Revogação da necessidade de ter extintores nos automóveis fez com que a empresa demitisse mais de 60 pessoas.

Marciano Rodrigues Borges trabalhou por seis meses na empresa Extintores Extang, de Nova Esperança do Sudoeste. Uma empresa grande, entre as maiores geradoras de renda e impostos no município, que produz extintores de incêndio para todo o Sul do País e para São Paulo, e que, no começo deste ano, ampliou suas estruturas para atender melhor a demanda de extintores para veículos pelo país – uma demanda que o próprio governo criou.
Em uma empresa dessas, com tudo para crescer, Marciano – que tem esposa e quatro filhos – estava tranquilo. Até que, menos de um mês atrás, dia 17 de setembro, o governo federal revogou a lei que exigia extintores de incêndio nos automóveis de passeio. E Marciano, junto com mais de 60 funcionários da Extang, perdeu o emprego.
Demissões afetaram todo o município
De acordo com levantamento IBGE de 2015, Nova Esperança possui 5.206 habitantes. É um município pequeno para suportar a demissão de tanta gente de uma vez só.
O secretário de gabinete da prefeitura, Moacir Sergio Mai Arnauts, conta que a situação preocupa. Segundo ele, é difícil que as empresas do município sejam suficientes para contratar tanta gente. “Alguns dos demitidos vão conseguir emprego aqui, mas muito poucos. Os outros vão acabar tendo que ir pra outros municípios” prevê.
É a situação de Marciano, que já está parado há cerca de 20 dias e cuja esposa também está desempregada. “Não temos outra fonte de renda e estamos procurando emprego, mas tem muita gente na mesma situação. Se não conseguirmos, acho que vamos ter que mudar de cidade.”
Ele ainda acrescenta que quer muito evitar a mudança por causa dos quatro filhos, que têm 12, 10, 8 e 4 anos, e estão no meio do ano letivo. “Mas tá bem difícil.”
E mesmo quem conseguiu outro emprego sente o impacto da demissão, como o jovem estudante Ivair Rodrigo de Lima Petri, de 18 anos. Antes de trabalhar na Extang, ele era funcionário de um supermercado, para onde voltou agora. “Mas não é a mesma coisa. Aqui o horário é comercial, a gente ganha menos e eu ainda tenho que estudar. Dificultou bastante as coisas”.
Impacto no comércio
Com as demissões de funcionários, o comércio da cidade sentiu uma queda no movimento, como afirma Magda Ruaro Constantino, da loja de materiais de construção Mascarello Ruaro. “Não só pra nós da empresa, mas no geral do comércio a gente sentiu que está com bastante dificuldade, desde o movimento até o pagamento das contas”, conta.
Marcelo dos Santos, da Lanchonete Avenida, reforça. “Diminuiu muito o movimento. O pessoal que trabalhava lá já não está mais aparecendo”. E a proprietária do Spaço da Moda, Maria Stang , afirma: “Quem não tá mais trabalhando, não tá mais gastando. E alguns até passam aqui para avisar que não tem como pagar as contas por enquanto”.
A proprietária do Restaurante Sabor da Casa, Diandra Faust Silveira, complementa que ainda não sofreu tanto o impacto. “Aqui, geralmente vem mais o pessoal da administração da empresa, então não diminuiu tanto, mas querendo ou não o dinheiro vai parando de girar na cidade e vai afetar a gente”, acredita.
Magda, no entanto, afirma: “Não podemos perder as esperanças. A gente espera que esse pessoal tenha um reconhecimento e possa logo voltar a trabalhar aqui na cidade”.
A situação da Extang
Segundo Claudia Bonetti Freitag, da gerência da Extang, a revogação da exigência colocou a empresa em maus lençóis. “Trabalhamos muito nesse ano para atender a demanda por extintores criada pelo governo e agora que eles revogaram estamos com um monte de estoque sobrando, tem contratos com fornecedores que não podemos desfazer, é uma situação complicada.”
Logo que apareceu a notícia da revogação, pelo Contran, a primeira ação da empresa – com apoio da administração do município – foi buscar reverter a situação, mas isso não trouxe resultados.
Com isso, a Extang não teve opção. Teve de dar a conta para mais de 60 funcionários diretos – isso sem contar as pessoas que trabalhavam indiretamente com o comércio dos extintores. “Mas a empresa tem um nome para zelar. Vamos continuar lutando”, garante Claudia.
A empresa continua a tentar reverter a revogação da lei, mas vai muito além disso. Claudia relata que agora a Extang está dirigindo esforços para a produção de extintores industriais, que já produzia, mas em escala menor. “Vamos também abrir mais mercados e fazer de tudo para a empresa sobreviver.”