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Francisco Beltrão
segunda-feira, 30 de junho de 2025

Edição 8.235

28/06/2025

ANIMAL SILVESTRE

“Sempre teve onças na região, agora que começaram a aparecer”

Nova (ou não?) imagem de onça parda que circula pela internet. Não consta o local. Nem a data. Foto: Assessoria.

JdeB – “Mas homem, se eu te contar que aqui no sítio, um vizinho do lado, essa semana de noite a onça pulou nos terneiros e eles estavam com as luzes todas apagadas na casa, quando acenderam a luz a onça tava no pátio da casa e a guaipecada em roda. Se fincou na tela da horta, arrebentou tudo e foi o mundo. Isso aí tá tomado conta, em tudo que é canto tem onça. E essa vaca dos Freire nasceu de novo, olha onde ela pegou. Não sei como não matou a vaca. Eles vão dar um jeito nessa onça quando ela começar a pegar os bezerros dos fazendeiros, daí os caras vão matar ela. Mas enquanto é dos coitadinhos eles não dão muita bola.”

Quem fala assim, numa gravação pelo whatsapp, é um agricultor de Francisco Beltrão. Ele prossegue assim:

“Ah, rapaz, isso aí sempre teve, na verdade. É que o povo não enxergava; ficavam escondidas. E agora o bicharedo perdeu a vergonha na cara e começaram a aparecer pro limpo. Isso aí faz muitos anos, homem do céu, que eu falo que tem onça aí. Pois eu sei, eu vivia pros matos e a gente, queira ou não queira, conhece um pouquinho das capoeiras. Sabe, numa corrida de cachorro, quando é um bichinho e quando não é. E eu venho falando há muito tempo pros caras que na nossa região tem onça e os caras tiram sarro da gente, mas é bom, agora eles tão ligados, tão vendo.”

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Comentários como este se intensificaram após a informação de que “mais animais foram atacados e mortos e proprietários suspeitam de onça” (Jornal de Beltrão do dia 4 deste mês). Uma vaca com corte profundo na nuca e sua bezerra de 40 dias que sumiu, na propriedade de Luíza Furlan, da Barra Bonita, interior de Francisco Beltrão.

Onças no Oeste de Santa Catarina

Reportagem de Ricardo Orso, do Portal Peperi, informa que moradores do interior de São Miguel do Oeste (SC) estão preocupados com “possível presença de onça” em suas propriedades. Ricardo informa que Leandro Jair Bruckmann, da Linha 7 de Setembro, em viagem para o Rio Grande do Sul, notou que havia alerta nas câmeras de segurança de sua propriedade. “Vi que os cachorros estavam muito agitados e latindo bastante. Ao focar a imagem, percebi um vulto que, pelo formato, parecia ser uma onça”. Leandro também informou que em comunidades próximas também circulavam informações sobre presença de onças.

Não tem o que fazer?

Moradores das linhas Freire e Barra Bonita solicitaram visita de técnicos do IAT (Instituto Terras e Água), mas como a equipe estava de férias o IAT repassou o pedido ao pessoal da Polícia Ambiental, que tem escritório em Marmeleiro.

Pessoal da Polícia Ambiental esteve na propriedade de Luíza Furlan, mas como a bezerra havia sumido, disseram que não podiam fazer nada, nem confirmar se se tratava de onça não. Orientaram os moradores a proteger seus animais, à noite.

Em conversa com a reportagem do Jornal de Beltrão, mas sem ninguém se identificar, pessoal da Polícia Ambiental também admite que existem onças pardas na região – “a gente sabe que tem, e elas se criam rápido” –, e que elas atacam animais domésticos quando lhes falta sua caça natural, como pacas e outros animais silvestres, mas que dificilmente atacam seres humanos, até porque são de menor porte que a onça pintada. Que não tem o que fazer a não ser proteger os animais. E que, nas atuais circunstâncias, “fica difícil tomar alguma providência”.

Animais mortos já apareceram vários e os agricultores não admitem que se trate de ataques de cachorros, inclusive cachorros também já foram atacados e mortos. Uma providência que seria importante é conferir se os vídeos de onças que as pessoas apresentam são da região.

Onça parda por todo o Brasil

Pesquisa na internet dá informações com as que seguem:

“Sim, uma onça-parda foi filmada em Cianorte, no Paraná, na madrugada de 14 de dezembro de 2024. O animal foi visto caminhando em uma estrada perto do Parque Municipal Cinturão Verde.”

“Moradores do Bairro Cidade Nova, em Cáceres, a 220 km de Cuiabá, foram surpreendidos após uma onça-parda aparecer pela região, na tarde desse domingo (1°). Durante o ‘tour’ pela cidade, o animal foi flagrado em cima do portão de uma casa.”

“Uma onça parda foi resgatada, na manhã desta segunda-feira (7), dentro de uma casa em Santana do Paraíso, no interior de Minas Gerais.”

Predador carnívoro

O site Onçafari (idealizado e criado pelo ex-piloto de Fórmula 1 Mario Haberfeld, em 2011) informa o que segue, sobre a alimentação da onça parda:

“A onça-parda é um predador estritamente carnívoro. Porém, a espécie é uma das mais generalistas entre os felinos. Na falta de presas grandes, os pumas podem comer uma variedade grande de presas, incluindo lagartos, aves e insetos.

A tática de abate da onça-parda é um pouco diferente da tática da onça-pintada. Ela, geralmente, mata mordendo o pescoço das vítimas, asfixiando-as. Na maior parte das vezes, elas começam a comer pela região das costelas e da barriga (vísceras) e, quando estão satisfeitas, escondem a carcaça com folhas, terra e galhos para voltarem a se alimentar no dia seguinte.”

Quanto pesa uma onça?

A onça pintada é maior que a onça parda. O peso médio de um macho que onça pintada é de 80 quilos e, de uma onça parda, 60 quilos.

Como enfrentar uma onça?

Na internet também tem orientações para enfrentar uma onça, com respostas para várias perguntas, como estas que seguem.

Como espantar onça-parda?

O que fazer para fugir de uma onça?

Do que é onça-parda se alimenta?

Tem onça na Serra do Cipó?

Que tipo de onça tem em Minas Gerais?

Qual é o ponto fraco da onça?

Do que é que a onça tem medo?

O que atrai a onça?

Como defender os dois lados?

Por Ivo Pegoraro É bom deixar claro que, nesta “disputa” que está havendo entre onças e agropecuaristas, nós da imprensa não tomamos posição de um lado ou outro. Defendemos a sobrevivência dos animais silvestres e também os rebanhos dos criadores. Como chegar a isso?

É desafio que está aí esperando por gente que queira contribuir e não apenas tirar proveito da situação. O que se percebeu, desde o início de novembro passado, quando animais domésticos, de finalidade comercial, voltaram a aparecer mortos, por ataques de onça, foi a falta de manifestação de ecologistas e das autoridades que defendem a ecologia.

Quando aparecem mortos animais com quase 200 quilos de peso, com sinais claros de que foram atacados por feras, atribuir ao ataque de cachorros, para a cultura dos agricultores que vivem no meio rural é piada. Cachorro não faz isso. Hoje já se vê mais gente admitindo que onças pardas existem por muitas regiões do país e da América. Que bom que existem. Mas não se pode admitir que, para sua sobrevivência, sejam sacrificados animais domésticos e que somente pequenos criadores arquem com essas despesas.

Sabe-se de agricultores que, por se sentirem desamparados, mesmo sabendo que é crime, decidem matar esses animais e enterrá-los, como muitos têm feito com árvores. E aí um vizinho desafeto denuncia e quem pensou se livrar de um prejuízo acaba entrando em outro, porque precisa se defender na justiça.

O problema é complexo e depende também de melhorar a legislação. Vejo o caso da Estrada do Colono. Proibiu-se sua reabertura de um modo. Acho que os ecologistas perdem, em casos como este, a oportunidade de dizer sim, pode ser reaberta, desde que… Eu incluiria no projeto, por exemplo, a destinação de certas áreas para os animais silvestres. Temos muitas áreas de matas, mas separadas. Fosse uni-las, teríamos ambiente próprio para a sobrevivência tanto das onças como de suas caças naturais, como capivaras, quatis, cutias e tantas outras. Poderíamos ter extensões dos parques naturais, como o nosso do Iguaçu.

É sonhar demais? Seja como for, o que não se pode admitir é que o custo da sobrevivência desses animais silvestres que ainda restam, como a brava onça parda, dependa somente dos animais de pequenos criadores.

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