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Francisco Beltrão
sábado, 31 de maio de 2025

Edição 8.216

31/05/2025

Aos 87 anos Murilo de Jesus Carneiro tem boa saúde, come mel e toma vinho e sorvete todos os dias

Ele foi duas vezes vice-prefeito e uma vez vereador de Marmeleiro. E teve farmácia desde 1954.

Seu Murilo Carneiro já presenteou os filhos, parentes e amigos com as peças que aprendeu a produzir ainda no tempo que era protocolo da Cango em Francisco Beltrão.

Murilo de Jesus Carneiro foi duas vezes vice-prefeito de Marmeleiro (na gestão do prefeito Telmo Otávio Müller, de 1966 a 1969, e do prefeito Herbert Anton Schiffl, de 1977 a 1982). Entre essas duas gestões, ele também foi vereador, de 1973 a 1976.
Ele reside em Marmeleiro desde o tempo de distrito. Estabeleceu-se em 1954, com uma farmácia, ou…. Depois ele fez curso de farmacêutico e foi nessa atividade que mais se dedicou, sendo inclusive seguido pelo filho Ismael Carneiro Neto, o Lito, que é farmacêutico-bioquímico.
Do seu tempo de protocolo da Cango, no início dos anos 50, ele falou para o suplemento do Jornal de Beltrão do último dia 14 de novembro. Nesta segunda parte de sua entrevista, ele fala mais de Marmeleiro, onde continua residindo, aos 87 anos completados dia 6 de agosto.

Dizem que o senhor era bom no futebol.
Eu joguei primeiro no time do União da Vitória. Eu era ponta esquerda. Joguei bastantinho. Depois baixei pra futebol de salão. Eu sou fundador da associação de jogadores de Marmeleiro, da Saamar também, e é interessante, nós fizemos a Saamar e tinha por finalidade promover para as crianças, não só de sócios, mas pra aqueles que ficavam. Nós tínhamos uma mesa de sinuca bem grande que foi doada. Aí praticava os esportes quem gostava, nos reuníamos ali, e aí fizemos uma piscina, o cara que limpava a piscina, até me encontrei com a esposa dele hoje. E o que é que acontecia? As crianças ficavam olhando, e eu ficava com dó deles, meninos que não tinham nada na vida. Um dia eu abri pra eles se divertir. Aí trabalhou comigo o doutor Nelson, o Ademar Bandeira, esse pessoal mais antigo trabalhamos plantando a grama do local, pra deixar bonito e fizemos uma piscina.

A Saamar é de 1975. O senhor foi fundador da Saamar?
Sim. Da Saamar e da Associação esportiva brasileira também, e da Associação Atlética da Cango.

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O senhor chegou a ser convidado para jogar no Flamengo?
Sim. Eu fui fazer um teste, se eu não me engano em Paranavaí, a alimentação era tudo diferente, o calor era diferente da região sul, mas meus pais não deixaram, naquele tempo jogador, pros meus pais, era porque não queria fazer nada.

Os pais que não permitiram, e o senhor estava com vontade de ir?
Eu não tinha muita ideia. Na verdade, eu tinha preocupação com a minha formação, ser alguém, se formar. Eu estava estudando, eu me formei em Farmácia.

Mas naquele tempo de jogador o senhor fazia o que? Quando foi cogitado de ir pro Flamengo?
Ah, eu tinha que ir pro Rio de Janeiro, eu tinha uma tia lá, daí eu não me lembro, eu fui atrás da rádio, da nossa rádio que depois acabou ficando Pato Branco, a legalização da rádio, era Rádio Colmeia. Nós tínhamos uma rádio aqui, o pessoal atendeu ao chamado de ATM, quando nós entrava as outras se apagavam.

Era aquela lá que o dr. Rubens também era sócio?
Isso. Eu na verdade não era sócio, eu era o que fazia o trabalho, eles pagavam a viagem e tal, mas sempre fui amigo do dr. Rubens, ele foi testemunha do meu casamento, se dava muito bem com a dona Alvina, minha sogra, então eu servia os dois lados, e como eu morava aqui não tinha problema. Na época de turbulência política, dr. Rubens, Walter, mas afinal de contas passou, né.

Como que o senhor entrou na política aqui de Marmeleiro?
Eu tive uma época de piazotão novo, resolvemos entrar na política pra eleger só juventude, pra ver se era possível eleger alguém. Nós éramos em 18 jovens, nos reunimos e lançamos a candidatura do… não me lembro quem da época, apareceu 17 votos e a pessoa que nos traiu era o administrador.

Eram 18 que deviam votar num candidato só?
Isso. Aí apareceram 17 votos. Era candidato a vereador, não lembro quem era o candidato. Coisa de jovem, coisa de jovem.

Como foi que convidaram o senhor a ser vice prefeito, do candidato Telmo?
Nós éramos sócios. Nós montamos uma ferragem aqui, naquele tempo não tinha nada ainda, nós montamos a ferragem ali aonde é a farmácia. Nós sempre estivemos ligados, muitas vezes em posições políticas diferentes, mas amizade sempre.

Gastou muito naquela campanha?
(Risos) Uma coisa que tem que saber, quando dava muita chuvarada, nós tínhamos ali naquela ponte e não existia ponte, o rio levou e aquela coisa toda. E nós tínhamos que seguir outro roteiro ali. Então o Herbert, que era prefeito, se incompatibilizou com o Prosdócimo, na época era do DER, que chama, e aí ficou brabo. Enfim, ele se desentendeu com um dos nossos e passou a Prefeitura pra mim. Eu era muito amigo do pessoal do Prosdócimo, e ele me trouxe a atual ponte que vocês passam ali. Ele trouxe ela feita já.

E a campanha que teve disputa, como foi?
Na verdade, eu não posso te adiantar nada, eu só lembro que eu acompanhei. Nós nos desentendemos e só acompanhamos, coisas de jovens. E o Herbert que foi eleito, como eu te expliquei, ele teve problema com um dos nossos, então passou a Prefeitura pra mim e eu subi. Eu fique seis meses.

O que o senhor lembra do tempo de vereador?
Na época não se ganhava nada como vereador, hoje se ganha, né. Nós nos uníamos, procurava saber o que o prefeito estava fazendo, auxiliá-lo no que precisasse, oferecendo moções e tal, dependia da amizade, do ambiente da época. Mas nós procuramos com seriedade absoluta, e concluímos nossa missão como vereadores que é fiscalizar os atos do executivo.

Tinha muito pronunciamento na Câmara?
Ah, lá de vez em quando saía uns debatezinhos.

Dizem que o senhor era bom de palanque, como aprendeu a fazer discurso?
Não sei, às vezes eu tenho facilidade pra isso, não sei se é meu grau de cultura, mas eu sempre que podia… Nós tivemos alguns atritos em época de política, não sei se você se lembra que nós tivemos que pedir segurança pra poder fazer o nosso comício. Era bem mais acirrado. Às vezes a gente ia começar o comício, daí os adversários vinham fazer arruaça e soltavam foguete, e era assim mesmo, por uma função que vereador não ganhava nada. Mas era assim, paixão política, digamos assim, e assim nós levamos a vida.

Como é aquela história que quebraram panela?
Esse negócio da panela, tinha um grupo que dominava, e nós os apelidamos de panela. Eles se elegiam e penduravam uma panela pra tirar sarro.

Aí vocês quebraram a panela?
Não (risos). Mas que a panela existiu, existiu.

Tinha Arena I e Arena II. Qual era a sua Arena?
Da mais fraca, a dois.

O senhor tem acompanhado a Câmara e a Prefeitura?
Não. Os atuais eu não tenho conversado tanto. Mas é gente conhecida também.

E sobre a proximidade de Marmeleiro com Francisco Beltrão, o senhor acha que é bom ou ruim?
Eu acho ótimo. Tudo que traz desenvolvimento, não precisa ter rivalidade, precisa ter compreensão e amizade, afinal de contas moramos na mesma região, não é isso? Esse é o meu pensamento.

O senhor tem muitas amizades em Beltrão também?
Sim, tenho parentes e amigos.

O que o senhor diz sobre um contorno pra Marmeleiro e não precisar mais passar carros pelo meio da cidade?
Se for pra desviar um trânsito pesado, que precisa passar com mais segurança, eu acho melhor para nós pedestres e carros pequenos, é bem melhor.

Vamos falar um pouco da sua família. Como foi que o senhor conheceu a dona Eva?
Eu conheci a dona Eva trabalhando no Correio, de Beltrão. Ela trabalhava no correio e eu era funcionário da Cango, então as correspondências, os administradores pediam pra gente pegar e assim foi, até que nasceu o amor.

Aí o senhor ia todo dia no correio?
Não saía mais de lá. Eu pegava correspondência da Cango.

Namoraram muito tempo?
Não, quando resolvi casar foi bem rápido. Casamos em Beltrão, com o Frei Deodato. O Frei Deodato eu conheci ele da seguinte forma: eu cheguei e ele desceu do cavalo, “Frei Deodato, eu quero me confessar”. Aí ele já abriu o negócio lá e confessei ali mesmo.

Ali na rua?
É, na rua mesmo. Em pé. O Frei Deodato era uma figurinha, naqueles tempos a gente tinha um pouco de liberdade com ele. Mas na verdade assim, na vida se você é um cara bom, você tem compromisso também com a sua sociedade, estou falando agora no geral, você se sente feliz num bate-papo que nem esse ou em qualquer outra reunião que te chamam, e eu acho importante, se for possível, levar a imagem que nós aqui com a variedade de raças que temos, somos felizes, não guardamos rancor de ninguém, não queremos o mal pra ninguém, e é isso que eu avalio na pessoa.
O que o senhor diz de Marmeleiro, hoje? Tá bom de morar aqui?
Eu vim pra cá em 54, acompanhei o desenvolvimento. E eu fiz uma amizade, graças a Deus. Há exceções porque você não agrada a todos, mas me sinto muito bem morando aqui, muito acolhido, muito bem tratado. Eu tenho uma simpatia e uma gratidão muito grande pelo povo daqui.

O senhor tem muito conhecimento, com todos esses anos de farmácia.
Sim. Farmácia e nós temos laboratório, aqui na frente, fizemos todos os tipos de exame.

E o capricho de fazer esses artesanatos, faz muito tempo que o senhor faz isso? Aprendeu com quem?
Pois é, naquele tempo tinha as chamadas cancelas. Quando chovia se fechavam. E eu vi um cara fazendo um macaquinho com canivete, tudo raspadinho. Só que ele fazia de um tipo só, depois eu aprendi e realizei outro também, eu acabei aprendendo com ele pra passar o tempo, o movimento não era grande e tal, aí nós ficávamos conversando.

Foi do tempo da Cango que o senhor aprendeu isso?
É. Ele se chamava Gerino Vieira, ele era fiscal, trabalhou muito tempo aqui, também não sei se é vivo ainda. Eu só sei que foi assim que eu comecei a desenvolver.

Pode ser com qualquer tipo de madeira?
Essa aqui é uma madeira, Cedro, é mais fácil de cortar.

E por que o nome de Marmeleiro?
Por causa da árvore, não da fruta. Madeira de lei, que nós chamava.

O senhor já conhecia a árvore de Marmeleiro?
Conhecia. Eu fui contador de Marmeleiro, só que minha sede era em Santo Antônio. Eu exportava por Foz de Iguaçu, pinho e madeiras de lei.

E Marmeleiro, exportava também?
Não. É pouca árvore dessas que dá no mato.

É madeira boa pra que?
Eu nunca derrubei uma árvore de Marmeleiro. Era que nem pinho, quando eu fui pra Beltrão, teve um administrador que disse “Murilo, requere esse negócio pra você”. Eu trabalhava pra Cango, mas não era funcionário da Cango, prestava meu serviço já mas não era funcionário. Ele queria que eu ficasse ali, tinha muito pinho ali aonde hoje é o Morro do Calvário. O interessante é que eles chamavam esse povo, o francês veio como convidado da Cango, pra ver se a gente aprendia com eles alguma coisa, junto veio o belga também e, na verdade, eles chegavam e não sabiam nem derrubar uma árvore.

Vinham aprender em vez de ensinar!
É verdade

 

O senhor aos 87 anos, boa saúde, toma seu vinho todo dia?
Todo dia. Me alimento muito com mel, meu café, essas coisas, mel e pãozinho de queijo. O vinho eu tomo nas refeições, ao meio-dia e à noite.

Que vinho que o senhor toma?
Tinto suave.

E o sorvete também é todo dia?
Sim, todo dia.

O senhor não tem problema de diabete?
Não tenho. Não tenho problema nenhum, não tenho dor. Tenho só um problema de alergia, que eu já tratei no médico.

Tudo coisa boa, vinho, sorvete e mel todo dia!
Todos os dias.

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