
Fotos: Ivo Pegoraro/JdeB
Nesta semana, esteve na região uma equipe da Defesa Civil para uma nova vistoria em áreas urbanas que têm apresentado deslizamentos em períodos de chuva. As cidades visitadas foram Francisco Beltrão, Manfrinópolis e Salgado Filho.
Antes de retornar a Curitiba, em entrevista ao Jornal de Beltrão, o geólogo Rogério Felipe disse que o problema é sério, exige estudos mais aprofundados e chama a atenção do Plano Diretor, que precisa atuar com o fim de impedir construções em locais de risco. Há dois problemas básicos: o corte de terra que provoca deslizamento e a falta de base nas construções sobre aterros. Ele falava isso ao lado de uma casa que está com várias rachaduras e condenada para moradia.
Em Francisco Beltrão, o secretário de Assuntos Estratégicos, ex-secretário de Urbanismo José Carlos Vieira, acompanhou as vistorias e, no final, disse ao Jornal de Beltrão que a visita da equipe da Defesa Civil ajudou para “fortalecer observações que já tínhamos sobre áreas de risco”. Assim que vier o relatório – acrescentou Vieira -, serão feitas notificações e tomadas algumas medidas mais agressivas. E mais: “É preciso ir mapeando essas áreas e criar mecanismos para evitar ocupações”.
Vieira ainda lembrou que não é a Prefeitura que está criando empecilhos para ocupar determinadas áreas solicitadas pela população, são recomendações técnicas que mostram ser inviáveis para moradias.
A seguir, a entrevista com o geólogo Rogério da Silva Felipe.

Ivo – O que o senhor viu e o que recomenda?
Rogério – Em Salgado Filho o problema é alagamento, inundação. Deslizamento quase não tem, que a rocha lá é dura, são lajes de rochas, que é diferente da rocha dos outros locais como Manfrinópolis. Praticamente o que tem que ser feito (em Salgado Filho) é dragagens, sempre de terreno, retirada das casas em volta da planície aluvial. Manfrinópolis é totalmente diferente. Além da inundação, enxurrada que acontece frequentemente, temos o solo muito colapsível, aquele que tem facilidade para que haja corridas de massa, deslizamento de encosta, rolamento de blocos. Nós andamos um pouco em volta, na parte rural, a terra parece que está muito fofa, e se vê muito rasgo, muitas trincas nas encostas que dá pra botar uma mão dentro, tudo indicando que, futuramente, vai deslizar, e são áreas enormes, muito grandes. Há um rastejo do solo também, totalizando quase todo o território deles.
Eu vejo um problema muito sério pra Manfrinópolis. O que eu vou sugerir a eles é fazer um mapeamento geológico-geodésico para indicar essas áreas de risco ou de suscetibilidade a deslizamentos. Esse mesmo estudo vai indicar também onde o perímetro urbano pode crescer, escapando de todas essas áreas tanto de deslizamento quanto de inundação. Eu acho que deveriam pedir um dinheiro grande ao Governo do Estado para que pudesse remover o máximo possível das famílias que moram principalmente muito próximo ao rio, mas teria que ter um planejamento e uma retirada de todo esse pessoal.
Tem que dragar o rio também?
O rio já não é mais minha especialidade, mas podia alinhar o rio, sem que ele fizesse muita coisa, aí vai sair uma grande parte de alagamento de lá, mas pode ocorrer alagamento mais na frente, desde que não seja habitado, aí não tem problema nenhum.
Além de ser bem dobrado, o solo de Manfrinópolis ele não é tão firme?
Não é tão firme quanto os outros porque a rocha que está embaixo também é muito fraca; é toda quebradiça e se quebra toda em partes muito pequenininhas, isso facilita com que a água da chuva penetre muito fácil. Essa água penetrando, vai diminuir a coesão dessas rochas, permitindo que esse material deslize pela encosta. Às vezes não desliza, mas ele racha e ajuda a outra chuva que vem futuramente a penetrar mais ainda nessa superfície sujeita a deslizamento. Nós chegamos a encontrar até quase 600 a 700 metros de corrida, aqui mais acima.
Então o problema de Manfrinópolis não é só na sede?
Não é só na sede. A maior parte da sede alaga, daí tem todos aqueles morros em volta que estão todos meio rachados, e na parte rural então nem se imagina o tanto de rachadura que tem no solo. Parece um solo podre, genericamente chamando.
Por que a diferença tão grande de um solo para outro?
É o tipo de rocha. Aquela rocha é mais porosa, se altera muito mais fácil.
Seria um solo mais novo do que o outro?
Não, tudo igual, só que não é bem o solo que vai causar o deslizamento e sim a rocha. A rocha que é o principal, que é muito fácil dela escorregar, e o solo vem junto.
E Francisco Beltrão?
Bom, em Francisco Beltrão o que nós pudemos perceber é mais corte, aterro. Muito corte, muito aterro nesses morros, aí há deslizamentos, há rompimento de muros, caídas de muros; às vezes até rocha pode deslizar em cima de casa e a gente vê um padrão construtivo às vezes não condizente com o local que foi feito corte, aterro. Também distância da casa com o corte, ou coloca-se a casa em cima de um aterro não bem feito. Tudo isso ajuda para que haja rachadura na casa, podendo a terra se romper, como pudemos ver nessa aqui do lado, é um terreno muito inclinado, quase 80 graus, mas eles não estão construindo com uma fundação boa.
Teria que ir até a rocha?
Provavelmente sim, mas acho que o poder econômico da pessoa não permitiu ou ela não tinha conhecimento, e isso tudo colabora. Aqui eu sugeri ao major do Corpo de Bombeiros que solicitasse, que se fizesse um mapeamento geológico geodésico aqui da região, tanto perímetro urbano como o rural, emendando com o rural de Manfrinópolis, ficaria toda uma região.
A rocha de Beltrão é diferente da de Manfrinópolis?
Não, tem parte que não, aqui também tem risco de deslizamento, mas a maioria que nós vimos aqui é o corte mesmo no barranco, tira aquele material e joga para fazer o aterro, daí esse aterro não é bem construído.
O que o poder público pode fazer para evitar esses problemas?
O plano diretor teria de controlar isso. Determinada declividade do terreno proibir que tenha corte e aterro, ou você vai sensibilizar cada vez mais uma encosta, além da casa, daí todo o morro pode deslizar.
Essa sua visita vai emitir um documento?
Na realidade, o prefeito de Manfrinópolis pediu para que nós viéssemos aqui, tanto Francisco Beltrão, Manfrinópolis e Salgado Filho, e agora nós vamos ter de emitir um relatório, aqui de alguns pontos que nós vimos lá e Manfrinópolis também, só que vai ser um relatório muito superficial. Nós estamos constatando que o problema é sério aqui, mas vai exigir um estudo mais aprofundado, que é esse mapeamento que a gente fala geológico e geodésico que é a base pra você fazer todo o desenvolvimento de uma cidade, dizer onde é área de risco e não deve ser habitada; áreas que podem habitar sem problema nenhum; áreas que podem fazer loteamento industriais; onde se pode fazer cemitério, que às vezes é muita dificuldade nessas regiões. Todo o tipo de uso e ocupação do solo pode ser indicado por esse levantamento, que seria a base de um plano diretor. Em cima disso se vão criar leis para esse uso e ocupação.
Isso é urgente?
Eu acho que sim.
Os problemas estão acontecendo.
Tá tudo acontecendo e cada vez mais, a população tá aumentando e tá vindo toda para as cidades. Esse pessoal de baixa aquisição vai invadir muitas dessas áreas impróprias e aí que surge a maioria dos problemas. Não só esse pessoal de baixa aquisição, mas a gente vê mansões aqui que também comprometem. Cada casa teria que ter o seu engenheiro para fazer a estrutura toda certinho. A gente vê que muitos são só práticos que fazem sem nenhuma estrutura, sem nenhuma técnica, esse é o nosso trabalho. Isso vai cooperar com a Defesa Civil que vai saber onde tem essas áreas impróprias já habitadas ou não, as habitadas cada vez que tiver uma quantidade de chuva já ficar esperando, pelo menos alarme ou avisar a população de que elas estão correndo risco. Isso que a gente tá brigando para que realmente aconteça.
