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Francisco Beltrão
sábado, 31 de maio de 2025

Edição 8.216

31/05/2025

Diretores de sindicatos afirmam: situação do caminhoneiro só piorou

Classe passa por um mau momento e existe risco de nova paralisação.

 

Janir Bottega, do Sinditac.

 

Por Rubens Anater
Pouco mais de um ano atrás, a classe dos caminhoneiros fez um levante tão grande no Brasil que praticamente parou o País. Foram rodovias fechadas de Norte a Sul, mercadorias ficaram incapazes de circular por dias e a economia sofreu um forte golpe. 
Com algumas promessas governamentais e a abertura de um canal de discussão, a greve dispersou, mas a sombra da paralisação dos caminhoneiros descontentes continuou pairando sobre o país durante o ano todo. E 2016 começou ainda nesse clima. 
“Provando que não está satisfeita com as conquistas de até agora, a classe já se mobiliza para uma nova paralisação”, afirma trecho de uma postagem no site “Blog do Caminhoneiro”, mostrando que a ameaça continua.
E Janir Bottega, presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Cargas de Francisco Beltrão (Sinditac/Sudoeste do Paraná), reforça: “Oficialmente, não sei nada de greve, mas a gente vê que há uma vontade muito grande de uma mobilização.”
Durante a greve de 2015, principalmente durante as manifestações que aconteceram em novembro, Bottega estava buscando apenas acordos e negociação com o governo, mas sem apoiar a greve. No entanto, hoje ele afirma que, mesmo com tudo que aconteceu, o governo fez pouco pela classe. Segundo ele, a promessa de dar uma carência de mais 12 meses para os financiamentos de caminhões – um dos maiores pedidos dos caminhoneiros, que sofrem com as dívidas – virou uma “possibilidade de carência”, na qual os bancos teriam livre-arbítrio para decidir se liberariam ou não este prazo estendido.
E esse é só um dos exemplos. Para Bottega, “a situação tá se agravando muitíssimo mais. Principalmente para os caminhoneiros autônomos (que tem caminhão próprio). Então, se tiver paralisação esse ano, vai ser ainda pior do que a do ano passado”.
Ele acrescenta que no Paraná a situação está ainda mais difícil. “No Estado temos as piores condições nas rodovias. Aqui ou se privatiza com valores astronômicos, do jeito que as empreiteiras quiserem, ou as rodovias não têm condições de rodar. Não tem ninguém no governo que pense no transporte. As duas maiores decepções para os caminhoneiros são os dois governos, o federal e o estadual.”

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Opinião dos empresários
Luiz Carlos D’Agostini, presidente do Sindicato das Empresas Transportadoras de Cargas do Sudoeste (Setcsupar), acrescenta que, até então, não se cogita uma greve. “Mas estamos negociando bastante”, pondera.
Para ele, o setor sempre passou por altos e baixos, e este momento é de uma crise nacional – hora do empresário diminuir custos. “O maior problema hoje é o embarcador, que se aproveita. O valor de venda do grão tá alta, mas o transporte, o frete, lá embaixo. Aumentou o soja e o frete ficou o mesmo valor”, comenta D’Agostini.
Ele ainda concorda com Bottega: se para as empresas e para os transportadores contratados a situação está ruim, “para o autônomo está ainda mais sofrido. Os impostos e os custos estão muito altos”.

Origem da crise e possíveis soluções
De acordo com Bottega, o problema dos caminhoneiros começou com o que ele chamou de “uma falsa oportunidade de crédito”. Segundo ele, até meados de 2014 a situação econômica estava equilibrada e o faturamento era razoável.
Então os caminhoneiros fizeram seus planejamentos, compraram equipamentos para melhorar a atividade e muitos adquiriram novos caminhões. “Mas aí deu tudo ao contrário”, afirma. O número de caminhões nas estradas aumentou, junto com os juros e os custos para continuar rodando, enquanto a demanda diminuiu e o preço do frete não subiu para equilibrar os gastos.
“E agora o endividamento está muito grande e só piora”, afirma Bottega. E, de fato, segundo a pesquisa do perfil dos caminhoneiros realizada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), 44,8% deles têm dívidas a vencer. Destes, 45,5% têm dívidas de valor superior a R$ 6 mil.
Assim, para Bottega, uma maneira de começar a solucionar o problema seria estabelecer uma tabela de piso do frete. “Não queremos tabelar o frete, só queremos ter um piso. Temos que ter um mínimo de valor do frete para pagar as despesas. E esse é o pior problema, o  governo trabalhou em favor das grandes potências e não quis dar esse piso.”
Ezidio Salmoria, presidente da Cooperativa de Transporte 14 de Dezembro (Coptrans), de Francisco Beltrão, acrescenta que é preciso ainda mais. “Na situação de hoje, não adianta aumentar o frete se o governo continuar aumentando insumos, principalmente do combustível.”
Ele opina que o que resolveria a situação para os caminhoneiros seria uma redução no valor do diesel. “Como que justifica que nos outros países o preço do barril de petróleo é um e aqui no Brasil é outro? O rombo da Petrobrás quem tá pagando é o transporte”, completa.
E a pesquisa da CNT, realizada com 1.066 caminhoneiros de todo o Brasil, reforça essa ideia. Uma parcela de 46,4% dos caminhoneiros indicaram como grande entrave da profissão o alto custo do combustível. Outros 40,1% apontaram o valor do frete que não cobre os custos. Já 37,6% apontaram assaltos e roubos como um dos problemas.

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