Pesquisa detecta várias deficiências na estrutura de atendimento em saúde ofertadas às pessoas.
Mais da metade dos municípios brasileiros (2.902, de 5.570 – 52%) encaminham pacientes da atenção básica para realizar exames em outra cidade, por falta de infraestrutura em suas unidades de saúde, revela o Perfil dos Estados e dos Municípios Brasileiros, divulgado nesta semana, pelo IBGE. O levantamento mostrou que em 60% dos municípios os pacientes têm de se internar fora. A prática é mais comum em municípios de até 50 mil habitantes, onde os estabelecimentos costumam ser precários, e nas regiões Sudeste e Nordeste.
Outra deficiência apontada pela pesquisa é a falta de atendimento de emergência 24 horas. São 12,9% os municípios que não dispõem desse tipo de serviço. Também é baixa a oferta de leitos de UTI neonatal. São 93,4% as cidades que não contam com essas acomodações. Elas salvam recém-nascidos sob risco de vida, sejam em estabelecimento público ou em convênio ao Sistema Único de Saúde (SUS).
“Infelizmente o SUS não foi efetivado como deveria. O acesso à emergência tem de ser fácil, mesmo que em outro município. Quanto à internação, não faz sentido morar no Maranhão e se internar no Piauí. E, no caso de exames, a coleta e a entrega dos resultados deveriam ser no próprio município, ainda que a análise seja em outro. Não é possível que o cidadão não possa fazer um exame de sangue ou um raio X perto de casa”, criticou a professora Ligia Bahia, do Instituto de Estudos da Saúde Coletiva da UFRJ.
A falta de equipamento para hemodiálise para pacientes com problemas renais também foi medida. Apenas 484 municípios têm o aparelho no País todo. No Acre só existe uma máquina, assim como em Roraima.
Como foi feita a pesquisa
A pesquisa foi feita entre julho de 2014 e março de 2015 nas 27 unidades da federação e nas 5.570 cidades brasileiras, e os questionários foram respondidos por funcionários dos governos estaduais e municipais. Além da saúde, a publicação traz dados sobre funcionalismo, comunicação e informática, educação, direitos humanos, segurança pública, segurança alimentar, inclusão produtiva e vigilância sanitária.
No CRE de Beltrão, 90% dos pacientes são de outras cidades da região

para vir ao CRE, em Beltrão.
A realidade apurada pela pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) é percebida em Francisco Beltrão, que sedia clínicas de consultas odontológicas e médicas particulares e públicas. Só no Centro Regional de Especialidades (CRE) são atendidas pelo menos 500 pessoas diariamente, de segunda a sexta-feira. Deste total, 90% das pessoas vêm de outros municípios para consultas com médicos especialistas ou fazer exames de raio X, eletroencefalograma e eletrocardiograma e de análises clínicas (sangue).
Mas o Hemonúcleo Regional, o programa Ser Mulher (centro de saúde especializado), a Clínica de Órteses e Próteses e o Centro de Atenção Psicossocial (Caps) também recebem muitas pessoas de outros municípios diariamente para receber serviços especializados.
Seu Valdir Colella, 56 anos, morador da Linha Tiradentes, em Salgado Filho, consultou por várias vezes no CRE. No município onde reside não há médico especialista para o pulmão.
A distância até Beltrão não é o problema. O sacrifício é acordar às 5h30 da manhã, pegar um ônibus do interior até a cidade – distante seis quilômetros – e depois trocar por outro ônibus que traz os pacientes do município até o CRE ou outras clínicas locais para as consultas com os especialistas ou a realização de exames. Após a chegada, os pacientes têm que esperar na fila para serem atendidos. “É um sacrifício”, reconhece Valdir, que é agricultor e veio ontem para consultar com um médico especialista em doenças do aparelho respiratório. Ele se queixa de dores nas costas. Valdir fumou por mais de 30 anos e há três meses deixou deste vício.
O agricultor diz já ter vindo “uma par de vezes” para consultar e fazer exames no CRE.