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Francisco Beltrão
sexta-feira, 30 de maio de 2025

Edição 8.215

30/05/2025

”Hoje levo uma vida normal e o AVC ficou no passado”

No Dia Mundial de Combate ao Acidente Vascular Cerebral, sobreviventes falam sobre recuperação e cuidados.

Após se recuperar do AVC que sofreu aos 50 anos, Valderês Aparecida de Araújo Bueno busca manter uma vida ativa com prática de exercícios.

“Nunca tive nenhum sintoma que indicasse qualquer risco de AVC antes do ocorrido”, conta a professora aposentada Valderês Aparecida de Araújo Bueno, 64 anos, que há 14 sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) na escola onde trabalhava, em Francisco Beltrão.

Na época, aos 50 anos, ela disse que, ao chegar ao colégio para dar aulas, sentiu uma forte dor de cabeça, como se fosse uma queimadura que ia da testa até o lado direito da nunca, somada a um quadro de confusão mental, como se não entendesse as próprias palavras que dizia.

Sua pressão chegou a 150×100 e o que achava ser um mal-estar foi diagnosticado na noite daquele mesmo dia como um AVC isquêmico. “Passar por esse quadro foi assustador para mim e para meu filho de 16 anos na época. Pois eu tive um período longo de recuperação. Foram seis meses de dificuldade de locomoção e de comunicação, pois, apesar de não ter nada aparente, eu tinha dificuldade de equilíbrio e muitas palavras eram confusas no meu vocabulário”, conta Valderês.

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A vida com independência que ela levava foi mudada após o AVC, passando a necessitar de companhia para sair de casa e fazer coisas que antes fazia sozinha. Isso pela sequela deixada na memória e na sua comunicação. “Hoje estou recuperada, procurando manter meu nível de estresse sob controle. Levo uma vida normal, o AVC ficou no passado e é vida que segue. Vivo um dia de cada vez e procuro ser feliz.”

Dia Mundial de Combate ao AVC

Comemorado nesta quinta-feira, 29, o Dia Mundial de Combate ao Acidente Vascular Cerebral (AVC) foi criado para alertar quanto aos problemas de uma das doenças que, até 2019, era a segunda que mais matava no Brasil. O problema decorre da alteração do fluxo de sangue que vai ao cérebro, causando a morte de células nervosas da região cerebral atingida. Desse quadro, pode-se originar uma obstrução de vasos sanguíneos, o chamado acidente vascular isquêmico, o tipo sofrido por Valderês, ou uma ruptura do vaso, conhecida por acidente vascular hemorrágico.

Em Francisco Beltrão, de 2006 até 2019, segundo dados do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde/SVS analisados pelo Jornal de Beltrão, 455 pessoas perderam a vida devido a esse problema e, segundo a Rede Brasil AVC, organização não-governamental criada com a finalidade de melhorar a assistência global ao paciente com AVC no País, o AVC é uma das doenças que mais matam os brasileiros.

O problema é que, apesar de conhecida, ainda é uma doença negligenciada. De acordo com a médica neurologista Caroline De Pietro Franco Zorzenon, é preciso estar atento, já que os primeiros cuidados podem evitar problemas maiores. “Assim como as pessoas realizam check-ups para evitar os problemas cardíacos, é fundamental realizá-los para prevenir os acidentes vasculares encefálicos”, alerta a especialista.

Atenção aos sinais

Entre os sinais mais comuns de um AVC estão fraqueza ou formigamento na face, no braço ou na perna em um lado do corpo, confusão mental, alteração da fala ou compreensão da linguagem, alterações visuais (perda súbita/escurecimento visual), alteração do equilíbrio, perda de coordenação motora, tonturas e dor de cabeça súbita e intensa, sem causa aparente. “Ao sentir qualquer um desses sintomas, anote o horário em que começaram e procure imediatamente atendimento médico”, explica a médica.

Já fatores de risco que podem ser facilitadores para um AVC são doença vascular periférica, doenças cardíacas, tabagismo, hipertensão arterial, diabetes, sedentarismo, colesterol alto e uso de anticoncepcionais, álcool e drogas ilícitas. Para a especialista, o controle adequado desses fatores de risco pode diminuir a probabilidade de uma pessoa ter um acidente vascular cerebral e suas complicações.

Ajuda de aplicativo

Para auxiliar na identificação dos primeiros sinais de risco, a Rede Brasil AVC lançou no ano passado um aplicativo que ajuda a averiguar os sinais de alerta. O Riscômetro de AVC, disponível na Apple Store e no Google Play, foi criado para encorajar as pessoas a realizarem sua própria avaliação de risco e compartilhar com os amigos. Nele, os usuários respondem a um questionário de 2 a 3 minutos e, com base nas informações do estilo de vida, o app calcula os fatores que podem ser sinais de alerta. Além disso, traz informações sobre o cuidado necessário com a saúde para evitar o ACV.

Neste ano, e devido à pandemia, a campanha da Rede Brasil AVC é feita de forma on-line, com foco nos exercícios físicos. Segundo a Rede, o sedentarismo tem um risco atribuível para o AVC de 36%, enquanto a atividade física, idealmente 30 minutos por dia, cinco vezes por semana, reduz o risco de AVC.

“Eu fui muito abençoado”

Aos 50 anos, o comerciante Eucrides Adão Pellegrini, hoje com 57 anos, também passou por um AVC. Do que se lembra são lapsos entre o estado de consciência e os apagões que sofreu devido ao acidente. “Passar pelo problema foi uma experiência sem explicação e que agregou mais paciência, compreensão, fé e, especialmente, autocontrole com o nervosismo.”

Segundo Pellegrini, 15 dias antes do AVC ele havia passado por uma bateria de exames dos quais se orgulhava. Aparentemente, estava bem, sem nenhum sintoma que pudesse despertar qualquer desconfiança com esse tipo de problema. Duas semanas depois, porém, um mal súbito o fez procurar ajuda hospitalar e descobrir o AVC.

“No dia que tive o AVC, eu senti algo diferente e eu mesmo fui ao hospital (Policlínica). No consultório que me dirigi, não tinha vaga, estava lotado de gente para consulta. Como eu havia feito o chek up há 15 dias com esse médico, eu expliquei que não estava me sentindo bem. A atendente mandou sentar e aguardar um encaixe e em menos de 10 minutos perdi o sentido. Lembro que uma senhora na poltrona em frente chamou a atendente e disse que eu estava passando mal. Após isso, lembro de estar em uma sala na cadeira de rodas com o médico e mais gente ao redor. Depois, lembro de estar atravessando a rua em uma maca. Voltei a ter um lampejo de clareza já no quarto, com minha família e alguns amigos”, conta.

Pellegrini recebeu alta no mesmo dia, mas logo teve que retornar ao hospital para ser submetido a uma cirurgia. A marca da operação ele carrega até hoje na cabeça, mas a vê com carinho, tornando-se um símbolo de vitória, de um dia que temeu não sobreviver. “Eu fui muito abençoado. Após 17 dias de hospital, com cirurgia na cabeça, uma drenagem de 3,8 litros de líquido e exames que atestavam a possibilidade de ficar paralítico, hoje estou muito bem. Costumo falar que Deus foi generoso comigo.”

 

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