Em dezembro de 2015, uma enxurrada assolou a cidade. Hoje, sete meses depois, os atingidos tentam reconstruir suas vidas.

À direita, a casa nova que deve ficar pronta mês que vem – dessa vez, alta do chão.
Foto: Rubens Anater/JdeB
Por Rubens Anater
“Foi dia 9 de dezembro. Eu lembro que logo depois do meio-dia começou a escurecer e aí já começou aquela chuva. Mais de tarde, aumentou e choveu à reveria, parecia que era despejado com balde. Aí o rio começou a subir, e subir. E a gente não queria sair de casa, mas quando vimos, a água já tava entrando e quando conseguimos sair já tinha meio metro de água na casa. Foi aí que conseguimos sair ali pelo fundo. Depois chegou a dar um metro e trinta de água dentro da casa e o prejuízo foi total. Levou nossos móveis e no fim levou nossa casa embora também.”
Quem conta essa história de desespero é Alberto Petri, um agricultor em vias de se aposentar que morava com sua esposa, professora aposentada, em uma casa de esquina logo na curva do Rio Encantilado, o principal personagem da tragédia que arrasou a cidade de Manfrinópolis no fim da tarde do dia 9 de dezembro de 2015.
A casa de seu Petri foi uma das que tiveram perda total, mas, segundo a Defesa Civil, cerca de 300 residências foram atingidas e 1.500 pessoas afetadas. Mais do que os danos materiais, a tragédia do dia 9 causou dois falecimentos: Marta Regina de Araújo, 42 anos, e Josephina Paris, 78. Agora, mais de sete meses depois, o Jornal de Beltrão conversou com o marido de dona Josephina, Valentim Ramos.
A residência do casal de aposentados fica de costas para a de Alberto e não tem visão direta para o rio. Por isso, Valentim conta que, quando viu a água chegando, ela já estava dentro da casa. E a velocidade com que o Rio Encantilado subiu foi absurda. “Quando eu vi, não deu tempo pra nada. Veio aquela água, me afogava, e eu por sorte consegui me escapar pela janela.”
Quando Valentim saiu, a força da água arrancou sua casa do chão e a arrastou por quilômetro – levando dona Josephina consigo. Ele também foi levado, mas conseguiu se segurar em uma árvore e foi resgatado pelos bombeiros. Josephina foi encontrada apenas dois dias depois, sob destroços, cerca de mil metros longe de onde morava.
E hoje, tanto tempo depois do desastre, Alberto, Valentim e muitos outros estão finalmente conseguindo reconstruir suas vidas.
Famílias reconstroem o que perderam na tragédia
Seu Petri contou para a reportagem a história de como a enchente destruiu tudo que ele tinha dentro do que sobrou de sua casa: pouco mais de duas paredes destruídas e um telhado despedaçado – servindo para guardar alguns materiais que ele usa na construção da casa nova. “Só agora estamos conseguindo fazer uma casa nova. Acho que daqui um mês e pouco vamos mudar”, revela.
Agora, a casa está sendo planejada com mais proteção contra intempéries – levantada com pilares a cerca de um metro do chão e com um telhado de zinco, para não quebrar com chuvas de granizo. E enquanto a residência não fica pronta, o casal vive na casa de uma parente.
Já seu Valentim, quando teve sua morada levada pela enxurrada, não tinha onde ficar e acabou recebendo um lar provisório na casa de um casal de vizinhos que também foi atingido. Os vizinhos são Cleonor Thomas e Gessi da Rosa Gomes Thomas, que vivem com sua filha Camila e são proprietários da loja de roupas Camila Modas, anexa à casa, e ainda eram donos de uma outra casa ao lado, que alugavam.
Quando a enxurrada chegou, Cleonor, Gessi e Camila fugiram pela janela, porque a porta já estava cheia de água, e viram ao longe a força da natureza destruindo sua moradia e empresa – e levando embora a casa que tinham para alugar. “Praticamente 90% se perdeu, mas pelo menos continuamos com o prédio. Com um teto sobre a cabeça”, resigna-se Cleonor.
Como sobrou a casa, o casal acolheu Valentim por alguns dias e o ajudou a reconstruir. Depois disso, com auxílio de amigos e de muitas doações dos municípios vizinhos, ambos começaram a recuperar um pouco da vida antiga. Seu Valentim já está com a residência nova pronta e a família Thomas – com o apoio de vendedores que disponibilizaram novos produtos para serem vendidos – conseguiu reabrir a Camila Modas.
No entanto, ambos dizem não ter recebido auxílio da Prefeitura além de uma parca cesta básica para sobreviver aos primeiros dias. “Não me ajudaram com nem um centavo aqui do município. Nem vieram ver se eu tava vivo ou tava morto”, desabafa Valentim. “Dos órgãos públicos não recebemos praticamente ajuda de nada. E pelo que a gente viu nos vizinhos, também não teve apoio da Prefeitura”, acrescenta Cleonor.
Investimento da Prefeitura
“Em dezembro nós sofremos uma catástrofe aqui no nosso município, uma tempestade muito grande que destruiu bastante a cidade e causou um prejuízo incalculável”, lembra o prefeito de Manfrinópolis, Claudio Gubertt (PP).
Segundo Claudio, o prejuízo para o Poder Público também foi muito grande – 12 obras públicas foram danificadas e muito dinheiro foi gasto para a limpeza das ruas e para reduzir os danos em toda a cidade. “Manfrinópolis passa por uma situação muito triste, devido a ser um município pobre, com poucos recursos”, afirma.
Por isso, garante o prefeito, houve dificuldade de distribuir verba e ajudar os atingidos. “Foi feita uma campanha e foi repassado, mas muito pouco recurso foi conseguido”, lamenta. No entanto, agora as coisas devem começar a mudar.