O suspeito de destruir com um trator o sistema de abastecimento do município ainda não foi encontrado.

Foto: Renan Guex/JdeB
O prefeito de Renascença, Lessir Bortoli (PSC), decretou ontem, situação de emergência no município após um vândalo destruir com um trator o sistema de captação de água do município, que abastece mais de 1.800 residências. “Estamos numa situação de emergência, pois a cidade toda está sem água. A Apae já dispensou os alunos, tem criança, tem idoso em casa, estamos no final de ano, festividades, muitas famílias recebem parentes, então é bem complicado. É uma coisa que pega todo o mundo de surpresa”, comentou o prefeito.
Desde a noite de sábado, por volta das 21 horas quando foi constatada a falta de água, as equipes da Sanepar trabalham incessantemente para buscar uma solução para o problema. A bomba que fazia a captação da água acabou caindo no fundo do poço, a 160 metros de profundidade. Uma equipe especializada trabalhou até terça-feira, para tentar a retirada da peça, mas não obteve êxito. Uma nova tentativa com outro equipamento começou na noite de ontem. “É a nossa última alternativa. Há a probabilidade de precisarmos perfurar outro poço artesiano”, disse o gerente da Sanepar de Francisco Beltrão, Lindomar Votteri.
O chefe do executivo do município estava na capital do Estado quando foi informado do fato. “Eu estava em Curitiba assinando um convênio quando fiquei sabendo, só não sabia a gravidade. Depois da tomada de decisão da Sanepar, que viu o estrago, foi que a gente tomou consciência da gravidade dos fatos. O estrago foi muito grande, tanto é que todas as iniciativas ainda não surtiram efeito”, acrescentou Lessir.
Duas carretas e dois caminhões estão transportando água de Francisco Beltrão ao reservatório de água da cidade. “Faz dois dias que não temos mais água. Estou puxando alguns litros para poder fazer comida e para higiene pessoal, mas tá difícil”, disse Osmar Antônio Lamperte, morador de uma das regiões altas da cidade onde ficam as residências mais afetadas pela falta de água. As regiões mais baixas não sofrem tanto com a escassez. “Pra nós não afetou por enquanto, mas isso porque estão abastecendo a cidade”, disse o dono de um restaurante.
Tainara Sansigolo Verza mora no Bairro Cristo Rei e conta que no local todos estão sem água. “Eu tenho caixa d´água, mas já acabou porque é uma parte alta. Um amigo do meu marido tem uma fonte [de água] no sítio, aí fomos buscar. Eu distribuí para alguns vizinhos, mas cada um tá dando um jeito. Muitos têm criança pequena como eu, fica difícil”.
População raciona o uso da água

JdeB – Apesar da situação crítica, a população de Renascença está consciente sobre o racionamento da água. “A população de Renascença é muito compreensiva diante dos fatos. A Sanepar está fazendo o melhor que pode, estamos utilizando todos os nossos recursos, enfim, não medimos esforços para reestabelecer a água”, afirmou o gerente da Sanepar, Lindomar Votteri.
O consumo médio de água no município é de 700 metros cúbicos por dia e na terça-feira, os caminhões conseguiram abastecer pouco mais de 400 metros cúbicos. Portanto, o prefeito Lessir Bortoli reforçou o pedido de racionamento para os munícipes. “Economize muita água, muito mesmo, porque provavelmente só no final de semana será reestabelecido o abastecimento. Por um lado isso nos deixa aliviado pelo esforço [da Sanepar], mas preocupado pelo problema que se criou. Os técnicos da Sanepar estão sendo heroicos na tentativa de resolver. Estão trabalhando praticamente dia e noite, é um trabalho exaustivo e eles têm se dedicado muito”, disse o prefeito.
Ano letivo encerra hoje
Apesar do problema, não foi necessária a dispensa dos cerca de 800 alunos da rede municipal de ensino – Escola Municipal Ida Kummer e CMEI. “Quarta-feira [hoje] é o último dia do calendário escolar, por isso tanto a escola municipal quanto o CMEI estão em funcionamento até o encerramento do calendário. Há um racionamento na questão da limpeza, já para merenda e uso pessoal está sendo utilizado”, disse a secretária de Educação, Cultura e Esportes, Lívia Gutstein.
Na rede estadual, o ano letivo também encerra hoje, por isso os alunos continuaram frequentando o colégio. “Nós temos caixa de água que continua abastecendo o colégio. Não estamos fazendo a limpeza e, inclusive, estava marcada uma limpeza grande que fizemos todos os finais de ano, mas cancelamos. Vamos fazer só no ano que vem”, contou a diretora do Colégio Estadual Padre José Júnior Vicente, Jaquelaine Karkling.
Prejuízo de R$ 500 mil
Se for necessária a perfuração de um novo poço artesiano, os gastos podem ultrapassar os R$ 500 mil. “Estamos preocupados em resolver o problema, qualquer outro assunto será debatido com o departamento jurídico”, disse Lindomar Votteri, gerente da Sanepar. A Polícia Civil de Marmeleiro, que cuida do caso, informou que já tem um suspeito e que as investigações estão em andamento, mas não pode dar mais detalhes.
O sentimento da população é de revolta. “Não conseguimos acreditar que uma pessoa é capaz de fazer um negócio desses. Prejudicou um município inteiro”, disse um morador que não quis ser identificado. Segundo testemunhas, um rapaz com sinais de embriaguez teria destruído a estrutura da Sanepar com um trator. O pai do rapaz disse que foi ameaçado de morte ao tentar impedir o fato. A Polícia Militar informou que o suspeito já tem outras passagens por atos de vandalismo no município.