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Francisco Beltrão
quinta-feira, 29 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Manfrinópolis começa limpeza do Rio Encantilado para evitar enchentes

Obra de desassoreamento começou esta semana, mas foi embargada pelo IAP.

 

Depois de um ano que o rio invadiu Manfrinópolis, foram iniciadas as obras de alargamento.
Só que os técnicos do IAP embargaram. Hoje tem reunião para definir.

Há pouco mais de um ano, uma enchente de grandes proporções deixou o Município de Manfrinópolis em estado de calamidade. Prédios públicos foram atingidos, casas completamente destruídas e duas vidas levadas pela fúria da água que transbordou do Rio Encantilado no fim de tarde do dia 9 de dezembro de 2015.

Depois da catástrofe, o Município passou um ano tentando recuperar o prejuízo causado pela enxurrada e também buscando alternativas para evitar que tragédias como esta se repitam. Foi com essa intenção que o prefeito Cláudio Gubert (PP) apresentou a possibilidade de um desassoreamento e alargamento das margens do Rio Encantilado. A proposta foi acatada, o recurso conquistado junto ao Instituto das Águas do Governo do Estado e, neste fim de ano, as máquinas começaram a trabalhar. 
“Esse trabalho é um desassoreamento do rio e também a construção de uma margem de contenção para aumentar o canal e a vazão da água, para que ela possa seguir pelo rio e não transbordar”, comenta o prefeito. Segundo ele, o governo liberou R$ 500 mil para a obra, cujo objetivo, nas palavras de Cláudio, é “levar segurança e qualidade de vida pra população, porque ninguém quer morar numa área de risco, mas este é nosso município, é o nosso chão”.
O prefeito eleito, Caetano Alievi (PV), será responsável por dar continuidade à obra e já adianta que está por dentro da situação. “Estamos acompanhando o prefeito e vemos que essa obra tem uma importância muito grande e, com os trabalhos bem feitos, não vou dizer que vai terminar com os problemas das enchentes completamente, mas 50% a 60% vai resolver.”
Alberto Piccinini, chefe do escritório regional do Instituto das Águas, concorda que a obra vai reduzir o problema. “Ela é um paliativo, que vai amenizar as enxurradas, mas é apenas um 1º passo. Depois é preciso todo um projeto de recuperação das encostas”, comenta.

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Obra embargada
No entanto, as máquinas não trabalharam muito. Logo depois do início do trabalho, na terça-feira, um representante do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) pediu o embargo da obra, que já havia destruído a área de preservação permanente de uma das margens, em um trecho do rio. 
O Jornal de Beltrão entrou em contato com o representante da entidade, que informou que hoje, pela manhã, acontece uma reunião com a administração de Manfrinópolis e a empresa responsável para definir alguma forma responsável de dar continuidade aos trabalhos. 
O prefeito Gubert disse que entende a requisição da entidade, mas reitera que a obra é essencial para a segurança da população. “Nós temos que conversar com o IAP e com a comunidade para trabalhar em um entendimento, em harmonia, para terminar a obra, dar a segurança para a população e também preservar o meio ambiente.”
A reportagem do Jornal de Beltrão vai acompanhar o resultado da reunião e informar sua conclusão nas próximas edições.

A visão dos atingidos
Desde 1981, Getúlio Alves da Silveira vive em Manfrinópolis, em uma casa próxima ao Rio Encantilado, no Bairro São Domingos. Em outra morada, logo atrás da casa onde vive Getúlio e sua esposa, mora seu filho, João Alves da Silveira, com esposa e um filho de quatro anos. No fim de tarde em que a água invadiu a cidade, seu Getúlio e sua esposa só perceberam o perigo quando a água já estava dentro de casa, “então peguei minha capanga com os documentos e a bíblia e dei um jeito de sair pela água”.
Nilson Dalla Valle também mora no bairro, um pouco mais afastado do rio, mas conta que a água que invadiu sua casa passou de dois metros de altura. Rafael Tremba, também do bairro, morava em uma das primeiras casas ao lado do rio, mas já não mora mais. No dia da enchente, seu Rafael saiu antes que o rio cobrisse tudo e assistiu de longe enquanto a enxurrada quebrou sua casa ao meio e levou a metade destruída rio abaixo. “Sorte que a enchente foi de dia, se fosse de noite e a gente estivesse dormindo, ia morrer todo mundo aqui do bairro, porque foi muito rápido”, conta ele.
Getúlio, João, Nilson e Rafael são poucos entre as cerca de 1.600 pessoas afetadas – incluindo as duas mulheres que perderam sua vida na tragédia. (Foram Rafael e um vizinho que encontraram um dos corpos, entre os escombros de uma casa, enquanto olhavam a água baixar na noite da tragédia). Assim, para o povo de Manfrinópolis, 2016 foi um ano de tentar reconstruir. Rafael teve de refazer a casa, dessa vez em um lugar mais alto e longe do rio. Getúlio, que já não tem mais idade para trabalhar, diz que não conseguiu recuperar nada. João comenta que o dano não foi só material. “Foi muito triste ver aquele mar de água levando tudo. Eu tenho um filho de quatro anos e ele ficou com trauma, agora cada chuva ele vem perguntar se a casa não vai alagar de novo.”

Opiniões sobre o desassoreamento
Por causa deste problema no rio, cada atingido tem uma opinião forte quanto à obra de desassoreamento do Rio Encantilado. Para Nilson e Rafael, ela é essencial. “Nós aqui que sofremos com a enchente sabemos como foi. Queremos que limpe o rio, porque com essa limpação, com esse corredor mais largo, se chegar a chover de subir a água, vai ser bem pouquinha”, comenta Rafael.
Seu Getúlio tem dúvidas: “Eles tão tirando as árvores aqui pra fazer isso, e alargando o rio, deixando ele raso. Pra enchente, pouco vai resolver, porque quando a água vem ela vem com tudo. O que vai fazer é terminar com o pouco de peixe que tem, o sol vai castigar mais o rio, a água vai enxugar ligeiro e vai tá sempre vazio”.
João pondera: “Eu acho que alguma coisa vai ajudar, porque antes da enchente a gente via que o rio ficou todo trancado de pedra, pau, árvore, e a água não corria. Então com o leito mais largo vai ter vazão, vai ter para onde a água escorrer. Só que também, tirando todas as árvores, a terra não vai se segurar e vai descer pra dentro do leito de novo, então precisa ser um negócio bem pensado”.
Rafael apresenta uma proposta: “Se tem que tirar as árvores, podem tirar, a gente tá de acordo, mas aí deem as mudas pra gente plantar tudo de novo, fazer umas margens bem bonitas aqui”. A decisão para que rumo seguir deve ser tomada na reunião de hoje.

Arnaldo Trancoso de Britto, Rafael Tremba, Nilson Dalla Valle e seu filho, Rogério Dalla Valle, comentaram a tragédia.
Fotos: Rubens Anater/JdeB

 

 

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