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Francisco Beltrão
quinta-feira, 29 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Agrotóxicos podem ter relação direta com casos de depressão e suicídios, alerta psiquiatra

Foto: Jônatas Araújo/ Arquivo JdeB.

Por Niomar Pereira – Na última década o Paraná registrou 117.557 intoxicações exógenas, das quais 13.126 foram causadas por agrotóxicos agrícolas, agrotóxicos domésticos (inseticidas) e raticidas. Os agrotóxicos só perdem para os medicamentos, que foram responsáveis por mais da metade das intoxicações (65.274). O que mais chama a atenção é que 57.159 casos de intoxicações exógenas tiveram como motivo tentativas de suicídio, outras 25.725 foram acidentais e 14.435 por abuso.

Na mesma esteira, a região Sudoeste do Paraná teve 6.454 casos de intoxicações, mais da metade por medicamentos (3.919). Em segundo lugar, com 717 registros, as intoxicações por uso de agrotóxicos agrícolas, 185 por agrotóxicos domésticos (inseticidas) e outros 256 por raticida.

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Esses são os casos mais graves, atendidos normalmente diretamente em rede hospitalar, mas ainda há bastante subnotificação. Muitas destas intoxicações ocorrem por exposição direta em virtude do trabalho com o químico em lavouras ou por tentativas de suicídio. Os dados foram consultados pela reportagem do Jornal de Beltrão no DataSus.

O médico psiquiatra Cícero Bezerra de Lima diz que há estudos que mostram uma grande correlação entre as regiões que mais consomem agrotóxicos no País e o aumento dos casos de doenças mentais, que acabam levando ao suicídio.

Segundo ele, é preciso levar em consideração não apenas a contaminação direta, que ocorre através do manuseio, ingestão ou inalação, mas também a indireta, quando a população consome água e alimentos contaminados. “Nem só o pessoal que lida diretamente com o agrotóxico está sujeito à contaminação, mas de uma forma indireta a população também pela água e pelos alimentos. Então, existe, sim, uma relação direta entre a contaminação por agrotóxico e a depressão, que, por sua vez, pode levar à tentativa de suicídio.”

Cícero salienta que os organofosforados, usados em larga escala na região, parecem apresentar mais tropismo (tendência de ir) para o sistema nervoso, desencadeando doenças psiquiátricas, principalmente depressão.

Agrotóxicos e o perigo

De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde do Paraná, os agrotóxicos são substâncias químicas utilizadas pelo homem no controle de organismos considerados pragas, sejam esses animais, vegetais, fungos ou micro-organismos; essas substâncias podem ser empregadas em indústrias, na agricultura, pecuária, veterinária, saúde humana ou campanhas sanitárias. Elas foram desenvolvidas para interferir em processos biológicos naturais, portanto, todas têm propriedades tóxicas altamente prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente.

Os agrotóxicos são destinados ao uso nos setores agrícolas e também em ambientes urbanos, hídricos e industriais. O maior uso de agrotóxicos se dá na agricultura, ainda que haja utilização para uso doméstico no controle de pragas e vetores, na preservação de madeiras, por empresas desinsetizadoras e em atividades de controle de endemias.

Saúde está preocupada e tem um plano de ação

A enfermeira Nádia Zanella, chefe da 8ª Regional de Saúde de Francisco Beltrão, observa que a subnotificação de casos de intoxicações ainda é um desafio. Ou seja, os números podem ser muito maiores do que os apresentados nos relatórios atuais. “Apesar da região Sudoeste estar entre as regiões que mais consomem agrotóxicos, temos poucas notificações no Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação de Intoxicações). A maior parte destas intoxicações notificadas foram causadas por agrotóxicos de uso agrícola, seguida pelos de uso doméstico.”

Ela relata que nos municípios de abrangência da 8ª RS, o maior número de intoxicações tem relação com trabalhadores da agricultura. Nádia diz que a Secretaria Estadual de Saúde está preocupada e elaborou o Plano Estadual de Vigilância em Saúde de Populações Expostas aos Agrotóxicos para o controle e monitoramento dos impactos causados pelos agrotóxicos para a população e o meio ambiente do Paraná.

São 10 ações estratégicas, buscando subsidiar os profissionais de saúde para o acolhimento, diagnóstico, tratamento, notificação e acompanhamento da saúde dos trabalhadores e população exposta aos efeitos agudos e crônicos dos agrotóxicos no Estado do Paraná.  Na área da 8ª Regional de Saúde foi formado um grupo técnico e um plano regional de vigilância e atenção à população exposta aos agrotóxicos, considerando as características dos 27 municípios que a compõe.

Nádia acredita que a qualificação do banco de dados é uma ferramenta que pode ser utilizada no convencimento da população quanto a importância do uso de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), cuidados no uso e manuseio dos mesmos frente à contaminação da água do solo e alimentos, “pois a informação é um importante instrumento de conscientização”.

Sintomas básicos de uma intoxicação por agrotóxico

Intoxicação aguda: náuseas, tonturas, vômitos, desorientação, dificuldade respiratória, sudorese e salivação excessiva, diarreia, chegando até coma e morte.
A enfermeira Nádia Zanella destaca ainda que pode ocorrer surgimento tardio dos sintomas, após meses ou anos de exposição, acarretando danos muitas vezes irreversíveis. “Os sintomas são subjetivos, o diagnóstico e nexo causal são difíceis de serem estabelecidos. Podem ocorrer distúrbios comportamentais como irritabilidade, ansiedade, alteração do sono e da atenção, depressão, cefaléia (dor de cabeça), fadiga (cansaço), parestesias (formigamentos), etc.”

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