Mais de 1 mil crianças e jovens já foram atendidos e muitos se tornaram instrutores. Grupo faz apresentações em todo o Sudoeste do Paraná e em SC.

Em 2004, através de um recurso do Fundo da Infância e Adolescente (FIA), do Governo Federal, nasceu o Projeto Arte e Vida, de Arte Circense, em São Jorge D’Oeste. “Veio um recurso de R$ 15 mil. Como eu já participava de um projeto semelhante lá em Toledo, desde 1993, cheguei aqui em São Jorge D’Oeste e conseguimos esse recurso com essa finalidade. Em 2005 nós começamos as atividades. São 10 anos de projeto. É um projeto bacana e atrativo, que desenvolve uma gama de possibilidades, tanto físicas, disciplinares, respeito mútuo e confiança no colega para as crianças”, lembra a assistente social Miriane de Carvalho, coordenadora do Cras e do Projeto Arte e Vida.
O instrutor é Wanderley Paulo Chagas também participou da instalação. “Começou no dia 2 de fevereiro de 2005. Eu vim para cá, ajudei inaugurar, sai do projeto e voltei em 2008. O circo na minha vida aconteceu por acaso. Em 1996, fui na escola de circo em Toledo, fui ver como era e o professor me chamou para participar. Em 1997 eu já estava auxiliando ele e nunca mais parei”, conta.
No começo, o objetivo, em São Jorge, era atender crianças de famílias com vulnerabilidade social. “No começo era só para crianças de 7 a 17 anos. Agora, com o financiamento federal, a gente conseguiu ampliar a faixa etária de atendimento. O foco e a grande maioria dos jovens atendidos são de famílias com vulnerabilidade social, mas como temos espaço, abrimos para toda a população. São 20 horas semanais, com treinos três vezes por semana”, explica. Ela destaca que o projeto depende muito da parceria com o poder público. “Temos que ter investimentos. A gente usa muitos materiais, tem todo o figurino, tem bolas, lira, tecido, som. Levamos 10 anos para estruturar todo esse material. Hoje estamos bem estruturados”.
O projeto já formou diversos instrutores. “O Natan está aqui há 10 anos, o Antônio já está há uns seis, sete anos, o Rudinei que também é instrutor. Eles, hoje, vivem do circo. Não só do projeto Arte e Vida, mas também em outros municípios que também tem o projeto. Nós prestamos serviço em Clevelândia, Vitorino, Saudades do Iguaçu e São Jorge D’Oeste. Aqui foi o primeiro da região. Por isso que temos as crianças tão avançadas”, comemora o professor.

Apresentações em todo o Sudoeste
Os artistas de São Jorge já viajaram para todo o Sudoeste e também para outros Estados. “No ano passado fomos até para Santa Catarina, numa cidade chamada Ituporanga. A gente, no começo do ano, trabalha com todos iguais, indiferente se vem dos outros anos ou não. Aí fazemos uma seleção dos melhores e montamos o espetáculo com os que estão desenvolvendo melhor. Ainda não tenho o espetáculo de 2015, porque é começo de ano e isso leva um tempo. Trabalhamos com tecido e lira acrobática, pirâmides, contorcionismo, acrobacias, pirofagia, malabares, quase tudo da arte circense. É uma apresentação de, aproximadamente, 40 minutos, num show que começa e termina. Não tem paradas no meio, como num circo tradicional, com pessoas explicando o que está acontecendo”, diz Wanderley.
Ele comemora a estrutura que o circo tem hoje. “Temos equipamentos aqui que muitas escolas mais antigas não tem. O trabalho é gratificante e é muito legal ver os pais que ficam impressionados como desempenho dos filhos. Tem alguns que até acompanham a gente para fora, que ajudam a maquiar, organizar os alunos. Tudo o que a gente pede a gente consegue, a prefeitura apoia bastante. Hoje o circo é minha história, minha arte, minha vida. É tudo”, relata.
O projeto não tem foco na formação de artistas para circos tradicionais. “Não temos ninguém que foi trabalhar em circo. Como a gente corre muito atrás desses projetos, os alunos acabam ficando para se tornar instrutor. Ir atrás de circo não dá uma remuneração muito boa, então tendo um projeto, conseguimos ter um salário mensal. Nós temos talentos que poderiam trabalhar em qualquer circo tradicional que iam se dar muito bem. Até nós ficamos de queixo caído com os talentos deles”, ressalta o professor.
Projeto será expandido para as escolas
A partir de agora, a arte circense também será uma oficina nas escolas municipais. O projeto será um contra-turno para o ensino de tempo integral. “Eu acho muito importante ir para os colégios. Os alunos vão aprender brincando. São crianças de 4 a 10 anos que vão pegar o amor pelo circo, pela arte. Não vai ser um treino tão puxado como esse e, eles gostando lá, podem vir para cá. Aqui vai ser um aperfeiçoamento, para preparar eles e deixar mais avançados. Nas escolas é só o básico”, comemora o professor. A primeira-dama, Maria Gaio Paixão, destaca a importância do projeto. “Isso é muito bom. Já temos várias oficinas como opção para os alunos e agora teremos o circo também, que é um projeto muito bonito”.
De bicicleta, aluno ia de Dois Vizinhos até São Jorge para participar das aulas de circo

Antônio Miranda da Silva conheceu a arte circense em Dois Vizinhos. O projeto na sua cidade natal acabou e, para não largar o seu sonho, ele começou a participar das aulas em São Jorge D’Oeste. “Eu conheci o projeto em Dois Vizinhos, quando começo o projeto lá. O projeto acabou lá e eu quis continuar, aí eu entrei em contato com eles e comecei a frequentar as aulas em São Jorge e me aperfeiçoar cada vez mais. Quando estava preparado, o professor me ajudou a organizar um projeto”, conta o aluno.
Quando faltava dinheiro, ele ia para as aulas de bicicleta. “Quando não conseguia ônibus ou não tinha dinheiro eu vinha de bicicleta. Eu comecei no projeto e vi que era isso que eu queria mesmo. Foi uma coisa que me encantou, eu me apaixonei pela arte e continuei”, completa. Dentro do circo, Antônio gosta de trabalhar com acrobacias e saltos. Agora, ele será instrutor nas escolas de São Jorge.
Ele destaca o que o circo mudou na sua vida. “A gente cria uma filosofia de persistência, garra, nunca desistir, sempre tentar melhorar. Tentamos todos os dias melhorar o movimento e, automaticamente, isso entra na vida da gente. Trabalhamos também a confiança e o trabalho em grupo”.
Gabriela, a campeã de apenas 10 anos
No circo há quatro anos, Gabriela Giacomel Rickli, de 10 anos, é um dos destaques do projeto. Ela foi campeã do concurso cultural Pró-Caxias no final de 2014. “Eu apresentei o tecido”, conta timidamente. A garotinha quer continuar no projeto. “Faz uns quatro anos que eu estou no circo. Eu tava na escola, daí apareceu lá que tinha curso de circo e eu quis fazer e estou até hoje. Eu faço tecido, lira, contorcionismo e acrobacias. Eu quero continuar fazendo circo e aprendendo mais”, conclui.