Ação faz parte do projeto Dois Vizinhos 2030 e está sendo pensada em parceira com a UTFPR, Cresol e Prefeitura.

No último mês, o prefeito Raul Isotton (MDB) recebeu no seu gabinete o coordenador do Plano Dois Vizinhos 2030, Luiz Carlos Peretti, juntamente com o professor Sérgio Kuhn, da UTFPR, que é responsável pela pesquisa socioeconômica e produtiva rural em Dois Vizinhos. O objetivo é visitar as propriedades e fazer um levantamento preciso sobre as atividades exercidas e o futuro das famílias no campo. O trabalho do plano é idealizado pela Associação Empresarial de Dois Vizinhos (Acedv/CDL) e conta com o apoio, nesta pesquisa, da Cresol Pioneira e da Prefeitura. Diversos questionamentos são feitos às famílias e, com os dados tabulados, o objetivo é dar uma direção ao desenvolvimento no campo. A coleta de dados já vem sendo feita há quase três anos.
Entre as informações já computadas, está o fato do município ter quase 90% das propriedades com tamanho entre 15 e 20 alqueires. A pesquisa mostrou ainda que, em média, as famílias no campo são compostas por 3,1 pessoas e a grande maioria com idade superior a 30 anos. “Eu também sou filho do campo, me identifico com o setor. A pesquisa busca mostrar nossa realidade. Até agora, visitamos 21 comunidades rurais e pesquisamos 988 famílias, o que acreditamos que seja a metade de toda a população rural. Estimamos que o campo tenha em torno de seis mil pessoas e pesquisamos 3.050. O que descobrimos? Que nas famílias, temos cerca de 650 crianças de 0 a 10 anos, uma população iniciando a vida, enquanto na outra ponta, acima de 60 anos, temos cerca de 1.350 pessoas. No geral, a população do campo está envelhecendo, o que faz com que falte força de trabalho nas propriedades. Existe uma migração dos jovens para a cidade. Essa é uma tendência. Hoje, 15% da população do município reside no campo, mas as estatísticas mostram que daqui a dez anos, vamos ter 12% das pessoas no campo. Nos EUA já está em 3%”, destacou Sérgio Kuhn.
Para Luiz Carlos Peretti, que coordena o projeto DV 2030, os dados são preocupantes quando se fala nos pequenos produtores e o estudo mostrará os nichos de oportunidades rentáveis como, por exemplo, a piscicultura, a hortifruticultura, agroindústrias, entre outras atividades. “Essas ações precisam ser pensadas e aplicadas no mais curto espaço de tempo para conter o êxodo rural”, resume.
O professor fez um apanhado geral do que a pesquisa está mostrando. “Em Dois Vizinhos, percebemos que o que mais produzem é a mandioca e o que mais o agricultor compra fora é o arroz. A maioria abandonou a cultura do fumo. Hoje, 54% do pessoal no campo são homens, 46% são mulheres, muitas famílias tem somente o casal no campo, com pessoas de mais de 60 anos e que não tem mais perspectiva de investimentos. Ao todo, 80% das famílias tem menos de dez alqueires e isso demonstra que usamos pouco espaço físico para gerar renda. Isso também sinaliza que precisamos de atividades que remuneram melhor, dão mais retorno, porque vivemos uma tendência de maior concentração da terra. Não queremos isso, queremos que o homem fique no campo, de forma viável, tendo qualidade de vida. Nós temos uma pergunta pensando no futuro e constatamos que 35% das famílias falam que vão ter sucessão rural, mas 31% respondem talvez e 34% responde que não vão ficar no campo. Às vezes os próprios filhos insistem para os pais vir para a cidade. Esse é um dado preocupante que a gente não gostaria e para isso estamos estudando outras formas”, completa Sérgio.
Produção
De todos os entrevistados, 50% trabalha com gado de corte ou leite, 35% tem açude ou peixes e 13% trabalha com a avicultura. “Os outros, que estamos pensando, em mudar o perfil, entrando na olericultura, fruticultura, lácteos, é realmente temos que nos estruturar para ter uma cadeia, com produtor, assistência técnica, comercialização, destino da produção e isso vai precisar ser revisto com a própria universidade e outras parcerias. Precisamos reestruturar porque essa é uma queixa, uma dor vinda do campo”, acrescenta o professor.
O secretário de Desenvolvimento Rural, Mauri Ferreira, ressaltou que os dados auxiliam nas decisões sobre políticas públicas e mostrar a realidade no campo. Para ele, quando existe linhas de crédito para investimentos nas propriedades, os resultados são excelentes, o que motiva a permanência da família na propriedade. Por fim, o prefeito Raul Isotton (Sem Partido) ressaltou que, mesmo com os problemas apontados na pesquisa, Dois Vizinhos é destaque regional e estadual no setor do agronegócio, estando em primeiro lugar na região Sudoeste e no Valor Bruto de Produção (VBP) é o sexto município no Estado. Ainda é o segundo em produção por hectare na agricultura familiar.