A doença já sobrecarrega a “porta de entrada” da saúde; apesar dos mais de 1.600 casos em Beltrão, situação ainda é caracterizada como um surto, segundo a Secretaria de Saúde.

Por Leandro Czerniaski – Francisco Beltrão ultrapassou nesta semana a marca de 1.600 casos de dengue. A situação ainda não é caracterizada como epidemia pelas autoridades de saúde, mas está provocando um aumento na procura por consultas comparável ao pico da covid-19, sobrecarregando as estruturas e prolongando a espera de pacientes por atendimento. Na UPA 24 Horas, mais de 11 mil pacientes já passaram pela unidade neste mês, 668 somente na última segunda-feira, quando o local registrou o maior número de atendimentos.
Diante de relatos de usuários e da situação crítica da dengue no município, o JdeB procurou gestores da saúde para saber como a Secretaria de Saúde está lidando com o aumento da busca por atendimento neste momento. Na UPA, os coordenadores Claudionei Roessler (enfermagem) e Jaqueline Jumes (médica) explicaram que o foco está sendo estabelecer um fluxo que dê mais agilidade aos atendimentos. No entanto, eles ponderam que a consulta com os pacientes suspeitos de dengue é mais complexa, demorada e demanda reavaliação.
“O atendimento é mais minucioso no sentido em que o profissional médico precisa fazer muitas perguntas e orientar bem o paciente, tanto no que pode ou não fazer, quanto nos sinais de alerta para uma evolução da doença. Junto com isso, há as reavaliações, seja após a medicação ou aplicação de soro ou dentro de 48 horas, dependendo do caso”, cita Jaqueline.
A UPA vem sendo alvo de críticas de alguns vereadores, que nesta semana buscaram criar uma comissão de investigação para averiguar o cartão ponto dos médicos. A unidade, segundo Jaqueline, tem sete médicos à disposição na maior parte do tempo (cinco nos consultórios, um na emergência e outro na enfermaria), mas pode ocorrer de algum profissional estar de atestado ou dando suporte momentâneo em outro setor da UPA. É que além dos pacientes que chegam para as consultas, há os que ficam internados (são 25 a 30 leitos ocupados diariamente) e os casos de urgência que chegam via Samu ou Corpo de Bombeiros, como vítimas de acidentes e quedas. A direção da UPA busca ampliar a escala de trabalho dos profissionais, mas nem sempre é possível. Claudionei comenta que muitos estão desgastados dos dois anos de pandemia, há dificuldade em encontrar médicos e contratar de forma imediata e alguns estão desmotivados diante da agressividade de pacientes. A grande maioria deles atua como prestador de serviço e a elaboração da escala depende da disponibilidade de cada um. Os coordenadores afirmam que os casos de dengue ainda estão em ascenção.

Dengue, respiratórios e de rotina
Situação semelhante vive o Centro de Saúde da Cidade Norte, que é caracterizada como uma unidade de atendimento secundário para Pediatria, mas na prática também funciona como uma “porta de entrada”. Em dias normais, são cerca de 150 atendimentos, mas na última segunda foram 263. A proporção de crianças que testam positivo para a dengue é menor que na UPA, segundo a coordenadora Andreia Scandolara, mas há muitos casos de pacientes com sintomas respiratórios. “Nos últimos dias, a demanda de atendimentos cresceu. Tem alguns casos que são de dengue, a maioria é de sintomas de asma, bronquite e bronquiolite, mas também há casos que poderiam ser atendidos nas unidades básicas de saúde.”
UBSs têm agendamentos suspensos para atender suspeitas de dengue
O esforço da Secretaria de Saúde é voltado, neste momento, a desafogar o atendimento. Por isso as Unidades Básicas de Saúde (UBS) estão suspendendo o atendimento de rotina pelos próximos 15 dias. Consultas agendadas deixarão de ser realizadas para priorizar o atendimento de casos suspeitos de dengue, segundo o secretário da pasta, Manoel Brezolin. “Orientamos que a população, durante o horário comercial, procure este primeiro atendimento na unidade de saúde do seu bairro e, com isso, pretendemos reduzir o fluxo da UPA, que continua sendo a unidade de pronto atendimento.” Além da mudança nas unidades, a Saúde também agilizou a entrega de exames aos laboratórios, que agora ocorre diversas vezes ao dia, e está buscando remanejar espaços da UPA para abrir novos consultórios.