14.7 C
Francisco Beltrão
domingo, 15 de junho de 2025

Edição 8.226

14/06/2025

Piercing, elo entre o primitivo e o moderno

Piercing, elo entre o primitivo e o moderno

 Expressão pessoal, ritual espiritual, distinção de realeza, moda. Apesar de as intenções do uso de piercings ao longo da História variarem, a vontade de ter o adereço em alguma parte do corpo continua a mesma. O body piercing, como é conhecida a prática, data de mais de 5.000 anos atrás, entre as tribos da América do Sul, África e Indonésia, as castas religiosas da Índia, os faraós do Egito e até mesmo os soldados de Roma. Depois, espalhou-se pela classe média e a aristocracia dos séculos 18 e 19. Em 1970, o body piercing foi novamente ganhando força até virar febre nos anos 90.
Em Pato Branco, a moda também pegou e tem, entre seus adeptos, principalmente a galera jovem. A empresária Eroni Petica lembra que, há aproximadamente quatro anos, começou a trazer piercings de São Paulo para vender em sua loja, a Sunfashion. ?Fui a primeira a vender na cidade. Minhas irmãs moram em São Paulo e lá já era comum o pessoal usar. Então, me informei se era segura usá-los e trouxe para cá. Hoje, posso dizer que são o carro-chefe da empresa e a procura é cada vez maior?, acrescenta. Sua clientela é formada, na maioria, por jovens entre 14 e 20 anos, que procuram, sobretudo, os piercings de umbigo, seguidos dos de sobrancelha e de língua. ?As meninas compram mais, porque são mais vaidosas. Já os meninos querem ser diferentes?, argumenta Eroni. Ela estima que venda mais de 15 piercings por mês. Os preços variam de R$ 30,00 a R$ 120,00.
Foi por achar que o piercing dá um charme diferente que a estudante Bruna Fernandes, de 17 anos, colocou o primeiro no umbigo, aos 13 anos. No começo deste ano, ela pôs mais um, desta vez no nariz. Bruna comenta que recebeu todo o apoio da mãe. ?Foi quem me incentivou a colocar. Ela até queria que eu pusesse mais um na sobrancelha, mas como treino handebol, é perigoso levar uma bolada e me machucar?, fala. A estética também foi o fator que levou a representante comercial do JPB, Priscila Corteze, a usar os adereços. Hoje, aos 19 anos, ela já tem três, dois deles na orelha e outro no umbigo. ?Acho que eles combinam com meu estilo diferenciado, nem certinho, nem punk, um jeito mais urbano?, detalha. Priscila até pensou em colocar mais um na língua, mas diz que sua mãe não permitiu.
Ao contrário do que muitos pensam, a dermatologista Luciane Zoletti explica que os piercings não causam danos ao corpo, como doenças ou câncer de pele. Entretanto, desde que colocados adequadamente e higienizados freqüentemente com água e sabão. ?Em primeiro lugar, a pessoa deve procurar um local que coloque piercings autorizado pela Vigilância Sanitária. Além disso, deve observar se há a correta assepsia da pele e do material que será utilizado. Do contrário, pode haver inflamações?, complementa. Luciane frisa que a língua também merece cuidados especiais, pois a perfuração num local inadequado pode ocasionar o rompimento dos vasos sangüíneos e até mesmo uma hemorragia. ?O piercing na língua pode prejudicar a mordida e os dentes. É aconselhável que se use, regularmente, um anti-séptico bucal para evitar o acúmulo de bactérias?, completa. Outro cuidado apontado pela dermatologista refere-se ao material dos piercings. Preferencialmente, eles devem ser feitos de aço cirúrgico. ?Para evitar situações desagradáveis, como trocar ou até mesmo removê-los, é melhor que se use este material. Algumas pessoas são alérgicas a outros, como o titânio e o ouro?, acrescenta.
Acupuntura – Coincidentemente, os locais mais usuais onde são colocados os piercings são também pontos de acupuntura, a milenar medicina oriental. Sob esse aspecto, avalia o médico Roberto Yamada, especializado na área, a colocação de piercings pode impedir o tratamento por meio de acupuntura. ?O canto da sobrancelha, por exemplo, é o ponto que chamamos da vesícula biliar e serve para o tratamento de enxaquecas e problemas de visão?, detalha Yamada.
O médico fala que, segundo os princípios da acupuntura, todo estímulo constante deixa de ser estímulo. ?Ou seja, acaba inviabilizando um ponto de acupuntura. Isso não quer dizer que o piercing faça algum mal, mas é uma forma de agressão ao corpo pelos ensinamentos da medicina oriental?, explica Yamada. Outros pontos também têm importância no tratamento via acupuntura (especialidade médica reconhecida no Brasil), como o umbigo e a orelha. O umbigo é um ponto de concepção, de reprodução, e também tem vital importância para os hindus. ?Já a orelha é um micro sistema, uma espécie de resumo de todo o corpo. Conforme a acupuntura auricular, a orelha é semelhante a um feto, onde o lóbulo é a cabeça. Pelos preceitos da acupuntura, qualquer perfuração exclui um ponto para tratamento. Mas essa é uma questão que deve ser analisada por cada indivíduo, caso acredite ou não na medicina oriental?, analisa o médico.
João Pichetti, proprietário da Farmácia Brasil, trabalha com a colocação de piercings há dois anos. Em média, coloca 30 por semana. Em um único dia, já chegou a pôr 17. Ele recomenda que eles sejam colocados no inverno, época em que a transpiração é menor. O suor é um dos fatores que podem provocar inflamação da pele.
João tem algumas histórias interessantes para contar a respeito do assunto. Ele diz que, muitas vezes, as mães acompanham as filhas que irão colocar o adereço e gostam tanto, que acabam voltando no outro dia para colocar um também. Particularmente, uma situação é descrita por João como engraçada. Ele lembra que uma menina foi até a farmácia para colocar o piercing e, ao ver a agulha, desistiu. No outro dia, veio acompanhada da mãe. Novamente, desistiu ao ver a agulha. ?No terceiro dia, ela veio com o pai. Só que este tirou a cinta e falou que ela apanharia na frente de todo mundo se não deixasse perfurar. Assim, deu certo e a menina nem chorou?, conta.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques