Esta é uma questão de saúde pública, como alertam o Centro de Valorização da Vida, o Conselho Federal de Medicina e a Associação Brasileira de Psiquiatria.

profissional de saúde”, orienta dr. Roberto Schirr, psiquiatra.
“Tentei duas vezes, em três anos. Fiquei bem por quase seis anos, daí a ideia voltou. Eu não via outra alternativa pra mim. As pessoas pediam o que eu tinha, mas eu mesma não sabia dizer. Era uma dor, mas não física, isso me deixava ainda pior. Eu pensava: ‘Não passo da terceira tentativa’. Já tinha planejado tudo, mas fui salva pelo psiquiatra, que acertou meus remédios, e pela psicóloga, que me mostrou a dimensão das minhas preocupações e avisou minha família sobre meu sofrimento. Para mim, as coisas são sempre exageradas, sou muito impulsiva”, relata Carolina. É assim que ela deseja ser chamada, porque diz ainda sofrer preconceito, embora saiba que é uma questão de saúde.
Aliás, este é o alerta do Setembro Amarelo, uma campanha que surgiu em 2014, organizada pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). A mobilização tem o objetivo de mostrar que o suicídio é uma questão de saúde pública e deve ser tratado como tal. Com o slogan “Falar é a melhor opção”, é feita a identificação de locais públicos e particulares com a cor amarela durante todo o mês. Estes são os últimos dias de setembro, mas a intenção é que a conscientização se torne uma constante.
Carolina tem 40 anos, mora num município próximo a Beltrão, tem transtorno bipolar e faz parte da estatística da Organização Mundial de Saúde (OMS) que aponta as doenças mentais como a principal causa de suicídio. “Estudos indicam que entre 90 e 98,5% das pessoas que cometeram suicídio tinham um transtorno psiquiátrico associado; além disso, 50% dessas pessoas tentaram o suicídio previamente. Portanto, a identificação precoce e o tratamento imediato pode prevenir essas mortes”, afirma dr. Roberto Schirr, psiquiatra formado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), especialista em Dependência Química e professor de Psiquiatria da Unioeste, campus de Beltrão.
Outros pontos que interferem são a idade, geralmente idosos; sexo masculino; dependência química; não ter espiritualidade ou religiosidade; situação financeira; e ser solteiro-divorciado.
É possível superar isso? “Sim, porque esse período de maior cuidado e vigilância geralmente é transitório. O adoecimento provoca uma distorção cognitiva de cunho depressivo. Dessa forma, a pessoa se vê como um problema e só enxerga o lado ruim, acreditando que esta seria a melhor solução para ela e para os outros”, comenta dr. Roberto.
Ele enfatiza que a causa é multifatorial; portanto, deve-se prestar atenção tanto na parte biológica da doença assim como nas questões socioculturais e individuais. Se alguém na família já tentou se matar, a vigilância deve ser ainda maior e é preciso imediatamente buscar o local de saúde mais próximo de sua casa.
“Os gatilhos para o desenvolvimento de comportamento suicida são vários, como uma crise financeira, perda de um ente querido, frustação amorosa, episódio depressivo (principal doença psiquiátrica associada ao suicídio), dentre muitos outros. A família pode ajudar detectando alteração comportamental como, por exemplo, a pessoa que se torna mais isolada, demonstra tristeza excessiva, queda no rendimento escolar ou profissional, intensificação ou o abuso de álcool e outras drogas”, completa o psiquiatra.
Divulgar ou não? A resposta é sim!
“Informar é a melhor prevenção. O Setembro Amarelo alerta a população sobre a necessidade de falar de suicídio, para quebrar tabus, mas sem sensacionalismo, sem divulgar métodos. Isso contribui para que as pessoas que estão passando por isso busquem ajuda”, destaca dr. Roberto Schirr. Os entrevistados desta reportagem contaram como tentaram tirar a própria vida, mas optou-se por não publicar, até por orientação dos profissionais de saúde.
No Sudoeste, a mídia evita falar sobre as mortes por suicídio, para não influenciar ou estimular esta prática. Isso não é suficiente, aliás, o que se recomenda é a divulgação, mas não como um show, e sim como um ato desesperado. O jornalista deve apresentar orientações para essas pessoas, mostrando onde elas podem encontrar apoio. “Se tem pensamento de morte, você precisa procurar um profissional de saúde”, ressalta dr. Roberto.