Mais de 60 alunos do município participam da oficina de circo.

Escola Oficina, que atende mais de 60 crianças.
Os irmãos Julio Cezar e Larissa Lang Rodrigues, de Marmeleiro, ainda são jovens. Ele tem 13 e ela, 14 anos. Os dois mal começaram a conhecer a vida, mas já encontraram uma grande paixão: as artes circenses.
A responsabilidade por incutir esse amor precoce é de uma oficina de artes circenses que o Departamento de Assistência Social de Marmeleiro resolveu promover na Escola Oficina, da rede municipal de ensino do município.
Essa oficina funciona há três anos e atende mais de 60 crianças marmeleirenses, entre alunos da Escola Oficina e de outras escolas do município que declaram, sem hesitar, que adoram a “brincadeira de circo”. Prova disso é a pequena Larissa, que do alto dos seus 11 anos garante: “Se depender de mim, eu continuo com isso pro resto da minha vida”.
Se a afirmação da Larissa não for prova suficiente, é só visitar a Escola Oficina em alguma terça ou quinta-feira, os dias em que a instituição promove as aulas de circo. É contagiante a alegria que transborda do grupo de crianças fazendo acrobacias, saltos, contorcionismo, slackline, pedalando um monociclo ou até penduradas em um tecido acrobático.
“Essa é a oficina que eles mais gostam, por ser dinâmica e trabalhar o corpo. Eles adoram”, declara a coordenadora da escola, Claudia Appelt. Segundo ela, a oficina funciona no contraturno, assim como as outras atividades da escola, que se intercalam durante a semana para tentar garantir um atendimento integral para os alunos.
Mas não é difícil aplicar artes circenses, que exigem preparo físico, equilíbrio e coordenação, para crianças que ainda estão em formação? Aparentemente não. Em meio a crianças pedalando um monociclo com um equilíbrio de fazer inveja para muito adulto, ou cheias de desenvoltura ao realizar acrobacias aéreas no tecido acrobático, Julio Cezar deixa claro: “Nem é difícil. É mais questão de você pegar o jeito e treinar bastante”.
E o cuidado do instrutor também é importante para diminuir essa dificuldade – e evitar que as crianças se machuquem. “O professor é muito legal, quando a gente precisa, ele ajuda, pra fazer os movimentos ele ajuda também, ele é bem bacana com a gente”, conta Larissa.
Além disso, de acordo com Claudia, encontrar esse professor foi decisivo para iniciar a oficina. “A ideia da oficina de artes circenses veio da iniciativa da diretora do Departamento de Assistência Social, Marga Suzana Viganó Felipe. Ela procurou por dois anos um professor que aplicasse essa oficina e, quando ela conseguiu, já trouxe pra cá.” E, pelo jeito, foi o cara certo.

“Depois de muito procurar, nós encontramos o Gerson”
Todo o projeto de levar uma oficina de artes circenses para o município nasceu de uma vontade da diretora Marga Suzana Vigano Felipe. “Eu falo que essa oficina é a menina dos meus olhos, porque é um sonho que eu tinha de fazer esse trabalho com as crianças, mas na nossa região é muito difícil encontrar um técnico que desenvolva a atividade”, revela.
Nessa dificuldade, Suzana passou quase dois anos, até que, “depois de muito procurar, nós encontramos o Gerson, ele veio para Marmeleiro e aceitou esse desafio”. Isso foi há três anos e, desde então, Gerson Pereira da Rocha, natural de Toledo, está morando no Sudoeste e trabalha com uma equipe de quatro instrutores em oficinas de artes circenses em Marmeleiro, Francisco Beltrão, Verê e Renascença. “Mas Marmeleiro é um destaque, até mesmo pelo apoio, que a Prefeitura dá um apoio muito grande para a gente com materiais e equipamentos”, afirma o professor.
Ele ainda relata que as crianças demonstram um interesse grande na oficina. “A questão da arte circense é isso, que a gente consegue desde aquele aluno mais tímido até o aluno mais extrovertido”, garante.
Para a magia acontecer, é preciso um instrutor preparado, com vivência e competência para comandar uma turma de crianças. E Gerson tem a experiência certa para trabalhar com isso – e conseguir que os alunos se identifiquem com ele.
Assim como as crianças que estão aprendendo artes circenses em Marmeleiro, Gerson começou sua vida de circo em um projeto social, em Toledo. “Eu entrei no projeto com 7 anos de idade, em uma oficina que começou no ano de 92 e existe até hoje.”
Depois disso, o circo virou coisa séria. “O que era pra ser uma brincadeira, se tornou uma profissão. Eu nem imagino o que estaria fazendo ou o que eu ia ser hoje se não tivesse entrado no circo. E minha maior gratificação é ver a alegria desses alunos de um projeto social, como eu já estive, terminarem uma apresentação e virem me abraçar e os pais virem me agradecer, é uma coisa maravilhosa”, declara o instrutor.

O que a experiência vai deixar para as crianças
Suzana, do Departamento de Assistência Social, conta que é impressionante a liderança que o professor exerce com as crianças. “Quando ele começa a falar, elas ficam em silêncio, ficam concentradas, têm bastante disciplina.”
E com a disciplina outras coisas vêm somar na vida desses alunos. “A gente coloca tudo na oficina, a necessidade de ter respeito, educação, frequentar a escola e ter boas notas, tudo é desenvolvido dentro do projeto.”
O professor reforça: “A gente procura passar para os alunos o tripé do artista, que é dedicação, disciplina e humildade, esses três fatores são essenciais pra vida deles não só aqui, mas também fora daqui”.
Além disso, as artes circenses trabalham muito a formação física e a coordenação motora das crianças, evitando o sedentarismo e incentivando os exercícios desde cedo. “E eu também falo, com muita alegria, que hoje não tem nenhuma criança de rua em Marmeleiro, todas estão dentro de projetos na Escola Oficina”, completa a diretora do Departamento de Assistência Social.

Alunos da oficina se apresentam por toda a região

dos alunos é o tecido acrobático.
Para incrementar ainda mais o trabalho da oficina e alimentar a motivação dos alunos, a escola promove apresentações circenses em Marmeleiro e na região. “As apresentações são frequentes, a gente recebe convites para eventos do município ou de colégios e a gente acaba indo se apresentar. Quase todo mês tem alguma apresentação”, conta Claudia, coordenadora da Escola Oficina.
E o aluno Julio Cezar reforça: “A gente treina bastante pra ver se consegue entrar em uma apresentação, porque aí vale muito a pena”.
Além das apresentações na região, a partir de amanhã, alunos da oficina circense de Marmeleiro vão a Toledo, para um festival de circo social, com uma semana de oficinas e espetáculos, do dia 21 ao dia 25. “Um estímulo a mais para os nossos alunos participarem cada vez mais do projeto”, reforça o professor Gerson.