
Ciro Duarte de Paula Costa,
Clézio José da Costa
A UTFPR de Dois Vizinhos comemorou, nesta semana, o recebimento duas cartas de patente verde para a Núcleo Nativa, empresa incubada no hotel tecnológico da instituição. Eles desenvolveram uma bandeja sementeira móvel e uma bandeja para a produção de placas de mudas florestais. O processo, entre o pedido e a emissão da carta pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), durou menos um ano, tempo considerado recorde pelos envolvidos. “Nossas patentes entraram na categoria das patentes verdes, que é um programa específico para atender tecnologias relacionadas a questões ambientais. Sustentabilidade, na parte de engenharia florestal, das agrárias, engenharias químicas”, diz Silviane Tibola, responsável pela divisão de propriedade intelectual no campus.
O deferimento foi publicado na Revista de Propriedade Intelectual. Os projetos foram desenvolvidos pelo professor Dr. Fernando Bechara em parceria com os acadêmicos de Engenharia Florestal Ciro Duarte de Paula Costa, Valéria Mariano da Silva e Clézio José da Mota. “O entendimento do INPI para lançar esse programa foi que tinha algumas tecnologias relacionadas a sustentabilidade que demoravam muito para ter a carta de patente e o inventor não se sentia confortável de negociar a tecnologia. Então, muita coisa que a sociedade tinha emergência não ficaram disponíveis por causa do processo demorado”, explica Ciro.
No Brasil, apenas 13 patentes verdes foram liberadas desde o início do projeto pelo INPI. Desse total, apenas duas (as da UTFPR) vieram para o Paraná. “Criar só a patente é uma questão de conhecimento, mas nós conseguimos criar uma forma de facilitar a vida de agricultores. Essa é nossa obrigação. A sociedade paga para a gente estudar e queremos retribuir isso de alguma forma. As patentes, essas que já saíram ou outras, têm como objetivo chegar a esse povo e facilitar o dia-a-dia no campo”, comenta Clézio.
Próximos passos
A partir de agora, a empresa já começa a planejar os próximos passos. “Nossa equipe tem sondado algumas parceiras. Como trabalhamos com serviços, não está no nosso planejamento estratégico montar uma equipe para buscar a comercialização de produtos. Por isso, procuramos um parceiro que tenha abertura nas grandes empresas florestais do Brasil. A gente já tem umas pesquisas com algumas empresas internamente. Depois de fechar, podemos desenvolver o protótipo já com um parceiro que tenha toda a estrutura para pesquisa e desenvolvimento de novos produtos”, estima Ciro.
A universidade continua apoiando a Núcleo Nativa. “Nós damos o suporte na parte da escrita, encaminhamento dos processos e até temos outros ai rodando. A UTFPR de Curitiba também ajuda. Aqui, trabalhamos com coisas mais pontuais e temos uma equipe em Curitiba, na agência de inovação, que dá todo o suporte direto junto ao INPI e nesse trabalho de buscar parceria, prospecção do mercado”, completa Silviane.
A empresa já depositou sete processos de patentes, dois foram deferidos, um indeferido e outro foi mudado da categoria de invento para modelo de utilidade. “Agora, estamos preparando um novo pacote para 2014 que está para vir com esse mesmo número. Talvez não tenhamos sucesso em todos, mas alguns saem”, adianta Ciro.
Momento histórico
O diretor do campus, Alfredo de Gouvêa, trata a questão como histórica. “Essa conquista é inédita para a UTFPR. Essa questão de patentes ainda é recente em todo o Brasil. Na América do Norte, desde muito tempo, tem garantido seus inventos, protegendo seu conhecimento através de patentes. A conquista deles tem um valor simbólico muito grande não só como campus de Dois Vizinhos, mas como UTFPR”, comemora.
O diretor destaca que, desde seu início, a instituição sempre esteve muito próxima da indústria. Em virtude disso, muita pesquisa realizada dentro da UTFPR é aplicada para inventos, sejam eles procedimentos ou produtos. “Para a UTFPR o ocorrido é importante em virtude do nosso diferencial, mas para o campus é um impacto grande. Eu trabalho no mestrado e todo mundo, na apresentação do projeto, mostra uma pesquisa pela pesquisa. Por exemplo, se desenvolve um método de análise de salame, um método novo, que não existe e só fica no papel, vira um artigo científico publicado e público. Então, eu tenho cuidado para dizer para os alunos que os trabalhos de pesquisas são algo que geram patente por serem métodos novos e precisam ser registrados. Começamos a despertar para isso. O Brasil precisa despertar para isso porque tem muito conhecimento aqui. Nós pagamos quantas patentes para ter um celular, por exemplo? Tem gente se beneficiando do nosso conhecimento e não ta pagando nada por isso”.
A Núcleo Nativa foi a primeira empresa hospedada no campus. “A gente caiu num substrato fértil que foi o hotel tecnológico. Aprendemos juntos com a instituição e conseguir chegar com esse resultado dentro das ciências agrárias foi algo incrível, porque não é algo comum de se ver nessa área”, conta Ciro.
Fomentar as patentes
Desde que o aluno ingressa no campus de Dois Vizinhos, ele já começa a ouvir sobre patentes. “Todas as turmas que entram nos nossos cursos passam por uma palestra sobre o asunto. Eu trabalho o conceito básico e instigo eles para que façam uso dos bancos de patente como base de pesquisa. Quando eles chegam a reta final e estão desenvolvendo seus trabalhos de conclusão 1 e 2, a gente entra mais uma vez resgatando o assunto. No segundo momento, o diretor fez um trabalho de liberação de recurso, que é inédito, para apoiar os projetos com foco em patente. A universidade subsidia R$ 1 mil por trabalho para apoiar o aluno na pesquisa. Além disso, a universidade paga pelo registro, dá todo o suporte técnico, ajuda a escrever a redação de patente, todo o aspecto legal”, relata Silviane.
O diretor já pensa em incluir recursos para as empresas incubadas. “Já temos que pensar algo para que, no nosso modesto orçamento, a gente consiga destinar algo para as empresas incubadas. Temos que trabalhar a capacitação dos estudantes/empresários. A Silviane, que veio de fora para nos ajudar com a experiência, juntamente com esses alunos e o professor Bechara, que tiveram um papel importante para esse processo. Um professor com uma boa intenção não faz patente. Tem que ter um aluno que se motive e que, nessa conquista, consiga provocar outros professores. Essas patentes estão nos provocando. A gente vê que pode ter mais recursos, mais currículos, ter uma porta aberta no mercado de trabalho. É um outro passo que é muito importante. Eu pensei que íamos parar nesse papel, mas agora eles querem se mostrar para o mercado, buscar investidores. É um ciclo que começou”, avalia.
Recursos para a universidade
Alfredo comenta que, em determinado momento, as patentes vão sustentar a incubadora. “Esses dias eu estava vendo uma matriz orçamentária de um campus e vi um recurso razoável injetado no hotel tecnológico. Parabenizei o diretor que me explicou que já era retorno dos royalties. A tendência, no futuro, é isso se sustentar. Desse recurso, parte vem para universidade e vai bancar os que estão entrando”.
Os alunos/empresários já estão ministrando diversas palestras. “A Núcleo Nativa está desmistificando um pouco as patentes. Nos último ano, ministramos quatro oficinas na UTFPR de Dois Vizinhos e em duas universidades fora do Estado sempre com o intuito de levar um pouco desse nosso privilegio para outros alunos, principalmente, de escolas públicas. A gente sabe que os corredores estão entupidos de ideias e basta o pessoal saber que a ideia tem valor e como fazer. O que Dois Vizinhos tem de proximidade com os professores e diretor é impressionante. Isso dá poder ao aluno. Às vezes você tem uma ideia e consegue discutir com o aluno no momento e ajuda”, conclui Ciro.
No próximo dia 24 de maio, Ciro e Silviane vão ministrar o workshop Gestão da Inovação, organizado pela Associação Comercial e Empresarial de Dois Vizinhos (Acedv). Maiores informações pelo telefone 46-3536-1235.