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Francisco Beltrão
quarta-feira, 18 de junho de 2025

Edição 8.228

18/06/2025

Depois de 26 anos trabalhando no Interior de Renascença, Zenir Stival se dedica à Festa dos Colonos e Motoristas

Na época em que Renascença se tornou referência no plantio direto, Zenir desempenhou funções importantes na Prefeitura.

Joveci e Zenir Stival com uma das orquídeas.

Eles têm orquídeas dentro e fora de casa.

Há mais ou menos dez anos, Zenir Stival, 66, é um dos festeiros da Festa dos Colonos e Motoristas de Renascença. Mas durante 26 anos também desempenhou funções importantes na Prefeitura. Zenir pegou o tempo em que o município se tornou referência no plantio de soja, na década de 80, e muitas das inovações no setor agrícola chegaram aos produtores através dele e outros técnicos.
Zenir trabalhou no Sindicato dos Empregadores Rurais, no Departamento Municipal de Interior e na Secretaria de Agricultura, foi o primeiro inseminador do Programa de Inseminação Artificial (PIA) em Renascença e incentivou o uso da silagem na alimentação dos bovinos de leite.

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Hoje aposentado, Zenir faz outras atividades, como o cultivo de orquídeas, e aproveita mais a vida com a família — a esposa, Joveci, cabeleireira há 42 anos, e os filhos Maycon, que mora em Francisco Beltrão, e Mayla, que reside em Cascavel. Nesta entrevista, ele conta algumas de suas histórias, desde a chegada em Renascença, em 1978.

JdeB – O senhor lembra quem o convidou para ajudar na festa?
Zenir Stival – Ah, isso faz muito tempo, em torno de dez anos. Naquela época, lá só tinha uma casinha velha, um pavilhãozinho, e como a gente se dava muito, trabalhava no interior do município como funcionário público, fui convidado pelo pessoal, que na época era o senhor João Tedesco, o Nicaloski, o Ari Dalla Cort. A gente continuou com o mesmo interesse de ajudar essa comunidade, daí veio mais gente, o Valmor de Bona, o Armando Groff, o Kiko Antunes. 

Sempre gostei de colaborar, também trabalhei muito tempo na matriz como churrasqueiro e, como a gente era da carne, voltei lá pra baixo e continuei no setor da carne. As festas são boas, bem organizadas e a carne é sempre de primeira qualidade. O dinheiro arrecadado é sempre investido na comunidade, não se usa esse dinheiro pra outras coisas.
JdeB – O senhor trabalha só com o preparo do churrasco?
Zenir Stival – A gente fica o dia todo na preparação da carne, colocação de lenha nas fornalhas, tempera, é uma equipe e todo mundo dá sua colaboração pra que a festa tenha êxito. Na sexta à tarde e sábado a gente já deixa o pavilhão em ordem.

JdeB – Ajuda a vender os bloquinhos?
Zenir Stival – Sim, todo mundo. Pega os bloquinhos e sai no comércio vendendo. O ano passado a venda foi um pouco mais baixa devido às normas da igreja [Diocese], que é proibido venda de bebida. Mas este ano acho que o pessoal já acostumou e vamos ter uma festa muito boa.

JdeB – O senhor chegou aqui em 78. Foi a convite de alguma empresa?
Zenir Stival – Casei em Santa Catarina e fui transferido da Souza Cruz pra Ampere. Trabalhei um ano em Ampere, saí da Souza Cruz e fui trabalhar numa empresa de venda de insumos em Capanema. Daí meus cunhados tinham um comércio de produtos agrícolas e supermercado aqui e pediram pra que a gente viesse trabalhar. Naquela época era o único representante, fomos visitando o pessoal, conhecendo o interior e ficamos oito anos trabalhando com eles. Saí de lá e fui pro Sindicato dos Empregadores Rurais, fiquei um ano também e fui convidado pelo prefeito Mário Nardi, na época, pra trabalhar como chefe do setor de compras. Aí, quando surgiu o concurso público pra técnico agrícola, me inscrevi, passei e exerci a profissão. Fui designado pro setor de Interior e trabalhava na abertura de estradas, conservação de solo. Na época, os governos deram muito apoio pra isso, a Secretaria de Agricultura do Paraná investiu muito pesado na conservação de solo, a gente foi trabalhando no setor rodoviário. Acabei ficando até me aposentar.

JdeB – Você pegou uma fase em que Renascença era campeã regional de produção de soja.
Zenir Stival – Nessa época de 1980, Renascença foi considerada a capital do plantio direto do Sudoeste. Foi o município que mais investiu em plantio direto. Fizemos várias viagens com a Emater, com a Secretaria de Agricultura do município, visitamos outras regiões, como os Campos Gerais, em Ponta Grossa, e investimos pesado na conservação de solo e cobertura do solo. Nesse período em que estivemos na Prefeitura, foram feitos mais de 300 quilômetros de adequação de estradas. Foi feito conservação do solo em 90% do município. Infelizmente, hoje estamos tendo muitos problemas nas estradas, porque essa água tá correndo e tem muita erosão no solo.

JdeB – O pessoal está enfatizando a conservação de solo para manter a qualidade da terra.
Zenir Stival – Exatamente, temos uma produtividade aqui muito grande. Acho que é um dos maiores produtores de milho por hectare. No ano passado, teve produtor colhendo 600 sacas por alqueire. É uma produção fora do normal. Outra coisa que tem muito incentivo é leite e feijão. O leite caiu um pouco devido ao governo não dar muito incentivo, mas ainda é o que segura o pequeno agricultor lá no interior.

JdeB – Lembra quanto se produzia de soja por alqueire?
Zenir Stival – Em 1980, colhia-se 70 sacas por alqueire, as colheitadeiras também eram pequenas. Com a conservação de solo, com o investimento feito pela Prefeitura, começou a subir a produção e hoje se chega em torno de 200 sacas por hectare. As variedades que tinham antigamente eram de ciclos muito longos e com pouca produção. Hoje são variedades com genética melhorada e a produção tá muito boa.

JdeB – O senhor passou por várias gestões no Departamento de Interior, como foi?
Zenir Stival – Passei por oito ou dez prefeitos. Quando não tava na Secretaria de Agricultura, tava no Departamento de Interior e fizemos muita coisa pelo interior. Na época, teve um incentivo muito grande pelos aviários. A Sadia comandava aqui na região, o agricultor queria um aviário lá no fundo do interior e eles faziam. Depois foram diminuindo, fazendo mais perto do asfalto por causa do transporte. A bovinocultura também tinha muito, inclusive eu fui o primeiro inseminador do município, no tempo que foi lançado o Programa de Inseminação Artificial. Depois, em cada comunidade se colocou uma pessoa com treinamento pra que fizesse esse trabalho. Melhorou muito a genética também, naquela época se tirava quatro, cinco litros de leite por vaca, hoje tem propriedades que tiram em torno de 20 litros/dia. Depois foi surgindo a terraplanagem pra fazer estábulo, esterqueira foi feito bastante e aí comecei o incentivo da silagem, que não existia na época.

JdeB – O senhor se aposentou e agora faz outras atividades. Como é cultivar orquídeas?
Zenir Stival – É muito complicado, pelo menos uma vez por ano tem que fazer o transplante de um vaso pra outro, limpar as raízes, adubação, tem que ser num lugar abrigado, não pode pegar muito sol, nem muito frio, mas ela se adapta melhor no frio. Trabalhamos com poucas variedades porque essas que a gente compra no mercado, no primeiro ano ela dá bem, mas depois não se adapta à região. As orquídeas é um passatempo. A gente levanta, toma um chimarrão, faço minha caminhada de uma hora, já tive uns problemas de coração e o médico me receitou isso. À tarde jogo uma canastrinha num bar perto da Prefeitura, com os senhores lá, e assim vamos passando o tempo.
Colaborou Flávio Pedron

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