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Francisco Beltrão
terça-feira, 10 de junho de 2025

Edição 8.222

10/06/2025

Esquizofrenia é frequente e universal, diz especialista

Doença mental representada na novela Império, da Globo, atinge 5% da população mundial, o equivalente a 800 mil brasileiros.

 

Paulinho Vilhena tem sido destaque da novela Império no papel do esquizofrênico Salvador.

 

Olhos vidrados. Vozes que surgem do nada e ecoam para lugar algum. Movimentos frenéticos, pensamentos desconectados e pinceladas alucinadas. Foi assim que Paulinho Vilhena construiu – visitando hospitais psiquiátricos in loco, como ele mesmo frisa – o pintor esquizofrênico Salvador da novela Império, da Rede Globo.

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Críticas teatrais à parte, o ator consegue retratar de forma satisfatória o tipo de paciente com esquizofrenia paranoide que convive às voltas com alucinações auditivas frequentes. “Acredito que o ator esteja fazendo um excelente trabalho. Desenvolve bem o quadro de um paciente com este tipo de esquizofrenia, ouvindo a voz de uma pessoa específica e criativa e com certeza pode se tornar agressivo ou extremamente dócil”, comenta o médico especialista em transtornos mentais e dependência química, Marcos Aurélio Lage Gregório, do Caps (Centro de Atendimento Psicossocial) tipo 1 de Marmeleiro.

Este não é o primeiro personagem novelesco com distúrbios mentais a conseguir destaque no horário nobre da televisão brasileira. Tonho da Lua, vivido pelo ator Marcos Frota na novela Mulheres de Areia, e, mais recentemente, Tarso, interpretado por Bruno Gagliasso em Caminho das Índias, foram outros papéis bastante carismáticos que caíram no gosto do público. Indeliberadamente, a presença da esquizofrenia nos folhetins não é desconexa da realidade.

“A esquizofrenia é uma doença frequente e universal que incide em 1% da população, independente de povos, etnias, culturas e classes socioeconômicas”, informa Marcos Aurélio. “Isso reforça a ideia de que a esquizofrenia é uma doença própria da condição humana e independe de fatores externos. Em cada 100 mil habitantes, surgem de 30 a 50 casos novos por ano. Neste momento, 5% da população mundial têm esquizofrenia. Isso significa que 800 mil brasileiros são portadores da doença”, acrescenta o médico.

 

Bruno Gagliasso viveu Tarso, também esquizofrênico, 
na novela Caminho das Índias.

 

Genética aumenta riscos

A esquizofrenia se instala em pessoas jovens, com o desenvolvimento mais tardio em mulheres. O diagnóstico é realizado através do histórico clínico do paciente, do desenvolvimento dos sintomas e da observação da resposta a determinadas drogas. “O pico da instalação se dá, no homem, por volta dos 25 anos de idade. Na mulher, a doença ocorre mais tarde, por volta dos 29, 30 anos. A incidência, porém, é igual nos dois sexos”, ressalta Marcos Aurélio.

Além disso, de acordo com o médico, existe um componente genético importante. “O risco sobe para 13% se um parente de primeiro grau for portador da doença. Quanto mais próximo o grau de parentesco, maior o risco, chegando ao máximo em gêmeos monozigóticos (idênticos). Se um deles tem esquizofrenia, a possibilidade de o outro desenvolver o quadro é de 50%.”

 

 Um dos esquizofrênicos mais carismáticos das novelas foi Tonho da Lua, interpretado por Marcos Frota, em Mulheres de Areia.

 

Família e tratamento

A família recebe destaque não apenas por potencializar as chances de desenvolver o distúrbio como também ao longo do tratamento, feito à base de medicamentos antipsicóticos isolados ou em associação, dependendo da gravidade e evolução.

 “Não existe cura, apenas controle e o paciente terá que tomar medicamentos por toda a vida. A primeira medida é esclarecer a família sobre as características da doença. Ela precisa entender que, se por acaso o paciente teve um surtode nervosismo ou agressividade (o que é raro em esquizofrenia), não se trata de mau caratismo ou maldade. Ele tem uma doença orgânica como qualquer outra, uma doença neuroquímica da qual é muito mais vítima do que mau caráter”, frisa o especialista.

Em um terço dos casos, mesmo a psicose desaparecendo, fica uma pequena sintomatologia residual. “A pessoa não volta mais a ser a mesma”, afirma o médico. Dessa forma, os impulsos diminuem, mas o doente não consegue mais dar conta do que fazia antes. “Por isso, muitas vezes, é preciso baixar as expectativas em relação ao portador de esquizofrenia. Trabalhos mostram que, quando se reduz a pressão familiar, melhora o prognóstico e diminui o número de recaídas.”

 

 

 

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