Produtores rurais estão aplicando agrotóxicos várias vezes sem necessidade.

Os agricultores estão gastando mais dinheiro com a compra de químicos para combater a ferrugem asiática e a lagarta, nas lavouras de soja, em muitos casos desnecessariamente. Aplicar de quatro a seis vezes agrotóxicos durante o cultivo da soja se tornou normal entre os produtores rurais. Preocupados com o ataque da lagarta e da ferrugem, eles gastam mais para manter em boas condições suas lavouras. Esta prática prejudica o meio ambiente e o ecossistema, porque alguns inimigos naturais acabam morrendo, juntamente com as pragas e doenças. No final da colheita, os lucros são menores para os produtores.
Pesquisadores da Embrapa e Emater alertaram que não há necessidade de fazer tantas aplicações e recomendaram que os agricultores utilizem o manejo integrado de pragas e doenças (MIP-MID). No Paraná, a Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab), Emater e a Agência de Desenvolvimento Agropecuário (Adapar) mantêm a campanha “Plante seu futuro”, que vem incentivando produtores a adotar práticas do MIP e MID. Trata-se de uma técnica que praticamente não tem custos para os agricultores. É necessário um pano e dois pedaços de madeira para passar em parte das lavouras para identificar o ataque de pragas e doenças nas plantas. As propriedades de referência para o MIP, no Estado, são acompanhadas por técnicos da Emater.
Quarta-feira, 2, em Seção Jacaré, Francisco Beltrão, agricultores e técnicos da Emater, empresas de assistência técnica e cooperativas, passaram a manhã ouvindo palestras e demonstrações de pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa) e Emater no projeto “Giro técnico”, curso de manejo integrado de pragas e doenças da soja. A escolha de Seção Jacaré se deu porque a comunidade conta com tradicionais produtores de soja. Este curso também aconteceu em outros municípios paranaenses ao longo da semana passada.
É uma atividade que abordou as tecnologias utilizadas pelo produtor frente às tecnologias recomendadas, principalmente pelas pesquisas da Embrapa, e deveria ter sido a campo na unidade de Seção Jacaré, na propriedade Leoclínio Brufatti, para identificação das pragas e doenças, mesmo de inimigos naturais, para analisar principalmente o ponto adequado de aplicação do produtos. Devido à chuva não foi possível fazer a ação de campo.
O engenheiro agrônomo Carlos Alberto Wust da Silva, o Beto, da Emater Regional, disse que a campanha “Plante Seguro, com o uso do MIP” pressupõe o uso adequado que faz com que haja redução do número de aplicações de químicos. No ano passado, nas 150 unidades acompanhadas pela Emater, no Paraná, houve uma redução de 2,7 aplicações de químicos, por unidade. “Se nós fôssemos multiplicar isso e analisar a área plantada, todos os produtores aplicando menos, isso daria uma redução significativa do custo de produção e uma menor agressão ao meio ambiente”, ressalta Beto.
Nestes encontros, os técnicos da Embrapa e Emater trouxeram informações sobre a aplicação dos produtos.
“É a definição deste ponto de necessidade de aplicação, e principalmente aplicação simplesmente preventiva que é uma coisa que não existe. Se eu avaliasse que na semana que vem eu vou ter uma infecção, e vou tomar antibiótico, o que está acontecendo na prática é isso, com as devidas reservas, uma pressão de venda por parte dos comerciantes, e o produtor, com o desconhecimento do momento adequado, acaba sendo induzindo a aplicar”.
Por isso, uma das palestras procurou explicar o momento correto da aplicação ou de o produtor entender que não é preciso aplicar, por exemplo, fungicida. Beto observou que “o pessoal está aplicando para a ferrugem, sendo que os primeiros esporos estão chegando à região agora; eles demoram cerca de dez dias para germinar e depois outro tanto para se transformar em doença. O produtor, a partir da chegada dos esporos, pode pensar em fazer uma primeira aplicação preventiva. Tudo o que foi feito antes foi dinheiro posto fora, porque estava tratando uma doença que não existia. Então a grande questão é essa”.
Inoculação na soja
O engenheiro agrônomo da Emater comentou que outra tecnologia apresentada na discussão foi a inoculação da soja.
“Inoculação é o uso de um produto que favorece a nodulação que produz todo o nitrogênio que a planta precisa com resultados muitos superiores ao uso de adubo nitrogenado; quer dizer que não há necessidade de usar adubo nitrogenado no plantio. Basta fazer a inoculação, e hoje, também por pressão de venda, os produtores aqui durante a reunião já manifestaram que estão sendo orientados a usar 10, 11 (formulação) na forma inicial da adubação, que inviabiliza a nodulação. É dinheiro posto fora e que não vai se transformar em renda para a propriedade com aplicação do inoculante, que é um produto imensamente barato. Ele produz todo o nitrogênio que a planta precisa e não só na safra atual, à medida que for se repetindo, cada vez mais o solo, porque é a bactéria que fica no solo vai ter mais nódulos e vai fornecer mais nitrogênio para as plantas”.
Outro enfoque foi a análise que a ferrugem na soja tem questionamentos do ponto de vista econômico na região, pela proibição da safrinha de 2017. Beto observou “que a grande questão hoje que os produtos que nós temos já não estão sendo efetivos para o combate da ferrugem; então o que nós precisamos? Precisamos evitar que a doença permaneça em plantas hospedeiras na entressafra que a safrinha (nos meses de outono) é considerada, para que no próximo cultivo se tenha toda possibilidade de ter menos doenças e entendo menos poder ainda com os produtos que tem hoje de se fazer um controle”.
Informação técnica
O agrônomo da Emater considerou importante que os agricultores busquem informações com os técnicos.
“Eu entendo, assim, que a assistência técnica deveria ser mais profissional, pensar nas necessidades que temos de preservação do meio ambiente, temos que pensar, por exemplo, que a soja esse ano está no preço que está por causa do dólar, porque se não teríamos preço bem mais barato, com menos valor e daí os custos em produção vão começar na hora que baixar o pessoal vai começar discutir e quem tem tecnologia, domínio, boas práticas, como nós dissemos, vai tendo rentabilidade maior na sua atividade”, comentou.