Na manhã de ontem aconteceu a celebração do padroeiro com o bispo da Diocese de Palmas e Francisco Beltrão Dom Edgar Xavier Ertl.

A Igreja foi decorada com balões brancos para celebrar o padroeiro Santo Antônio.
Foto: Alexandre Bággio/JdeB
Desde o dia 31 de maio, a comunidade católica de Dois Vizinhos está vivendo a Trezena de Santo Antônio. As celebrações, neste ano, são especiais, pois marcam os 60 anos da Paróquia Santo Antônio de Pádua. Além do momento religioso, aconteceu a já tradicional quermesse, que reúne a comunidade nas tendas instaladas em frente à igreja (na Rua João Dalpasquale), além de três grandes almoços. Diversos vídeos foram produzidos pela Sigma3 para lembrar a história da Igreja Católica e da Paróquia duovizinhense.
“Em 1955, tínhamos uma pequena Igreja de madeira construída ali na praça. Decidiu-se que iríamos nomear uma comissão para falar com o bispo dom Carlos Eduardo de Sabóia Bandeira de Melo, em Palmas, buscando apoio para criar uma Paróquia e termos um padre em Dois Vizinhos. Em 1956, foram mudados os limites da Diocese, fazendo com que a Paróquia de Barracão viesse até Francisco Beltrão, incluindo nossa cidade. Na sequência, em março de 1956, o padre Florêncio Cobalt, que era vigário em Dionísio Cerqueira (SC), resolveu vir conhecer nossa cidade. Ele gostou muito daqui e resolveu ficar. Em seguida, ele pediu para ficar, mas o bispo não concordou. Ele foi a Palmas, duas, três vezes e conseguiu trazer o bispo aqui em agosto de 1956. Nessa época, ele crismou toda a região, umas seis mil pessoas. O bispo ficou 30 dias, no primeiro passo para a Paróquia”, lembra o pioneiro e historiador Jaime Guzzo.
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Já instalado, o padre já começou a montar a estrutura da Igreja, num projeto ousado e pioneiro no Sudoeste. “Ele veio, começou a construir a casa canônica, aí foi aumentando a igrejinha de madeira, até que depois, em 1959, com a criação da Paróquia, decidiu-se construir uma nova Igreja. No primeiro momento, a ideia era fazer de madeira, aí o padre Florêncio foi até Curitiba, onde tinha um engenheiro belga, conhecido dele, que disse que não faria em madeira e teria que ser de alvenaria. O padre disse que no Sudoeste não tinha nada de alvenaria, ia ter que trazer tudo de Curitiba, São Paulo. Resolveram fazer e foi a primeira igreja de alvenaria do Sudoeste. Eu lembro que, apesar de ser uma obra que consumiu muito dinheiro, a população, os colonos, o comércio, quando terminou a Igreja, não tinha dívida nenhuma. Estava tudo paga”, acrescenta.
O jornalista Valdir Pagnoncelli ressalta o empreendedorismo do padre Florêncio. “Ele foi um vanguardista, não só pela obra, mas pela luta da Paróquia. O fato que motivou a criação da Paróquia foi aquela Crisma, onde a praça ficou cheia, era muita gente. A nossa Paróquia foi uma construção inédita para a época”, diz. Ele destacou a participação da comunidade. “Temos que destacar a doação da população, sempre muito prestativa, desprendida, em ceder o melhor espaço da cidade para a Igreja. Eu sei dizer que, no passado, com todas as dificuldades que as famílias tinham, éramos muito mais proativos em favor das coisas da comunidade. A civilização atual tem dificuldade para manter o que os antigos fizeram”, lembrou.
O pioneiro e ex-prefeito Ervelino Coletti (24/6/1928 – 18/6/2017), numa entrevista concedida para Roberto Rockembach, em 2011, também lembrou a história da Paróquia Santo Antônio de Pádua. “Em 1956, fizemos uma festa de receber muita gente que não se esperava e ninguém calculava quanta gente tinha. Foram uns 100 casamentos, 3,4 mil batizados, mais de seis mil crismas feito pelo dom Saboia. O padre morava com nós quando inauguramos a primeira casa canônica e era no meio do mato, bem onde está hoje. Eu lembro também da primeira missa da Igreja que eu não sei de onde é que vinha tanta gente, porque todo o Sudoeste, toda a gente, vinha se socorrer no comércio maior que era Dois Vizinhos. Se tornou polo, ainda mais com uma igreja feita que está aqui como hoje. Acho que no Paraná não teve uma igual”, disse.
A esposa de Ervelino, Ana Dranka Coletti, lembrou do papel das mulheres na construção da capela. “Quando chegamos, só tinha a igrejinha que a gente rezava o terço no domingo. A igreja nós ajudamos a fazer desde a escavação, a muque. Todo mundo trabalhava: moço, mulher, era um mutirão. Quando tinha festa da igreja, as mulheres que trabalhavam mais na limpeza de galinha, faziam passarinhada, depenava um monte de passarinho para fazer jantar, peixe recheado, isso era tudo trabalho das mulheres”, relatou.
Como começou a trezena?
Vindo de Concórdia (SC) na década de 80, Marcos Luiz Vivan percebeu que os municípios tinham o mesmo padroeiro. Isso, além de ajudar na adaptação, fez com que ele tivesse uma ideia: trazer a trezena para Dois Vizinhos. “Eu cheguei aqui familiarizado. Logo fui me envolvendo com a Paróquia, trabalhando nas festas e, nas idas e vindas de Concórdia, um dia, eu encontrei a programação da Trezena de Santo Antônio e pensei: vou levar para a cidade que me adotou. Aí começou a história da trezena que segue até hoje, é um sucesso. A quermesse, nós fizemos um ano no Centro Comunitário e não deu certo, porque o povo saía da Igreja e ia embora. Aí fizemos na garagem, na entrada da casa paroquial e começou a dar gente. Com a vinda do padre Deoclézio foi ampliada, com as tendas na Rua João Dalpasquale e deu certo”, conta.
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A construção da Igreja foi uma obra bastante complexa.
Foto: Arquivo de Jaime Guzzo