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Francisco Beltrão
domingo, 01 de junho de 2025

Edição 8.216

31/05/2025

Agricultor preserva rica reserva de jabuticabeiras nativas

 

Só de adultas, a mata de Itacir Suzin tem mais de 50 jabu-
ticabeiras, todas elas, com certeza, mais velhas que ele.

 Na divisa do Paraná com Santa Catarina, entre as comunidades de Passo do Leão, em Clevgelândia, e Linha Siviero, em Abelardo Luz, Itacir Antônio Suzin tem, há 40 anos, uma propriedade de 17 alqueires. Nas áreas de morro e pedra, ele plantou grama e cria gado. Na parte mecanizável, produz soja, milho, trigo.

Esta jabuticabeira talvez seja a mais grossa do mato do seu Itacir.  
Mediu 68 centímetros de DAP (diâmetro na altura do peito)
e 75 cm a 30 centímetros do solo.

 

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De mato, restou uma área plana de um alqueire, no alto do morro com uma característica especial: possui uma grande reserva de jabuticabeiras nativas, é uma raridade. Árvores gigantes (da espécie), medem cerca de 20 metros de altura e chegam a possuir 60 e até mais de 70 centímetros de diâmetro.

Nascido em Ibiaçá mas criado em Santa Catarina, casado com Teresinha Siviero Suzin, Itacir tem quatro filhos: Ivanir (trabalha e reside em Clevelândia), Ivanildo (reside com ele mas trabalha num secador da Linha Siviero), Eloir (reside na propriedade e trabalha com o pai) e Elizete (reside em Chapecó).

Dia 19 deste mês, Itacir parou seu trabalho com o trator (estava gradeando a resteva da soja para incorporar a semente de aveia que havia semeado) para mostrar sua floresta de jabuticabeiras e concedeu a seguinte entrevista ao Jornal de Beltrão.

 

JdeB – Quando veio a mecanização, o senhor não sentiu vontade de destruir essa área que também é toda mecanizável?

Itacir – Teve uma época que eu tava com vontade, mas daí pensei e digo não, deixa ali. Por causa dessas jabuticabeiras eu não destruí. Não quis mexer mais e agora não mexo.

 

Elas produzem só em outubro?

Essas frutas, se corre bem, é só em outubro a temporona não dá.

 

E nem todo ano produz?

Não, se der um frio fora, que ela esteja na flor, ela não produz.

 

E quando produz, vem muita gente aí?

Vem bastante gente.

 

O senhor tem ideia de quantas árvores tem aqui, essas mais grossas?

Ah, essas passam de 50.

 

E tem muitas pequenas?

Tem, tem, se for contar tudo, eu nunca tirei um tempo pra contar, mas deve dar umas cento e poucas árvores.

 

A sorte é que a lei também não permite que o senhor derrube. Mas, quando o senhor chegou aqui, poderia ter derrubado.

Poderia, naquela época não tinha essas coisas.

 

Por sorte o senhor não derrubou.

Por sorte, senão hoje não tinha isso daí e o senhor nem tava também fazendo isso aí (risos).

 

E aqui nós estamos bem na divisa?

Aqui no divisor.

 

Inclusive tem o marco aí que é a divisa do Paraná e Santa Catarina.

Paraná e Santa Catarina e os municípios.

 

Nós estamos aqui na Serra da Fartura.

Que é município de Abelardo, né, e dali pra lá é Clevelândia.

 

E aqui de jabuticaba tem fartura mesmo.

Aí quando dá fruta tem (risos).

 

É bom morar aqui?

É bom, eu não troco esse aqui pela cidade.

 

Qual é a comunidade mais perto?

A nossa mesmo, ali embaixo, Linha Siviero.

 

Muitas famílias?

Não, agora tá pouco. Na época que eu entrei aqui tinha bastante, mas daí assim, que nem diz aquele, o grande vai comendo o pequeno, porque era tudo gente pequena, produtor pequeno, cinco, dez alqueires, e daí começou os grandes chegar e foram comprando e comprando, hoje tá quase tudo, aqui tô só eu e mais um vizinho, o resto já foi tudo pra mão dos grandes.

 

E tem mais áreas como essa sua aqui, com jabuticabeiras?

Não, só de mato, de jabuticaba não tem, o único lugar que tem jabuticaba é aqui. Eu sei que tem uns pé ali no Rincão Torcido, mas é pé pequeno, bem pequeno.

E o senhor percebeu que tem as jabuticabeiras velhas que vão morrendo e tem umas que vão nascendo?

Tem, o senhor viu ali que tem aquelas pequenas que daqui mais uns anos, eu não sei se vou ver, porque de repente eu já…

 

Elas vão se renovando?

Vão, vão renovando e, que nem eu falei pro senhor, eu fiz as mudas e já plantei ali, até ali na frente tem muda. Eu planto, pego as frutas assim e faço e ponho ali, depois eu vou plantando aqui pro meio.

 

Ah, o senhor planta também. Mas tem muita aqui que nasceu por conta?

A maioria, isso aqui é só nativa, não tem nada plantado, que tá produzindo, dessas aí que o senhor viu.

 

Onde nós estamos tem grama, o gado pasta?

É, tem essas gramas, eu tenho gado aí, mas eu quero fechar um pedaço aqui assim, vou fechar aí e vou tirar um pouco o gado de dentro, senão o gado judia muito dos pés mais pequenos.

 

Aqui é um lugar alto, faz muito frio no inverno?

Só quando dá tipo aquelas garoas, que ameaça a querer dar uma nevezinha e daí dá, senão não. Pra gear aqui tem que ser muito grande a geada pra gente ver, é alto. Pelo que um cara me falou um dia, um agrimensor, parece que dá 900 de altitude.

 

Que riqueza o senhor tem aqui. Se fosse pra vender, o senhor ia pedir mais por causa dessa área?

Mas nem tenho interesse de vender (risos). A não ser o dia que eu morrer e meus filhos vendam, senão não.

 

O senhor vai deixar pros seus filhos?

A ideia é essa, deixar pra eles.

 

N.R. A indicação para esta reportagem foi enviada, por e-mail, por Antônio de Jesus, de Campo Grande (MS), após ele ter lido reportagem sobre o corte de uma jabuticabeira centenária em Seção Jacaré, Francisco Beltrão (edição do JdeB de 19.2.15).

 

 

Ao lado da cerca, um marco da divisa entre Paraná e Santa Catarina e entre a terra de 
Itacir com, segundo ele, a de um médico de Clevelândia, que também tem jabuticabeiras.

 

 

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