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Francisco Beltrão
quarta-feira, 18 de junho de 2025

Edição 8.229

20/06/2025

Faleceu Dr. Chico, uma das personalidades mais marcantes de toda a história do Verê

Nascido e formado médico em Santa Maria (RS), desde 1974 estabelecido em Verê, Francisco Cioccari curou muita gente; aos 74 anos, perdeu a batalha da vida para um câncer de pâncreas. Verê está de luto oficial.

Prefeito Generozo de Oliveira, Luiz Fancisco Paggi e Francisco Cioccari (homenageados com a cidadania honorária de Verê) e o vereador Rovílio Renostro, dia 21 de dezembro de 1994.

Ele já havia superado um câncer de garganta; quando a doença voltou, no pâncreas, novamente Dr. Chico procurou todos os recursos, ajudado pela filha Joana que também é médica, mas acabou falecendo. Foi ontem, no Hospital Erasto Gaertner de Curitiba.

A informação da esposa, Néli, é que o corpo seria levado para o crematório do Tarumã à noite. Serão permitidas somente duas horas de velório, das 7h30 às 9h30, da manhã desta quarta-feira, seguindo-se a cremação. As cinzas serão levadas para Santa Maria (RS), sua terra natal. Dr. Chico, portanto, uma das personalidades mais marcantes de toda a história do município, não retornará mais nem para o cemitério de Verê.

Ontem, á tarde, a Prefeitura de Verê não abriu. Houve missa, na matriz São Joaquim, presidida pelo padre Ademir e organizada pelo pessoal da Secretaria Municipal de Saúde. O Executivo decretou luto oficial por três dias.

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Nunca quis sair do Verê
Ele recebeu convite, mais de uma vez, para ingressar na política. Tinha tanta confiança da comunidade que seu nome chegou a ser cogitado para candidato único a prefeito. Mas ele preferiu continuar dedicando-se sempre à medicina, através da Sociedade Hospitalar dos Trabalhadores de Verê, desde sua chegada, em 1974. Vinte anos após, em dezembro de 1994, ele recebeu o título de cidadão honorário de Verê, numa solenidade que deu o mesmo título ao primeiro prefeito do município, Luiz Francisco Paggi.

Em 19 de junho de 2010, numa entrevista publicada no Jornal de Beltrão, o jornalista Flávio Pedron escreveu: “Ele atende todas as pessoas com a sua simplicidade e simpatia. Além das consultas, também faz cirurgias. Teve convite para trabalhar em outra cidade, ficou uma semana fora e voltou. E nunca mais pensou em deixar o município. Casou com Néli Cagnini, com quem teve os filhos Joana Marcela (médica em Londrina) e Juliano Francisco (formado em Ciência da Computação, Porto Alegre)”.

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Veio pelo espírito de aventura
Na entrevista de 2010, ao ser perguntado sobre o motivo que o fez trocar Santa Maria pelo Verê (atendendo convite do amigo dentista Flávio Xavier Oliveira), Dr. Chico respondeu:
“Era completamente desconhecido pra mim, Verê. Eu tinha uma vaga lembrança de ter ouvido falar da Revolução de 57, dos Colonos, Posseiros e tal, e a única pequena lembrança que eu tinha dessa região, completamente desconhecida, foi mais um espírito de aventura, que eu já estava trabalhando, mas achei interessante, pela região e pelo que ele me falou, e foi mais pelo espírito de aventura mesmo, de vir para o interior do Paraná.”

Boas histórias
Com o Dr. Chico, morrem muitas boas histórias. Mas não todas. Muitas foram documentadas, como esta que o Flávio pôs na entrevista de 2010, sobre gravidez na adolescência.

“Eu me lembro que uma vez, vamos à história assim rapidinha, chegou uma senhora com a menina novinha – existe no interior muita gestação de adolescente – uma menina bem novinha, com uns 15 anos, grávida, vamo lá então, de quando foi? Aí que era a primeira consulta que ela fazia, “olha, doutor, eu não sei porque a gente não marcou, não fizemos nenhuma consulta”. Então vamos tentar medir a barriga, aquela medicina que a gente fazia pra chegar a uma idade aproximada. Mas daí perguntei a ela, “a senhora não tem nenhuma ideia mesmo?” Ela disse “olha, doutor, ela engravidou mais ou menos na época do feijão das águas”. Vou eu lá saber quando é que é esse feijão das águas. Eu levantei, abri a porta, e tinha bastante gente na sala de espera, esperando, vi um senhor mais idoso, “seo Joanin, o senhor podia me dizer qual é a época do feijão das águas?” Ele levantou e me olhou assim “doutor Chico, vou lhe dar um conselho, o senhor não plante o feijão das águas, porque o feijão das águas é bucha, não dá nada e o senhor vai perder dinheiro”. Não era isso que eu queria saber, mas não resolvi nada, voltei lá pra dentro, tudo na mesma com a senhora, digo “mas a senhora não tem uma outra data?” “Sim, agora me lembrei, ela fugiu no dia do baile do sábado de Aleluia”. Daí vou eu pra uma folhinha ver quando é que tinha sido o sábado de Aleluia e comparar com a medida de trena e mais dentro, o tamanho da barriga e tal, a gente mede e tal, sabe que cresce um tanto num mês e chegamos lá, mais ou menos aproximar que ela estaria com tantos meses de gravidez. Então essa é uma história que mostra bem que pré-natal não existia, que o paciente vinha geralmente em último caso, e mesmo a tecnologia armada da obstetrícia, era muito rudimentar, mas era o que existia. Mesmo na cidade grande não tinha o ultrassom essas coisas, são mais modernas, dos anos 80 pra frente.”

E a medicina no Sudoeste, como vê?
Dr. Francisco – É uma imposição da própria tecnologia médica, ela é possível desenvolver em centros maiores, centro de referência, e é o caso de Beltrão, que hoje está concentrando a medicina com tecnologias, com especialidades. No interior mesmo, como eu falei, é um papel importante, do pequeno hospital, de resolver, estar no lugar adequado pra resolver aquelas questões que ele deve resolver no seu local, e o que não for possível, o que demandar de especialidade de exames mais elaborados, especificados, será encaminhado. Importante, eu acho, esse desenvolvimento que ocorreu nessa nossa medicina, embora a torne bastante onerosa, cara, nem sempre o SUS tem recurso pra bancar, existem as filas de espera e tal, porque mesmo os planos de saúde, particular, também não bancam todo tipo de exame e a qualquer hora, muito dosado, a medicina é cara mesmo.

 

O médico João Cioccari

O médico João Francisco “Chico” Cioccari nasceu em 29 de agosto de 1946, em Santa Maria (RS), filho de Olmiro e Amábile Cioccari. Cursou o 1° e 2° graus no Colégio Marista, formou-se em Medicina pela Universidade Federal de Santa Maria.

Cioccari fez vários cursos, entre os quais o de extensão universitária em Roraima e especialização em medicina social, em Campinas. Residiu em Verê por 46 anos. No Hospital dos Trabalhadores Rurais, atendia a população através de diversos convênios e iniciou a implementação das Ações integradas de Saúde, com atendimentos médicos nas comunidades do interior.
Casado com Néli Cagnini Cioccari, deixou dois filhos: Joana Marcela, que é médica, e Juliano Francisco, analista de sistemas.

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