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Francisco Beltrão
domingo, 01 de junho de 2025

Edição 8.216

31/05/2025

“Um rio por Testemunha” lembra batalha de 1925 em Clevelândia, contra a Coluna Prestes

Dia 9 deste mês, o advogado Nilson Luiz Pacheco Loures e o professor aposentado Guibarra Loureiro de Andrade lançaram o livro Um rio por Testemunha, que retrata o combate do rio São Francisco de Sales, a 14 quilômetros da cidade de Clevelândia, dia 20 de fevereiro de 1925. A Coluna Prestes, que vinha sendo combatida pelo Batalhão de Voluntários Republicados de Clevelândia, teve uma de suas tropas atacada (e derrotada) por uma força legalista comandada por Firmino Paim Filho.

 

Os autores Nilton Luiz Pacheco Loures e Guimarra Loureiro de Andrade|
com um exemplar do livro 
Um rio por Testemunha.

 

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Passados quase 90 anos, é a primeira obra específica sobre o episódio que marcou a história do município, da região e do Paraná, fazendo parte também da história do país, que nos anos 20 vivia um clima de inconformismo da população, devido aos mandos e desmandos do governo federal, corroído pela corrução.

O Jornal de Beltrão entrevistou os dois autores do livro, ambos naturais de Clevelândia. Eles contam como fizeram o livro, lamentam das fontes que perderam, poderiam ter iniciado antes, mas estão satisfeitos com o resultado já obtido, mostraram um fato importante da história que muitos nem sabiam que tinha acontecido.

 

JdeB ? O título é muito bom e como que surgiu a ideia de fazer esse livro?

Nilton Loures ? Muitos títulos, mas optamos por esse, achamos que seria uma coisa mais forte. Na verdade, a referência do livro é o que aconteceu lá, onde os corpos das vítimas do combate eram jogadas na cachoeira do rio São Francisco.

Guibarra Andrade ? Esse livro eu tinha ideia desde que era moleque. Meu avô contava muita história do combate, aqui na cidade eles ouviam muito o tiroteio e eu sempre tinha aquela coisa na cabeça e passou o tempo, passou e acabei esquecendo. Um dia vim aqui, com o que eu tinha até, falei ó, tenho uma ideia de escrever um livro sobre o combate do rio São Francisco, inclusive foi ele (Nilton) que praticamente tocou o livro inteiro porque eu tava muito preguiçoso de fazer o livro e eu escrevi a parte romanceada, a parte documentada, (a parte) histórica é dele e foi ele que puxou, acho que sem ele não sairia o livro porque eu fiz mais, tava mais interessado, meio preguiçoso, faltava dados, não tinha dados concretos. E ele pesquisou muito e saiu. Então foi isso aí, um livro que criamos há quatro anos, demoramos pra fazer, deu muito rolo, faltou dados e depois a gente se animava e parava, sabe como que é, isso tem momentos que incentivam, momentos que não anda, isso aí mais ou menos que aconteceu.

 

JdeB ? E o Nilton, como foi a produção do livro?

Nilton ? Semelhante até o que o Guibarra falou. O que me levou assim a pesquisar mais sobre esse livro foi o fato da participação do meu avô, Aureliano da Rocha Loures, ele nos contava assim quando era criança sobre a participação dele nesse combate, apesar dele não ter uma participação efetiva no combate ele foi importante, inclusive um dos depoimentos mais fortes do livro, mais atrativo, mais chocante do livro é o depoimento dele sobre a visão que ele teve do combate naquela tarde de 1925, quando ocorreu o combate do rio São Francisco. Ele nunca mais esqueceu aquela visão do que ele viu, das pessoas se digladiando, mortes, uma cena chocante que marcou a vida dele, ele comentava isso sobre o rio São Francisco e eu sempre tinha aquela ideia, poxa, alguma coisa a gente vai ter que escrever sobre isso, mas falta de dados, imagina uma coisa acontecida em 1925, quase 100 anos atrás, você procurar, pesquisar. Basicamente, o livro está em cima de depoimentos, de pessoas que participaram ou filhos de pessoas que participaram desse combate tão importante, histórico aqui da região.

JdeB ? Você tinha ideia de escrever outros livros ou esse foi o primeiro?

Nilton ? Não, esse foi o primeiro, nunca tinha me passado pela cabeça. Quando o Guibarra foi meu professor na década de 70 e quando eu li o livro do Guiba (Ventos do Sul) me chamou a atenção e a gente conversando, amigos, surgiu a ideia dele realmente, eu penso em escrever um livro sobre isso e daí me veio a imagem do meu avô. Falei nossa, então fechou corpo com a alma, a vontade de comer com a fome. E a gente começou a pesquisar juntos e depois de dois anos e meio, mais ou menos, de pesquisa, a gente resolveu fazer essa obra. Nenhuma pretensão literária, mas a relatar um fato que a gente sabe, a gente tem essa consciência, né, Guiba, de que se a gente não fizesse isso provavelmente alguém não fizesse, porque veio a parte da minha família que teve participação efetiva, meu pai 92 anos de idade depois que ele ir embora vai ficar muito difícil a gente ter informações mais sobre esse acontecimento e outros aqui da região. Eu historio muito meu pai nessa parte histórica porque ele viu a cidade crescer pela janela da casa dele, ele acompanhou todo o progresso de Clevelândia, desde a época que isso aqui era um povoado até chegar nos dias atuais.

 

JdeB ? O lançamento foi um evento importante aqui em Clevelândia, como está repercutindo?

Nilton ? Muito boa repercussão, as pessoas têm curiosidade de saber, porque é um fato isolado, isso ficou nas gavetas do esquecimento. Às vezes as pessoas falam Nilton, houve realmente esse combate aqui na região? Isso foi importante? Aconteceu? Nunca tinha ouvido falar. É verdade, as faculdades de história não conhecem esse fato, é como eu falei no dia do lançamento, nós tínhamos no Paraná alguns acontecimentos revolucionários, por exemplo, cerco da Lapa, nós tivemos o movimento a Guerra do Contestado, tivemos o levante aqui dos posseiros e o combate do rio São Francisco ficou no esquecimento. Agora o combate do rio São Francisco começa a integrar a parte histórica. Você vê o quanto é importante o resgate de um fato assim, possivelmente ia ficar esquecido se a gente não tivesse tido essa ideia e a felicidade de escrever sobre um assunto tão importante que estava esquecido na história do Paraná e do próprio Brasil.

 

JdeB ? Guibarra, e agora está mais satisfeito, conseguiu fazer o livro?

Guibarra ? Sim, claro. É que também eu sempre gostei muito de falar sobre movimentos de tropas, de combates, coisarada, eu sempre tive, minha formação, fiquei um tempo no quartel e a gente marcou isso. Então eu pedia pra ele, deixa essa parte do combate que eu escrevo, e a parte do avanço das tropas ali e você faz a parte histórica, documentada, a parte efetiva, e ele foi muito eficiente nisso ali. Eu acredito que ficou assim razoável, não ficou claro, a gente não é escritor famoso e nem coisa boa, né, tá fazendo, mas tudo bem, como diz ele, resgatar a história da cidade, que ninguém ia se lembrar disso e inclusive ia acabar morrendo com o tempo, 89 anos atrás, vai fazer 90 agora em fevereiro, e aí acaba sendo esquecido porque o pessoal vai morrendo, até os descendentes já morreram. Nós tivemos a felicidade de encontrar ainda o Jube, que era filho do cabo Greveti, e veio junto com pai e filho. Tivemos o seu Jucão, que nós perdemos, o pai dele que era criança de dois anos na época, mas escutou muito do avô do Tino, pai do seu Mozart, que contava história, e também a gente deixou de pegar seu Manuel Martins. É que decidimos agora, há dois anos, se tivesse tido uns 15 anos atrás tinha pego muita testemunha, o pessoal vai passando. Mas tô satisfeito com o livro. A repercussão foi boa, internet principalmente, facebook teve muito comentário, amigos que me mandaram muitos e-mails também.

 

Nilton ? E a gente também, recebi semana passada convite até para algumas palestras de faculdades de história, o livro realmente chamou atenção porque é um fato isolado que ninguém conhecia. Além de adquirir o livro, eles querem também a parte histórica, que faça alguma palestra, que fale mais efetivamente sobre esse combate, então é uma coisa que deixa  gente feliz, de saber que a repercussão tem sido boa e até as próprias faculdades têm manifestado interesse em palestras, em estudos sobre esse combate, deixam a gente muito feliz.

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