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Francisco Beltrão
sexta-feira, 06 de junho de 2025

Edição 8.220

06/06/2025

Primeiro indenizado da usina diz que não foi valorizado

Com o dinheiro que ganhou da desapropriação, comprou um terreno menor e ainda investiu R$ 20 mil em terraplanagem.

Em maio de 2013, Mauro Zapani teve que abandonar seus 14 alqueires de terra na comunidade de Marechal Lott, em Capanema. As obras da Usina Baixo Iguaçu estavam começando. Mesmo sem concordar com os valores oferecidos pela Geração Céu Azul (concessionária da usina), foi o primeiro a ser indenizado por causa da desapropriação. Mas Mauro diz que não teve a valorização que merecia na negociação e perdeu muito dinheiro com isso. “Como fui o primeiro, servi como cobaia. Todo mundo analisou o meu caso para se basear nas negociações futuras. Teve gente que ganhou muito bem pelo alqueire vendido, mas eu não tive a chance de barganhar”, comenta Mauro, que se obrigou a assinar o acordo em novembro do ano passado para pagar suas dívidas. “Fiquei muito tempo sem produzir. A gente nunca foi de faltar dinheiro, mas não tínhamos reserva sobrando para aguentar com o depósito judicial no banco por muito tempo”, comenta.

Mauro diz que a forma de negociação foi covarde, impondo multa de R$ 100 mil por dia em caso de atrapalhar as obras. Antes estabilizado financeiramente, agora ele corre atrás do prejuízo por causa do transtorno da desapropriação da terra. “O engraçado é que eles atrasaram dois meses para me fazer o pagamento. Tive que pagar 2% ao mês de juro para quem me vendeu as novas terras. E isso eu não tenho como cobrar deles com multas”, declara.

Novo terreno
Muita gente diz que os produtores estavam pedindo demais por suas terras e queriam se aproveitar com a construção da usina. Mas a indenização que Mauro recebeu por suas terras não foi o suficiente para comprar uma propriedade do mesmo nível que a anterior. “Tive que comprar dois terrenos com oito quilômetros de distância cada um. Sem contar que são terrenos com dobras, que não consigo aproveitar tanto.” Em um dos terrenos, Mauro gastou mais de R$ 20 mil em terraplanagem para plantar mais. “Mesmo assim não consegui recuperar ainda. Tenho que investir mais. Mas parei de mexer porque não tinha mais dinheiro.”

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Humilhação
Elizabete, esposa de Mauro, diz que o pior problema nem foi financeiro, mas sentimental. “Fomos humilhados por diversas vezes. Teve gente que nos tratou como se fôssemos bandidos. E não é assim. Qualquer pessoa pode passar por isso, até dentro da cidade. A desapropriação é desumana. Essas terras eram do meu falecido pai. Chorei muitas noites até me acostumar com a realidade”, afirma.

Elizabete é professora do Estado. Ela conta que, no início do ano, quase não conseguiu pegar aulas no PSS porque não tinha a certidão negativa. “Tivemos que explicar que o processo que temos em nossa família não é contra a minha pessoa, mas uma desapropriação. Se não fosse o advogado explicar pra documentadora do Núcleo, eu não estaria trabalhando.”

Ela aguarda ansiosa para assumir um concurso como professora do Estado. “Espero não ser prejudicada, pois é preciso ter certidão negativa dos últimos cinco anos e isso eu não tenho”, alerta Elizabete.
Outra questão apontada por Mauro é a forma com que os produtores foram tratados quando brigavam pelos seus direitos, impedindo o início das obras. “Quando chegaram as oito viaturas da Rotam (da PM), meus filhos começaram a chorar. Acharam que eu seria preso. Foi uma pressão psicológica muito forte na família. Sempre fui trabalhador, não sou acostumado com isso. Até que o bispo (Dom José) chegou e acalmou tudo”, diz. 

MAB atrapalhou
Para Mauro, a MAB (Movimento dos Atingidos pela Barragem) só atrapalhou na negociação. “Pode ser que o MAB tenha ajudado alguém, mas não a mim. No meu caso, só atrapalhou na negociação. Eles se aproveitaram de mim para conseguir informações.”

Segundo o produtor, enquanto a negociação estava entre os oito proprietários das terras atingidas pelo canteiro de obras (cerca de 20 alqueires), estava dando certo. Mas com a chegada dos movimentos sociais, ficou mais difícil de conversar. “Ninguém fez nada por mim. Me senti abandonado. Um dia chegou um advogado dizendo que queria me ajudar. Depois fui descobrir que ele queria só ter acesso ao meu processo para saber quanto recebi da indenização”, comenta.

Mauro ainda quer brigar na Justiça por um reconhecimento de suas perdas. Ele, inclusive, procura um advogado fora da Comarca de Capanema para trabalhar no caso. “Tem que julgar fora daqui, não confio mais nos advogados daqui”, reclama o produtor, que só quer a sua vida de dois anos atrás de volta.

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