A Linha 15 de Novembro já chegou a ter 30 famílias, mas hoje não passa de 10. As razões para a diminuição no número de moradores vão desde o êxodo dos jovens, que buscam a cidade, ao aumento da violência no campo.

Uma série de fatores preocupa e desestabiliza os moradores da zona rural brasileira. A falta de escolas, postos de saúde e oportunidades claras para os mais jovens se firmarem no campo e a segurança fragilizada podem ser facilmente apontadas por aqueles que pertencem a essas regiões. Isso passa a inquietar quem já viveu 60, 70 anos, até porque as condições de saúde já não são mais as mesmas de antes. Sem um bom plano de saúde então… De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelados em 2015, o município de Renascença possui 6.984 habitantes, grande parte morando em comunidades. E o que se nota ano após ano é o encolhimento das comunidades.
A Linha 15 de Novembro convive com esse dilema. “Nossa comunidade chegou a ter até 30 famílias morando aqui. Hoje não passa de 10”, conta Armando Groff, presidente da Capela São Cristóvão. “Vejo que essa diminuição de comunidades é porque os jovens estão indo embora para a cidade estudar. No interior a juventude fica um pouco afastada da parte social”, entende o festeiro Edson Siliprandi.
Edson relata que muita gente do interior está preocupada com os seguidos episódios de violência ocorridos nos últimos anos na região Sudoeste. Faz 12 anos que ele e a família foram morar no perímetro urbano, deixando para trás o medo de serem assaltados novamente. “Saímos da comunidade onde morávamos porque fomos assaltados uma vez, o que já foi suficiente. Como que eu vou ficar tranquilo lá na lavoura, sendo que minha filha está sozinha dentro de casa?”, questiona o agricultor, que durante o dia continua trabalhando no campo.
Nem o pavilhão da Linha 15 escapou da ação dos vândalos. “Levam tábuas, fios de luz, recentemente roubaram um refrigerador e um fogão. A gente registrou queixa na delegacia, mas vai encontrar onde quem roubou?”, conta Valmir Antunes, vice-presidente da capela.
Por outro lado, Edson tem orgulho e diz que é um prazer ajudar na preparação da festa. “Quem trabalha para a igreja, não se arrepende nunca, faz muito bem.” Valmir de Bona, motorista do Posto de Saúde Central de Renascença, compartilha da opinião de Edson. “Penso que quando você é convidado para ajudar numa festa, você nunca pode dizer que não tem tempo, todo mundo tem tempo. É uma questão de querer e se organizar. Sempre digo para meus amigos que é melhor você trabalhar um dia para a comunidade do que tomar remédio para depressão. Quando não puder mais trabalhar, aí vai apenas pra comer churrasco”, brinca de Bona.
João Kuntzler mora na Linha 15 há 26 anos, com a esposa, Margarete Nicaloski Kuntzler. O filho optou por estudar – formou-se no colégio agrícola, mas um dia chegou em casa, depois de formado, e disse que não trabalharia no interior. “Teve uma época que fiquei doente e dei o aviário pra ele cuidar; ficou um pouco, mas foi embora pra cidade montar uma panificadora, onde está até hoje”, revela João, dando uma pausa no corte de lenha para a festa.
Jantar Italiano
E o pessoal da cidade também está se organizando para o tradicional Jantar Italiano, no Centro Paroquial de Renascença, em novembro, com a colaboração de moradores da Linha 15. São esperadas mais de mil pessoas para este evento. Vale ressaltar aí uma iniciativa no mínimo interessante: neste jantar, os organizadores procuram saber, através de pesquisa, se tudo ocorreu normalmente, se o jantar saiu como o esperado. “Colocamos nas mesas papéis para que as pessoas escrevam se tudo estava certinho. Depois nós recolhemos e nos reunimos para saber o resultado e corrigir erros nos anos sequentes”, explica Valmir de Bona.