A proposta foi repercutida amplamente por sites e jornais no dia de ontem.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sugeriu, em entrevista à Rádio Jovem Pan, de São Paulo, nesta semana, que gostaria de realizar um jejum religioso contra o coronavírus. A proposta foi amplamente divulgada por jornais e sites. A convocação do presidente pode ocorrer amanhã.
“Sou católico e minha esposa, evangélica. É um pedido dessas pessoas. Estou pedindo um dia de jejum para quem tem fé. Então, a gente vai, brevemente, com os pastores, padres e religiosos anunciar. Pedir um dia de jejum para todo o povo brasileiro, em nome, obviamente, de que o Brasil fique livre desse mal o mais rápido possível”.
Ao final da entrevista, Bolsonaro sugeriu que a população deveria manter a calma: “Paz, calma e tranquilidade para quem tem fé. Tivemos outras gripes no passado. Vencemos, sem esse alarmismo todo”, declarou.
O juiz Marcelo Bretas, responsável por julgar as ações da Lava Jato no Rio de Janeiro, anunciou que fará jejum amanhã, 5, contra a pandemia do novo coronavírus.
“Farei parte desta corrente. E que o nome do Senhor seja glorificado! #jejumnacional #JejumPeloBrasil”, escreveu Bretas pelo Twitter, ao compartilhar banner com imagem de Jair Bolsonaro sobre o assunto.
Pastor e bispo divergem sobre proposta do presidente Jair Bolsonaro
Líderes religiosos consultados pelo Jornal de Beltrão se posicionaram sobre a proposta do presidente Bolsonaro. Publicamos parte das posições que foram enviadas à redação, pelo pastor Fernando Alberto Araújo, da Comunidade Batista Betel de Francisco Beltrão, e de dom Edgar Ertl, bispo da Diocese de Palmas-Francisco Beltrão. Ambos divergem da proposta do presidente para um dia de jejum e oração.
Pastor Fernando Alberto de Araújo, Comunidade Batista Betel: “Prefeitos, governadores e também presidentes expressaram sua fé apoiando pública e presencialmente iniciativas eclesiásticas, especialmente as da Igreja Católica, por ser a expressão da maioria nos anos passados. Questionar a atitude do presidente em convocar um tempo de oração e jejum, para aqueles que são cristãos, direcionado a evangélicos e católicos, invocando o argumento da laicidade, é, ao meu ver, um equívoco.
O cristão e cidadão Bolsonaro que o faz é também presidente, e não há nada que, implícita ou explicitamente, o impeça de exercer ou estimular atos de fé. Não há no código de leis algo que diga que o Estado Laico estabeleça-se laicista ou ateu, e nem que o presidente deva ser tal. O cristão Bolsonaro, que é presidente de uma nação cristã em sua maioria, faz uma convocação para que os cristãos, como ele, realizem um ato de fé e amor direcionado a todos, em favor de todos, inclusive os não cristãos.
Não vejo necessidade de polêmica numa ação que é abençoadora e só estimula boas atitudes de fé. Concluo dizendo que aquilo que soa estranho no Brasil é muito comum em nações cristãs, como os Estados Unidos, por exemplo, onde o Dia de Ação de Graças se estabelece no calendário nacional.”
Dom Edgar Ertl, bispo da Diocese de Palmas-Francisco Beltrão: “Até a presente, o dia 3 de abril, não recebi um comunicado oficial da parte da Secretária Executiva da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, tampouco do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs, sobre um dia de “Jejum Religioso Nacional”, na próxima semana, proposto pelo senhor Jair Messias Bolsonaro, presidente do Brasil, conforme entrevista concedida para uma emissora de rádio de São Paulo.
A Igreja Católica terá o seu dia de Jejum e Abstinência na próxima Sexta-Feira Santa, dia 10 de abril, para a vivência litúrgica da Paixão do Senhor Jesus, como tem feito todos os anos e, neste, será todo especial, porque na Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo vamos nos associar a tantos irmãos e irmãs que vivem na sua própria história a paixão e morte, por conta da epidemia mundial do Coronavírus. E vamos celebrar na fé profunda todos os sofrimentos do mundo, do Brasil, do nosso Estado do Paraná e do território da Diocese de Palmas-Francisco Beltrão, com uma fé viva no poder redentor da Paixão de Cristo Jesus, hoje!
Minha opinião sobre esta proposta do “Jejum Espiritual” pelo senhor presidente da República é uma falácia. É uma fuga irracional da verdadeira radiografia brasileira, ainda desconhecida por ele. Bolsonaro vem sendo pressionado pela “bancada evangélica”, em especial por alguns pastores/empresários, que além do tal “Jejum Religioso”, são contrários ao isolamento social e outras medidas necessárias ao momento hodierno, como dizendo que a prática religiosa faz parte dos “serviços essenciais” e as igrejas deveriam permanecer abertas para cultos religiosos. O verdadeiro jejum que o senhor Bolsonaro devia fazer é quanto à sua verborreia descabida e desproporcional à inteligência humana e racional.”