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Francisco Beltrão
quarta-feira, 18 de junho de 2025

Edição 8.228

18/06/2025

Motoristas de empresa de combustível analisam o trágico acidente que comoveu o Brasil em julho, no litoral paranaense

Um dos motoristas estava na região onde o fato aconteceu.

 

Os três motoristas Amarildo Boff, Francisco Ferreira Paz e Marcelo Zatta prometem estar presentes mais uma vez com suas famílias na festa da Linha 15 de Novembro.

 

Um caminhão-tanque carregado com combustível tombou e pegou fogo no quilômetro 33 da BR-277, em Morretes, no litoral do Paraná, por volta das 18h de domingo, dia 3 de julho. O acidente aconteceu na pista sentido ao litoral e interditou as duas vias. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), seis pessoas morreram. Um bebê foi encontrado com vida em meio à mata, próximo a um veículo onde estavam dois corpos carbonizados. 
Testemunhas contaram aos policiais rodoviários, inicialmente, que a criança resgatada era filha do casal encontrado morto no carro e que os pais a teriam jogado do automóvel para salvá-la. Depois, porém, descobriu-se que os pais da menina recém-nascida eram dois jovens que foram encontrados mortos em uma galeria ao lado da estrada. Além do caminhão, 12 veículos menores foram atingidos pelo fogo. O motorista do caminhão-tanque sobreviveu e foi levado à delegacia. 
“Graças a Deus, eu nunca me envolvi com acidentes graves, já enrosquei meu caminhão algumas vezes nos postos e vi muito acidente na estrada, mas esse [de Morretes] foi triste”, diz Amarildo do Boff, motorista da empresa RodOil, de Renascença. Amarildo percorre a região com um caminhão Volvo 370, com capacidade para 25 mil litros de combustível. Seu colega Francisco, de 51 anos de idade, 25 deles vividos na cabine do caminhão, trabalha com um Volvo 460, capacidade para 60 mil litros de combustível. 
No dia do acidente, Francisco Ferreira Paz estava no Porto de Paranaguá, distante cerca de 30 quilômetros do local da tragédia, para carregar combustível. “Fiquei sabendo lá no porto, ali é uma serra perigosa, ainda mais com o caminhão carregado. Inclusive naquele trecho existem radares e placas que indicam velocidade máxima de 60km/h. O que me resta é lamentar por todos os envolvidos, acho que ninguém faz de propósito, mas teve falha mecânica ou descuido do motorista”, analisa. 
O portal G1 informa que “o painel do caminhão-tanque, que provocou o acidente, havia sinalizado falha no freio e mesmo assim o motorista optou por seguir viagem. A informação foi dita à polícia pelo próprio motorista, de 43 anos, em depoimento. Ele deve responder pelo crime de homicídio doloso, com dolo eventual”.
Francisco lembra que nunca se envolveu em acidente por ter ‘medo’ de dirigir. “A partir do momento que o motorista perde esse medo ou receio, ele torna-se muito confiante em si. É aí que acontecem os acidentes.” Segundo o caminhoneiro, sua empresa cuida diariamente da manutenção dos caminhões e, se tiver algo de errado, Francisco para o veículo na estrada e avisa a chefia sobre o caso. 
Há pouco mais de oito anos Marcelo Zatta decidiu largar a oficina mecânica para trabalhar como motorista de caminhão. Atualmente, ele dirige um Volvo 330. Aos 32 anos de idade e com uma filha de apenas um ano de idade, o motorista vem de uma família de irmãos caminhoneiros. Todos eles trabalham na RodOil. Sobre o acidente, Marcelo destaca o bom e velho ditado popular: todo cuidado é pouco. “A gente tem que se cuidar, dirigir com prudência e se prevenir do que os outros motoristas fazem de errado na estrada. Por isso me preocupo bastante com a manutenção de nosso caminhão, a empresa só tem caminhão novo, isso dá mais segurança pra nós.” 

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Um susto sem gravidade
“Fazia três meses que eu tinha começado aqui na empresa e meu caminhão carregado com diesel e gasolina tombou ali em Novo Horizonte, perto de São Lourenço do Oeste. Na outra mão da via vinha uma Van carregada com crianças. O motorista conseguiu segurar, mas mesmo assim deu uma enroscada no meu caminhão e foi parar numa estrada de chão. Ele se machucou um pouco, mas nada grave, Ainda bem que não batemos de frente”, relata Marcelo Zatta. 

Carga de vento
Deixando o lado sombrio para trás, Francisco tem uma história que faz refletir o quanto é importante a comunicação e como a empolgação exagerada pode gerar alguns transtornos. Ele começou na empresa RodOil com um propósito: ser motorista de caminhão. Porém, no início, trabalhou como frentista. Após 60 dias trabalhando nessa função, a chance esperada apareceu. “Meu chefe chegou e disse que ia me dar um caminhão pra trabalhar na entrega de combustível, era uma caminhonete F4000. Ele me disse que tava carregada de óleo diesel e que era pra eu levar para Campo Erê. Na hora eu aceitei. Eu até vi quando a caminhonete foi estacionada, mas enquanto eu fui almoçar, alguém deve ter ido descarregar em outro lugar. Depois do almoço, voltei e fui bem feliz levar o combustível e, quando encostei no posto, a caminhonete estava vazia. Coloquei as mãos na cabeça e disse ‘meu Deus’. Eu vi que na chegada o tanque balançou e notei que tava meio estranha, claro, tava vazia. O rapaz veio do posto em minha direção e já disse ‘nem olhe porque ela tá vazia’. Antes de eu ir levar, esse rapaz disse que era urgente porque o posto estava sem nada de óleo. Ainda bem que Renascença e Campo Erê são próximas. Na volta, falei para o meu chefe que eu não sabia o que tinha acontecido, achava que tinham descarregado a caminhonete antes de eu ir pra lá. Ele me disse que tinham levado a carga em outro posto. É o que dá ter muita empolgação com as coisas. Depois daquela trapalhada, toda vez eu confiro a carga antes de sair para as entregas.”

Tem que se preparar para a estrada
Experiente na profissão em que atua há 25 anos, Francisco enfatiza aos mais jovens que vislumbram ganhar a vida com caminhão: “Não é o ramo que indico para eles, mas financeiramente em algumas empresas tá compensando. Até inventaram a tal lei de descanso para motorista, mas na prática nem tá valendo. Não sou comissionado, mas se for trabalhar por comissão, não compensa”. Ele é pai de dois filhos, Emerson e Kleberton, e é casado com a professora Elizabeth. Nenhum dos filhos quis seguir o caminho do pai – um é engenheiro mecânico e o outro, técnico agrícola. 

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