Saúde

Elas não são visíveis aos olhos, mas estão presentes mesmo assim. As cicatrizes emocionais podem causar tanto sofrimento quanto as físicas. “A vida é um longo percurso, repleto de experiências traumáticas e prazerosas. Essas vivências podem acarretar doenças físicas e emocionais, mas não há uma separação rígida, pois mente e corpo são entrelaçados. Em algum momento da vida somos machucados, passamos por perdas e fracassos que geram cicatrizes emocionais, que precisam ser tratadas”, destaca Jaqueline Tubin Fieira, psicóloga psicanalista.
Ela explica que as cicatrizes emocionais são traumas, que se apresentam de forma particular e ocupam dimensões diferentes em cada um. “Cada trauma é único e resulta da história de vida do sujeito e da sua constituição psíquica. Além do trauma, há a representação traumática, que é a forma como o sujeito lida com a lembrança e as consequências do trauma. A representação traumática pode ser mais intensa e prejudicial do que o próprio trauma.”
Foi o que aconteceu com Patrícia Misturini Dalla Costa, que em dezembro de 2018 ficou quase uma semana internada na UTI por causa da Síndrome de Guillain Barré, uma doença de caráter autoimune que causa fraqueza muscular e formigamento. Sua ansiedade iniciou no período de banho, já que, em seguida, às 17h, era o horário de visita e ela ficava na expectativa de quem iria vê-la. “Foi assim cinco dias. Mesmo com a alta, ainda hoje, nos fins de tarde eu sinto essa tristeza e ansiedade. Faço tratamento com psicólogo e psiquiatra e tem dias que não sinto nada.”
De acordo com Jaqueline, é neste sentido que a psicoterapia pode contribuir: “Não dá para mudar o trauma, não tem como alterar o que aconteceu, mas, por meio da psicoterapia, pode-se buscar uma forma mais consciente e autônoma de lidar com as consequências do trauma”.
A psicóloga acrescenta que as dores emocionais ocasionadas pelos traumas psíquicos podem ser tratadas de diversas formas, com abordagens alternativas ou meios tradicionais. A psicoterapia, de abordagem psicanalítica, contribui para a compreensão do psiquismo de cada sujeito, buscando a sua reconstrução. A psicoterapia redireciona o sujeito para entrar em contato com as angústias geradas pelas dores emocionais. Ao saber mais sobre si, o sujeito torna-se mais autônomo e independente em relação às suas experiências traumáticas, não sendo meramente conduzido por elas.
Ferida do passado
Ana Paula Tenório Francischett ressalta: “O que eu aprendi é que o emocional é tal e qual o físico. Para feridas emocionais cicatrizarem, o tratamento vai ser dolorido, em especial quando se busca o autoconhecimento. Quando se é levado a olhar lá atrás e descobrir que o que te angustia no presente é uma ferida do passado. Muitas pessoas nem reconhecem a ferida e sofrem a dor”.
Uma luta diária
“As minhas são emocionais, e mesmo assim não estão curadas”, comenta Sonale de Souza Rocha. Ela considera que as cicatrizes emocionais representam uma grande luta e também aprendizado. “No dia em que meu filho [Anthony] teve uma parada cardiorrespiratória de mais de 30 minutos, minha ficha não havia caído, mas depois, com o tempo, aquilo foi me prejudicando, pois eu não via melhoras nele”, relembra.
“Tudo aconteceu na dieta, então eu tive recaída, chorei muito no quarto de hospital. O que me fortaleceu foi a mão de Deus, me apeguei muito na fé, tudo entregava a Deus, desde o amanhecer até o anoitecer. Até hoje isso acontece, pois Deus tem me sustentado até aqui”, afirma Sonale.
Desde aquele dia, em que Anthony passou mal, já se passaram quatro anos e meio de uma luta diária. “Rotina puxada com meus dois filhos e um sendo especial e vivendo em UTI domiciliar toma todo meu tempo do dia. Ele está sendo meu sol, meus dias giram em torno dele. Tem dias que estou tão aflita, procuro ler livros que falem de esperança, ler a Bíblia, me distrair de tudo que não me traz paz.”