Reunindo todo ano 400 pessoas de cerca de 15 municípios diferentes, a Gijoca se tornou um dos grandes eventos da juventude diocesana.

Centenas de jovens de toda a região se reúnem para um dia de correria, barro e diversão.
Foto: Vanderlei Silva – VBSS Produções & Treinamentos/Palma Sola
Há 21 anos, geralmente durante a Quaresma, a cidade de Salgado Filho conta com um domingo diferente. Um domingo cheio de barro, correria, barulho e diversão. É o domingo da Gincana dos Jovens Católicos, um dia em que centenas de jovens e adultos de toda a região se reúnem para correr, brincar, mergulhar em poças de barro e terminar o dia esgotados fisicamente, completamente sujos por fora, mas de alma lavada.
Hoje, a Gijoca reúne cerca de 400 pessoas para a brincadeira, e muita gente acaba ficando de fora, porque a organização estipulou um limite de 23 equipes participantes e as inscrições se esgotam em minutos. Mas, para quem vê essa profusão de gente e alegria, é difícil imaginar que a gincana começou de uma ideia singela, 21 anos atrás.
“Naquela época, a gente sentia que os jovens precisavam de algo diferente para fazer”, comenta Lorena Chioca Anater, empresária salgadense que junto com o marido, Volmir Anater, a irmã Denize Chioca Mazotti e o cunhado Raimundo Mazotti deu o pontapé para essa brincadeira.
Denize recorda que o grupo de jovens da Igreja Católica de Salgado Filho já existia naquela época, mas havia grande dificuldade para reunir a juventude. Foi então que, com a dica de um seminarista que visitou a paróquia, caiu a ficha: para atrair os jovens, é preciso oferecer algo que eles gostem de fazer. Foi o primeiro empurrão para o nascimento da Gijoca. “Hoje a gente percebe que, para manter um grupo de jovens atuante na comunidade, é preciso ter sempre alguma tarefa ou atividade. A gincana foi o pontapé para começar a ter essa coisa”, reforça Raimundo.
Formato mudou na segunda edição
A primeira edição da gincana aconteceu de forma mais tradicional, com as equipes disputando diretamente entre si. Mas para a organização isso gerou uma rivalidade que não era o intuito da brincadeira. Já na segunda edição, o formato mudou. “A gente tinha experiência com os escoteiros e nos acampamentos eles tinham tarefas em que cada patrulha fazia uma atividade separada. Então essa ideia veio para a gincana. Cada equipe faz uma prova por vez, assim eles não disputam entre si”, explica Volmir.
Esse formato, que dura até hoje, aliado à atividades diferentes, como piscinas de barro e mergulhos no rio, e à irreverência da equipe de organização, foi o que garantiu o sucesso da gincana, reunindo todo ano equipes de cerca de 15 Municípios diferentes.
Para organizar isso tudo, a equipe é de mais de 70 pessoas. Além disso, Volmir acrescenta que a gincana cresceu até o ponto de não ser só dos jovens católicos. São eles que organizam, mas a participação é livre para pessoas de outras denominações religiosas ou mesmo quem não se identifica com nenhuma religião.
“Ainda assim, a gente nunca deixa a parte espiritual de lado. A gincana sempre começa com uma missa, tem oração de encerramento e tem questões que envolvem temas bíblicos”, pontua Raimundo; Denize reforça: “Isso é para mostrar que o jovem pode se divertir também com coisas relacionadas à igreja”.
Caráter social
Todo ano também há algum intuito social. Nas últimas edições, cada equipe participante tem doado uma cesta básica, que vai direto para a Pastoral da Criança. Como são 23 equipes, é uma gincana que alimenta muita gente. Para somar, suas provas são feitas com produtos reaproveitados, como litros descartáveis, calçados velhos, tampinhas de garrafas, bolas murchas, entre outros.
“Sempre pesa que a gente deixa de lado as nossas coisas para fazer algo para a comunidade, mas nós criamos nossos filhos sempre participando da gincana e até hoje eles continuam ajudando. Então a gente vê que o tempo que dedicamos só fez o bem e serviu como um exemplo para eles, para também fazerem o que é bom”, comenta Lorena.
Um domingo sem drogas
Outra pessoa que foi essencial para garantir os 21 anos de gincana foi o professor Antônio Batista. Por muitos anos, ele foi a ‘voz da Gijoca’ — o apresentador responsável por comentar provas, empolgar as equipes durante o dia e fazer o encerramento.
“Eu, como apresentador, sempre tentava fazer a gincana ser um troço mais irreverente”, conta o professor. “Não era para ser sério, era sempre pela diversão. A equipe de organização a gente chamava de equipe da desorganização e os prêmios eram alguma besteira, como um cacho de bananas ou um fardo de pipocas”, lembra. Hoje o prêmio é em dinheiro, mas apenas um valor simbólico.
Antônio parou de apresentar as gincanas quando um câncer restringiu sua capacidade de falar durante um dia inteiro. E ele foi substituído por Silmar (Pingo) Tafarel, que busca manter a mesma irreverência na sua apresentação. Ainda assim, para a organização, Antônio foi essencial por sua persistência. “Muitos anos a gente não tinha vontade de fazer a gincana e ele dizia: ‘Tem que fazer’”, ressalta Denize.
Outra participação de Antônio foi na proibição de bebidas e fumo durante o evento. “Foi uma proposta que eu fiz e acabou pegando. Que a Gijoca ia ser um dia em que não se bebe, não se fuma, nem nada. No sentido mais profundo, é para mostrar que tem um jeito de ser feliz que não tem a ver com encher a cara no fim de semana. A gente sabe que isso não vai mudar radicalmente a vida do jovem, mas é uma semente. Ele vai ver que é possível. Então a Gijoca não pode parar”, afirma Antônio.