Ele foi professor, secretário municipal de Educação, escreveu um livro, foi vereador e virou palestrante.
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Quase quinze anos depois de sua última palestra “De Bem com a Vida”, Antonio Juscelino Batista subiu de novo a um palco. Foi no dia 22 de novembro, no Centro de Eventos de Salgado Filho, onde Antonio falou a um grupo de mais de 100 pessoas e emocionou cada uma delas. Ele próprio emocionado, falou sem preparar discurso. Tirou suas palavras do fundo da alma e, sem se deixar atrapalhar pela voz prejudicada pelas sequelas de um câncer de garganta, arrancou lágrimas de quem o ouvia. Falou de sua trajetória, tratou as terríveis dificuldades da doença como percalços passados e, com o sorriso fácil, a inteligência, a vivacidade e o carisma que o tornaram tão amado em sua terra, coroou a solenidade em que o município de Salgado Filho o condecorou com o – mais do que merecido – título de cidadão honorário Salgadense.
Afinal, apesar de ser um dos mais proeminentes salgadenses da geração, Antonio não nasceu em Salgado Filho. Quarto fruto do casamento de Eleni Menezes e João Maria Batista, nasceu em Cascavel, no Paraná. Morou também no Rio Grande do Sul e, enquanto seminarista, em Curitiba, Marcelino Ramos e Francisco Beltrão. Foi em Beltrão, cursando magistério, que conheceu Terezinha Polla, se apaixonou, deixou o sacerdócio e foi em direção ao matrimônio. Casado com a Tere – que se tornou sua companheira para a vida inteira –, passou no concurso para professor estadual e finalmente foi parar em Salgado Filho, em 1985.
Ali, Antonio e Tere constituíram família, com as três filhas, Vanessa, Fabiana e Rafaela, e hoje com os genros Nilmar, Marcos e Guilherme, e as netas, Heloísa e Laura. Também construíram sua casa – uma morada às margens do rio Tamanduazinho, repleta de plantas e compartilhada amorosamente com gatos, abelhas e beija-flores. Também foi em Salgado Filho que Antonio deixou suas maiores marcas. Foi professor, secretário municipal de Educação, escreveu um livro sobre o município, foi vereador e coroou sua experiência profissional virando palestrante, falando para jovens de todo o Estado sobre a beleza de uma vida saudável e longe das drogas, no circuito de palestras “De Bem com a Vida”. Antonio ainda teve vida muito ativa na comunidade, na igreja católica, grupo de jovens e como presidente da Apae salgadense. Tudo isso vivendo e passando adiante princípios de honestidade, simplicidade, gentileza, bondade e paz, além de uma grande paixão por aventuras.
Só com isso, Antonio já seria exemplo de vida, mas a grandeza de uma pessoa fica ainda mais visível na adversidade. Em 2005, o professor desenvolveu um câncer severo na garganta e a fé, a energia, a coragem e os princípios pelos quais viveu foram postos à prova. Repleto de força de vontade e apoiado pela família e pela comunidade inteira que cativou, Antonio venceu a primeira grande batalha contra a doença. Logo depois, foi a vez da Tere ser acometida pelo câncer. A família enfrentou de cabeça erguida e venceu mais uma vez. A doença foi terrível, mas a Tere superou com menos complicações do que Antonio. O câncer dele, por sua vez, voltou e as sequelas da doença o enfraqueceram, o abalaram e colocaram sua vida em risco diversas vezes. Mas ele não estava disposto a ser derrubado pela doença. Mesmo nos momentos mais difíceis, Antonio perseverou. A morte bateu à porta e o professor chegou a receber a unção dos enfermos duas vezes, mas ele estava decidido a manter-se vivo. Sua própria força interior e a corrente de amor e apoio das pessoas que ele conquistou durante sua vida garantiram isso.
Hoje, com 57 anos, Antonio está aposentado por tempo de serviço. Vive cuidando de seu jardim, suas abelhas e gatos, inventando peças de marcenaria que embelezam sua casa, pedalando sua bicicleta, ensinando amor e simplicidade para suas netas e irradiando uma alegria de viver sem tamanho – pessoalmente ou via Facebook, rede que ele enche de coisas boas, relatos do seu jardim, previsão do tempo, causos divertidos, boas lembranças e tantas outras coisas simples, mas profundamente belas. O câncer, que tanto enfraqueceu seu corpo, parece ter tornado seu espírito, que já era forte, ainda mais impressionante.
Por isso mesmo, a solenidade de entrega do título de cidadão honorário – homenagem proposta pelos vereadores Doelio da Silva Rosa (PSC) E Gilberto Casa (PSDB) e aprovada com unanimidade pela Câmara Legislativa – marcou cada um dos presentes. Os vereadores proponentes, o presidente da Câmara, Elias Klein (PDT), o secretário de Educação, Eloir (Chico) Wronski, a ministra da Eucaristia, Judite Gonçalves, e o prefeito Helton Pfeifer (PSDB) fizeram uso da palavra e cada um lembrou um pouco do que Antonio fez por Salgado Filho. Sua esposa, Terezinha, também foi ao púlpito homenagea-lo, e marcou sua fala dizendo que todos os presentes conheciam Antonio pela figura pública, mas que ela o conhecia no dia a dia e que pode dar o testemunho da grandeza desse homem, a quem a adversidade só fez crescer – ou, nas palavras da própria Tere: um homem que foi lapidado pela doença e que saiu dela uma pessoa ainda melhor.
As filhas e os colegas de profissão, Margarete Annater Bauer, Adaltro Bruschi, Noeli Valau Weippert, Cristiane Krause, Eliziane de Castro também deram seu depoimento, em um vídeo preparado para a ocasião, e até o mestre de cerimônias, Volmir Anater, salgadense e amigo de Antonio, deixou sua opinião de que “o mundo carece de mais Antonios”.
Mas o momento mais emocionante foi a fala do próprio Antonio. Mesmo com a voz afetada pela doença, seu discurso teve um poder que tocou todo mundo que estava ouvindo. Mais do que tudo, Antonio agradeceu. Com sua humildade característica, disse que é só um homem simples, que fez coisas simples, e que qualquer grandeza que ele tenha, é algo que recebeu das pessoas com quem conviveu. Nas suas palavras, ninguém nasce completamente humano – nossa humanidade vai sendo construída pelas pessoas com quem vivemos, e essas pessoas são as que fizeram ele ser quem é. Por isso, disse que deveria dividir a placa de homenagem que recebeu. Um pedaço bem grande para a Tere, sua companheira de vida. Outros pedaços para os pais, para a família, para os amigos e para todos aqueles que fizeram parte de sua caminhada. Antonio também falou das belezas da vida – tanto da que passou quanto da que tem pela frente. E ainda mais poderoso do que suas palavras, foi seu jeito de falar. A voz prejudicada não parecia frágil – era marca da força daquele homem, que com uma energia imensa conquistou a plateia. Enquanto falava, ele era como uma fortaleza inabalável. Mostrava um contraste emocionante entre sua energia quase sobrenatural e a paz, a simplicidade e a humildade com que fala. Essa harmonia de força e serenidade é a cara do Antonio e é a marca que ele continua deixando em cada um que o conhece.
Afinal, assim como Antonio foi construído pelas pessoas com quem conviveu, há um pouco de sua força e seus valores em cada um de seus muitos alunos e em cada pessoa que ele cativou. Há muito do Professor Antonio na cidade que ele ajudou a desenvolver. Por isso, mesmo antes de receber o título, Antonio já era um cidadão de honra de Salgado Filho.