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Francisco Beltrão
quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.213

28/05/2025

Casos de suicídios e tentativas de suicídios se agravaram com a pandemia

Os principais fatores de risco para o suicídio são: história de tentativa de suicídio e transtorno mental.

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Foto: Jônatas Araújo.

Por Niomar Pereira – Mais de 327,6 mil pessoas cometeram suicídio no mundo de 1º de janeiro até anteontem, 21 de abril. A estimativa é da Organização Mundial de Saúde (OMS) e mostra o quanto os problemas de saúde mental estão impactando globalmente.

Psicólogo e psicanalista beltronense Érico Peres Oliveira. Foto: Arquivo Pessoal.

No Brasil, a situação também é grave, pois assim como o resto do mundo, o País vive uma epidemia de suicídios, com um quadro que se agravou durante a pandemia de coronavírus. Na região Sudoeste do Paraná, só no primeiro trimestre de 2022, são mais de 25 casos de suicídios e incontáveis tentativas. No mundo, o suicídio é a terceira causa de morte e o Brasil se encontra entre os 10 países com os maiores índices de casos notificados.

O psicólogo e psicanalista beltronense Érico Peres Oliveira alerta que a pandemia piorou, sim, mas, segundo ele, existem muitos outros elementos a serem analisados. “Eu diria que ninguém cometeu suicídio por causa da pandemia. Ela só piorou algo que já estava ali. E o melhor caminho, no meu ponto de vista, é diminuir o preconceito sobre a busca por ajuda. Vejo relatos diários no consultório de pessoas que não buscam, mesmo com muito sofrimento, por medo dos julgamentos.” Leia mais a baixo.

Pesquisa revela dados preocupantes

Enfermeira Aline Biezus, ex-secretária municipal de Saúde. Foto: Arquivo Pessoal.

A enfermeira Aline Biezus, ex-secretária municipal de Saúde de Francisco Beltrão, fez ampla pesquisa sobre tentativas de suicídios no município, entre os anos de 2017 e 2020, que serviu como base para sua tese de mestrado.

O estudo indica que a grande maioria dos pacientes padecia de algum diagnóstico de transtorno mental, sendo o transtorno depressivo recorrente com maior prevalência. “Os dados obtidos revelam que existe uma necessidade urgente de implantação de medidas preventivas voltadas, principalmente, nas populações com histórico de tentativa de suicídio ou com múltiplas tentativas, com transtornos mentais, e do sexo feminino.” O estudo da enfermeira considerou apenas tentativas, e não casos consumados.

Estima-se que dentre os pacientes atendidos em unidades de emergência por tentativas de suicídio, de 30% a 60% já haviam tentado contra sua vida anteriormente e, de 10% a 25% tentarão novamente no prazo de até um ano.

Segundo o Ministério da Saúde, os principais fatores de risco para o suicídio são: história de tentativa de suicídio e transtorno mental. Estudos em diferentes regiões do mundo têm demonstrado que, na quase totalidade dos suicídios, os indivíduos estavam padecendo de um transtorno mental. Sendo o suicídio e o comportamento suicida mais frequentes em pacientes psiquiátricos. Estima-se que o número de tentativas de suicídio supere o número de suicídios em pelo menos dez vezes, e de acordo com o Ministério da Saúde para cada tentativa de suicídio documentada existem outras quatro que não foram registradas.

“O suicídio pode ser evitado. A prevenção do suicídio requer estratégias em todos os níveis da sociedade. Todos podem ajudar a prevenir o suicídio aprendendo os sinais de alerta, promovendo a prevenção e a resiliência”.

De acordo com ela, deve ser considerado a necessidade de sensibilizar os profissionais de saúde para identificação e avaliação daqueles casos com risco de morte por suicídio, pois devido ao seu potencial de recidiva, a prevenção apenas se tornará eficiente à medida que se reconheça que o fenômeno do suicídio transpõe a abordagem estritamente hospitalar e quando fragmentada favorece as chances de reincidências.

Resultado

A pesquisa mostrou maior frequência nos casos de tentativa de suicídio: sexo feminino com 71,7%, com idade entre os 18 aos 35 anos, representando 48,4%; com histórico de tentativas de suicídio anteriores 49,7%; utilizando como método na tentativa a intoxicação exógena com 67,5%. Em relação à saúde mental, 66,5% da amostra demonstrou que os pacientes padeciam de algum transtorno mental, sendo que destes, a maior prevalência foi o transtorno depressivo recorrente com 40,6%.

“A tentativa prévia é o fator preditivo mais importante, indicando que esse paciente tem de cinco a seis vezes mais chances de tentar novamente”, ressalta Aline em sua pesquisa. Dentre os transtornos mentais mais frequentemente associados ao suicídio estão: a depressão, transtorno do humor bipolar, dependência de álcool e de outras drogas psicoativas, esquizofrenia e transtorno de personalidade.

Procure ajuda

O Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias. Não hesite, se precisar ligue 188, e para maiores informações https://www.cvv.org.br.

“É no olhar atento de si e de quem está no entorno que reside a prevenção ao suicídio”

Érico Péres Oliveira, psicólogo e psicanalista, ressalta que o suicídio é o ápice de uma dor que, muitas vezes, pode ser silenciosa.

“O nível de sofrimento já está superando qualquer preocupação acerca das consequências e também sobre quem fica, todavia, os sintomas podem estar se presentificando de forma muito sutil. A leitura das pistas de que algo não está bem às vezes é complexa até para quem está sofrendo. No entanto, é neste olhar atento de si e de quem está no entorno que reside a melhor prevenção para o suicídio.” Segundo ele, a questão é que procurar ajuda profissional ainda esbarra no grande empecilho do preconceito. “A clínica mostra como o deprimido ou ansioso ainda sofre com chacotas de colegas de trabalho ou na sala de aula.” O profissional alerta que até familiares apresentam muita dificuldade em entender o parente que sofre de um quadro psíquico.”

Érico reforça que a repulsa de compreender que a depressão é uma doença, e não frescura, ainda é o grande vilão que prejudica a busca por um tratamento adequado. Para piorar a situação, ainda veio a pandemia de covid-19. “Não seria um exagero afirmar que todos nós já estávamos enfrentando alguma questão no escopo psíquico. A vida sempre traz novas ou antigas provações que causam impacto na nossa saúde mental.” O psicólogo frisa que a pandemia piorou aquilo que já estava ali, aumentando o número de pessoas com quadros depressivos ou ansiosos. Junto disto, casos de suicídio também cresceram em demasia. “Conscientizar que não há nada de errado em procurar um psicólogo ou psiquiatra quando não estiver bem é a chave para diminuir as consequências visíveis de uma sociedade que adoece cada vez mais.”

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