irão melhorar, mas antes tendem a piorar bastante é um consenso desde os hippies do calçadão até os burocratas do Eldorado.
Esse momento de convulsão e histeria é que vai definir os rumos do país até nossa terceira geração, para o bem ou para o mal. É preciso que cada indivíduo assuma seu protagonismo social, bote a boca no mundo, não dê trela para o status quo, opine, ocupe. Seja a ruptura que você quer no mundo.
Veja que maravilha o movimento feminista – e não me refiro ao dos quadris – com essa mulherada enquadrando seus abusadores na internet e fora dela. Seja assim, independentemente se você for mulher, negro, homossexual, monogâmico, petista, disléxico, canhoto ou alguém que só quer se isentar das responsabilidades e apontar o erro alheio.
A diabaria e confusão desses tempos não é apenas uma expressão da Tiregrito. E nossa salvação não depende de nenhum messias, como a turbulência da nossa época sugere. O inferno somos nós mesmos, insinua o Grande Sertão de Guimarães Rosa, “o diabo não há! Existe é homem humano”.