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Francisco Beltrão
sexta-feira, 06 de junho de 2025

Edição 8.220

06/06/2025

Agricultor que encontrou petróleo aguarda solução para sua propriedade

Em 2012, seu Ervino descobriu petróleo na propriedade, mas com o atraso de um encaminhamento para a situação, a única coisa que tem para mostrar é água engraxada e feridas causadas pela contaminação.

 

Seu Ervino carrega as feridas causadas por muitos anos de uso da água contaminada.
Foto: Rubens Anater/JdeB

 

Segunda-feira, os vereadores de Itapejara D’Oeste devem se reunir para votar a “lei do fracking”. O projeto de lei é semelhante a muitos que vêm sendo aprovados nas câmaras de vereadores da região, para proibir a extração de gás de xisto do subsolo através do método de fraturamento hidráulico – um método considerado altamente ariscado para o meio-ambiente.
No entanto, a aprovação do projeto de lei em Itapejara encara uma situação complexa. Em 2012, seu Ervino Antunes Maciel, morador da Linha Luiz Costa Gramadinho, descobriu petróleo em sua propriedade e não sabe como a nova lei pode afetar sua situação. 

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Petróleo em Itapejara
Seu Ervino, que hoje tem 83 anos, vive em Itapejara há quase três décadas e há um bom tempo vinha sofrendo com uma característica estranha na água de seu pequeno sítio, que parece engraxada. Cansado de sofrer com esse problema e crente de que poderia estar vivendo em uma mina de “ouro negro”, seu Ervino – com ajuda da família – encaminhou uma amostra de lama da propriedade para análise e confirmou suas suspeitas: havia petróleo no subsolo de sua propriedade. A análise não indicou quantidades ou possibilidade de comercialização, mas seu Ervino começou a sonhar nas possibilidades – para ele, era um “presente de Deus”.
Ele diz que não é “dinheirista”, mas que nasceu em família pobre – “me criei que nem espiga de milho, rolando pelo chão” – e que com o dinheiro do petróleo poderia ajudar a si mesmo, à família e também o povo de Itapejara, um município que ele diz gostar muito. “Era algo que ia deixar todos nós bem”, considera.
Mas desde que descobriu o óleo, a única coisa que seu Ervino traz dessa possível riqueza de sua propriedade é o ônus. Exposto por anos à água contaminada, o agricultor tem diversos problemas de saúde, alguns expostos como feridas no rosto, nas mãos, nos braços e pelo corpo todo – a família conta que as feridas já foram diagnosticadas como câncer de pele e estão lentamente fazendo cirurgias para tratamento, mas as cirurgias são muito caras e, quando feitas pelo SUS, demoram para ser liberadas.
Além disso, a água contaminada prejudica toda a produção agrícola. A família possuía vacas na propriedade, mas quando o óleo começou a subir à superfície os animais começaram a morrer, ou sofrer outros problemas como dificuldade de reprodução ou de mobilidade. Hoje uma das filhas que vive com seu Ervino, Neusa, diz que precisa até trabalhar como diarista na cidade para ajudar a manter a casa.
Depois de comprovada a contaminação, seu Ervino e família pararam de utilizar a água da propriedade. Com isso, por um longo período, dependeram da água da chuva para várias atividades. Hoje recebem água da nascente de um vizinho, mas o limite é de 500 litros por dia, uma quantidade pequena para uma propriedade rural.
Além disso, para poder explorar o petróleo é um processo demorado, que leva anos até confirmar a possibilidade de exploração e a licitação da área. Além disso, fica a dúvida de como a nova lei pode afetar esse processo, já que a exploração petrolífera também pode causar problemas ambientais.

 

“Uma luz no túnel”

A família de seu Ervino vê a nova lei que proíbe o fracking como um motivo para a sociedade e as autoridades voltarem a olhar para sua situação. “A gente concorda com essa lei, nós sabemos que é importante, porque a extração pode fazer mal à saúde e ao meio-ambiente. Concordamos com tudo mesmo”, afirma Adilce Misturini, outra das filhas.
Para ela, essa lei é uma coisa boa para o município e também uma possibilidade de que os vereadores finalmente vão olhar pela propriedade do pai. “É uma luz no túnel. Queremos que eles aprovem essa lei, mas também que cuidem da situação aqui junto, porque esse óleo vazando, contaminando a água é ruim para a família que vive aqui e também para o meio ambiente, porque a cada chuva essa contaminação vai para as nascentes, vai para os rios”.
A família diz que ainda sonha com a possibilidade do lucro do petróleo, mas que o que mais quer é alguma solução para se livrar do sofrimento que causado pela contaminação.

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