Macfly
No filme, tem skate voador, jaqueta que se ajusta ao corpo e cadarços que amarram sozinhos. Na realidade tem pedofilia escancarada, eugenia e uma confusão sobre onde termina a Igreja e começa o Estado. É 2015 – uma época de intolerâncias e patrulhamento ideológico mútuo – mas Martin Macfly poderia muito bem ter pensado chegar num castelo da Alta Idade Média. É como uma viagem pro futuro ao contrário.
Basta resumir as notícias da semana para constatar que, se depender do pensamento individual potencializado pela internet, poderíamos voltar a nos organizar em feudos e dar um cabrito como dote no casamento arranjado dos filhos. E ainda promulgar a Constituição da Mandioca. Teve haitiano assassinado, boicote racista em clássico nerd, superconcentração de riqueza, tal de escola sem partido, crise de imigração, erotização infantil e projeto de heterofobia avançando no Congresso.
É uma versão medieval gourmetizada: a gente continua servindo como vassalo, só que agora com diploma.
Imagine se, como Macfly, fosse possível o pessoal do diretório de estudantes da faculdade ir ao passado corrigir o que os acadêmicos chamam de erros históricos e eu de bronca retroativa. O DeLorean cai justamente na nau de Colombo, os espanhóis vão tirar satisfação e o negócio acaba em tiroteio e facada. O pau come solto e a embarcação e tripulantes afundam sob o belo céu azul do Atlântico. Em seguida se teletransportam ao início do século XX para fazer um revisionismo dos conceitos artísticos e declarar o incipiente Adolf um dos mais brilhantes pintores da época e depois saem em busca de um certo faraó egípcio.
Enquanto algum cientista careca estuda uma maneira de nos levar ao passado ou futuro, observamos a repetição da História, só com novas roupagens. Segue o baile, e o festival de chorume.