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Francisco Beltrão
domingo, 01 de junho de 2025

Edição 8.216

31/05/2025

Álcool: a linha entre o consumo recreativo e a dependência pode ser tênue

Em janeiro, a equipe do Caps AD 2, de Francisco Beltrão, prestou 622 atendimentos.

Um sofrimento para o dependente e para toda a família. Assim é o alcoolismo, que é considerado uma doença. A principal forma de evitá-lo é levando a sério os cuidados com a saúde física, mental e espiritual, através de bons hábitos. 

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Ana Paula Reolon Bortolli, enfermeira e coordenadora do Caps AD 2 de Francisco Beltrão, sugere participar de atividades da comunidade, ter uma dieta bem equilibrada, dormir o suficiente, fazer atividades físicas regularmente, evitar usar drogas ilícitas e álcool, participar de um grupo de ajuda e conversar com seus queridos sobre as preocupações. 

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No mês de janeiro deste ano, a equipe do Caps AD 2 prestou 622 atendimentos. O serviço é municipal, de “porta aberta” — não necessita ser encaminhado por algum outro serviço da rede — para a população de Francisco Beltrão. As pessoas que não são de Francisco Beltrão têm como referência o Caps AD 3 Regional, situado em Marmeleiro. Confira a entrevista. 

 O Caps AD 2 está localizado na Rua Minas Gerais, 844. Bairro Alvorada.


JdeB – As doenças emocionais estão relacionadas ao consumo de álcool?
 
Ana Paula Reolon Bortolli:
Sim, é relevante lembrar que corpo e mente (físico e emoções) estão diretamente interligados. O efeito imediato do álcool é excitatório, liberando serotonina, um neurotransmissor associado a alegria e satisfação, por isso as pessoas ficam desinibidas e até mais corajosas.

Mas, passado esse primeiro momento, o álcool começa a deprimir o sistema nervoso central por aumentar as quantidades do neurotransmissor Gaba, que pode causar perda de consciência.

A serotonina também atua regulando o humor, sono, apetite, ritmo cardíaco, temperatura corporal, sensibilidade e funções cognitivas e, por isso, quando se encontra numa baixa concentração, pode causar mau humor, dificuldade para dormir, ansiedade ou mesmo depressão.

Como resultado da diminuição da serotonina, começa um processo cíclico, a pessoa bebe para aliviar os sintomas, o que faz com que os níveis de serotonina no cérebro sejam reduzidos, levando a uma sensação ainda maior de depressão e ansiedade e, assim, necessitando de mais álcool.

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Mas sabemos que o álcool é uma droga lícita, comercializada e acessível e aceita culturalmente, porém, a linha entre o consumo recreativo e a dependência pode ser tênue, uma vez que, além da quantidade e frequência de uso, a condição de saúde do indivíduo e fatores genéticos, psicossociais e ambientais também influenciam.


Como identificar a dependência química?
Segundo a classificação da OMS, a dependência química é definida como um conjunto de sintomas que se desenvolvem após o uso repetido de álcool, quando o consumo é compulsivo, ou seja, o indivíduo apresenta um impulso desenfreado de ingerir o álcool.

Quando o uso recreativo passa a ser uma dependência, apresenta uma série de sintomas de alerta: forte desejo de beber, dificuldade de controlar o consumo (não conseguir parar de beber depois de ter começado), uso continuado apesar das consequências negativas, maior prioridade dada ao uso da substância em detrimento de outras atividades e obrigações, aumento da tolerância (necessidade de doses maiores de álcool para atingir o mesmo efeito obtido anteriormente e por vezes sinais físicos) e sintomas como sudorese, tremedeira e ansiedade quando não está bebendo.  

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O álcool pode servir como uma fuga?  
Sim, para uma mente adoecida, ele pode ser visto como um “anestésico” momentâneo para emoções difíceis, momentos difíceis, fazendo com que passe a evitar o enfrentamento dos problemas da vida. De acordo com a OMS, não existe um nível seguro para o consumo de bebidas alcoólicas.

Nesse sentido, entende-se que o uso traz riscos à saúde, especialmente se a pessoa beber mais de duas doses por dia e não deixar de beber pelo menos dois dias na semana. O álcool também pode revelar ou intensificar nossos sentimentos, evocando memórias do passado de traumas ou provocando sentimentos reprimidos que estão associados com eventos dolorosos do passado ou presente.

Reviver essas memórias e sentimentos sombrios, enquanto está sob a influência de álcool, pode representar uma ameaça para a segurança pessoal, bem como a segurança dos outros. Uma prova disso são os dados da OMS que dizem que cerca de 5% a 10% das pessoas dependentes de álcool terminam suas vidas pelo suicídio.  

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Como pode ser o tratamento? 
Não existe uma receita universal, por isso, o indivíduo e família precisam de uma abordagem multidisciplinar, ou seja, de muitos profissionais com formações diferentes, além da assistência médica, como psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, educadores sociais etc.

O ponto de partida é avaliação da equipe multiprofissional e, de acordo com as necessidades do paciente, é contemplado desintoxicação, tratamento, reabilitação e reinserção social do usuário. Esses passos acontecem através da elaboração, junto ao paciente, de um Plano Terapêutico Individual.

O tratamento não busca exclusivamente a abstinência da pessoa, mas o resgate da sua autonomia, da dignidade, dos laços familiares, o retorno às atividades de trabalho, de estudo e religiosas. Enfim, contribuindo para a reintegração da pessoa na sociedade.  

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A internação é possível?  
A internação acaba sendo a última alternativa sugerida no tratamento, isso se dá somente mediante indicação médica, diante da necessidade de desintoxicação ou estabilização clínica ou psiquiátrica.

Atualmente, o serviço mais utilizado para encaminhamentos na rede é o Caps AD 3 Regional de Marmeleiro, onde a pessoa pode ficar até 14 dias acolhida voluntariamente, passando pelo processo de desintoxicação.

Contudo, quando o indivíduo apresenta comprometimento psíquico grave e oferece risco para si ou para terceiros, a legislação atual contempla a internação involuntária (contra a vontade do usuário), que se dá mediante indicação médica e responsabilização de um familiar.

Este tipo de internação no SUS acontece em hospitais psiquiátricos que são credenciados à Central Estadual de Regulação de Leitos do Paraná.  

Ana Paula Reolon Bortolli, coordenadora do Caps AD 2 de Francisco Beltrão.


Como é o trabalho do Caps AD 2?

O Caps AD 2 conta com uma equipe multiprofissional composta por profissionais da área médica, assistência social, psicologia, enfermagem, terapia ocupacional e educadores sociais e voluntários. Atende em regime ambulatorial/dia, está disponível das 7h30 às 17h, de segunda a sexta-feira, não fecha para o almoço.

O Caps AD não possui acolhimento noturno (internamento), estes casos são referenciados para o Caps AD 3 Regional de Marmeleiro. O Caps AD 2 está localizado na Rua Minas Gerais, 844. Bairro Alvorada. Fone: (46) 3524 3619.

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