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Francisco Beltrão
segunda-feira, 02 de junho de 2025

Edição 8.216

31/05/2025

Está mais difícil manter a sanidade mental

A médica Daniela Roca que trabalha no suporte de saúde mental do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) falou sobre o tema em entrevista para a Rádio Educadora AM.

As incertezas sobre o futuro estão ajudando no aumento de casos de depressão.

Vivemos um momento onde se preconiza, quando possível, que as pessoas fiquem em casa. Essas alterações na rotina e a insegurança quanto ao futuro tem aumentado os casos de stress, ansiedade e depressão.

Em entrevista para a Rádio Educadora AM, a médica Daniela Roca, que atua há seis anos no Centro de Atenção Psicossocial (Caps), falou sobre o assunto e destacou a dificuldade de manter a sanidade mental. “Sempre foi uma preocupação e, hoje em dia, está sendo ainda mais. Falamos da ansiedade e da depressão que podem culminar num suicídio, por exemplo. Tudo começa com a ansiedade. É normal sermos ansiosos em alguns momentos, são situações cotidianas que nos fazem isso e, por causa da pandemia, a vida tem sido totalmente atípica para idosos, pais, adolescentes, crianças, o que gerou stress, preocupações, ansiedade e aumento considerável nos casos de depressão. Tivemos mais procura por atendimentos, mas o que me preocupa mais ainda são os casos que não procuram ajuda”, disse.

A médica lamentou que, nos últimos 15 dias, foram três ocorrências de suicídio de jovens em Dois Vizinhos. “Essa é a segunda principal causa de morte de pessoas com idade entre 15 e 29 anos no mundo e isso precisa ser abordado. Muitas dúvidas surgem para os pais, professores, profissionais de saúde e não temos uma resposta certa para elas. As causas não se limitam a fatores perceptíveis, pois, em algumas situações, não é fácil identificar, com precisão, os sinais que podem alimentar os gatilhos e é aí onde temos o perigo. Precisamos ter atenção à saúde mental em todas as idades. Se você conhece alguém e suspeita que essa pessoa não está bem, não espere a evolução ruim do quadro, estimule procurar ajuda. Vai no posto de saúde, vai no médico de confiança, converse com ele, se tem um amigo enfermeiro, médico, ele vai saber te orientar, te encaminhar para psicólogo, psiquiatra ou para o Caps, algum amigo que possa conversar, confiar, abrir teu coração, expor tua dor é sempre importante”, acrescenta.

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Ela destaca que cada caso precisa ser observado individualmente. “O adolescente age muito por impulso. Às vezes está triste, revoltado, tem rotina bagunçada, frustrações e acaba não conversando, não busca tratamento. Temos também a influência das séries ou filmes que têm temáticas e podem motivar a opção pelo suicídio, além do impacto das redes sociais e do universo digital. Por que? O jovem é mais vulnerável emocionalmente e tudo isso pode ser prejudicial à saúde mental quando uma cabeça não está bem consolidada. Outros tem falta de expectativa pelo futuro, que pode estar relacionado com baixo desempenho escolar, insatisfação com aparência física ou cobranças em casa. O bullyng recorrente, os conflitos relacionados a orientação sexual, que além do medo da não aceitação isso também leva a insegurança nos relacionamentos afetivos e, por último, a ausência do tratamento: mesmo nos dias de hoje, muitos tem vergonha ou medo de pedir ajuda, de serem incompreendidos ou rotulados como louco. O que eu aconselho? Que os pais observem as mudanças de comportamento.Precisamos falar abertamente sobre o tema. Chegue com amor, carinho, paciência, peça o que está acontecendo, ofereça ajuda. Cuidar da saúde emocional do jovem (e de qualquer pessoa) significa dedicar tempo de qualidade a elas. Eu sei que está difícil, estressante, corrido, temos dois, três trabalhos, mas com isso você vai identificar muitos problemas e buscar ajuda quanto antes. É fundamental”.

Frustrações fazem parte da vida
Daniela Roca destaca que as crianças e adolescentes precisam se acostumar que, em alguns momentos, terão frustrações e dificuldades. “É natural dos pais não quererem que os filhos se frustrem, que estejam sempre felizes. É natural também querer dar tudo do bom e do melhor, mas aí estamos tendo um erro: temos que deixar, como pais, eles aprenderem que temos dias ruins. É importante, natural da vida. Não é fácil, eu sei, eu sou mãe, mas temos que explicar, ensinar às crianças, que nossa vida tem frustrações diárias e eventuais, que eles vão receber ‘nãos’, que vai ter porta na cara. Não é falta de amor deixar que os filhos se frustrem. Conversar, mostrar, com exemplos de vida, ajuda”, conclui.

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