Dr. Valdir Spada Júnior destaca que esta é a forma mais segura de prevenir a doença.

O estudante Marcos Folador acompanhou o avô José de Oliveira, 83 anos, que recebeu a primeira dose da vacina contra Covid, na manhã de ontem. Seu José já havia contraído o vírus em dezembro do ano passado, mas não teve complicações. “A emoção é muito grande, pois esse dia foi muito esperado. Viva a ciência”, comemora Marcos.
Dr. Valdir Spada Júnior, infectologista, ficou impressionado com matéria divulgada na quinta-feira, pelo JdeB, que apresenta uma pesquisa da Radar Inteligência, na qual 15% dos beltronenses não querem tomar a vacina contra Covid. Confira a entrevista.
Este percentual de 15% que não quer tomar vacina é preocupante?
Extremamente preocupante. Só vamos sair dessa situação de duas maneiras: vacinando o maior número possível de pessoas ou todo mundo pegando a infecção. O modo menos inteligente é que todos peguem a infecção e crie imunização. A vacina é segura, tem reações mínimas como qualquer outra vacina pode causar, só que a questão da imunização vai vir dessas duas formas. As pessoas precisam entender que é preciso vacinar pra que a gente retorne à vida normal.
Como funciona a vacina?
Ela funciona como um estímulo no nosso organismo para criar defesa. Uma das metodologias é utilizar o vírus inativado, para que, quando for injetado no nosso organismo e o nosso organismo reconheça aquilo como algo estranho e, se no futuro o nosso organismo entrar em contato com o vírus, ele já tem uma defesa pré-formada. São vários os métodos para criar a vacina, tem esse do vírus inativado, tem aquelas que usam o vetor viral — utilizam outro vírus para inocular o material genético do coronavírus —, tem aquelas que usam o próprio material genético do organismo do coronavírus. Mas, basicamente, é o fato de que é apresentado para nós algo estranho e o nosso organismo já inicie uma formação de defesa.
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Uma dose é suficiente?
É importante lembrar que não é a partir de uma única dose que a pessoa vai estar imunizada, aqueles números que a gente viu de 50% da Coronavac e de 70% para Oxford… geralmente, elas se dão a partir de 15 dias depois da segunda dose. Por isso que a gente vê pessoas depois da vacina (profissionais de saúde) que acabaram tendo a infecção, justamente por isso, ainda não deu tempo pro nosso organismo formular uma defesa contra o vírus. Não é que a vacina não funciona, não é nenhuma outra teoria, é que ainda não tinha dado tempo do organismo desenvolver aquela imunização suficiente para proteger.

Quem já teve Covid, deve se vacinar?
Deve, mas vai depender de quanto tempo a pessoa teve Covid. Se ela está naqueles grupos prioritários, tem direito de tomar, só tem que respeitar esse intervalo do tempo da doença. São quatro semanas que ela tem que aguardar pra fazer, mas deve vacinar por conta dessas novas cepas e variantes que estão surgindo agora, porque ainda se tem muito mais dúvidas do que afirmações com relação a isso, mas se vê que elas têm potencial de causar reinfecção. Também se questiona a possibilidade de causar uma doença mais grave do que essa cepa dominante que a gente tem. Além de tudo, essa nova cepa, nos exames mais simples, pode dar um falso negativo; então, às vezes, a pessoa tem o vírus, não sabe e acaba disseminando na sociedade.
Tem como prever a chegada das novas variantes na nossa região?
É um perigo real a circulação da nova cepa. Acho muito difícil de não termos esses casos aqui na região, claro que precisa se fazer exames específicos pra saber o tipo circulante e nesse momento não fazemos esse tipo de exame. Não sabemos o subtipo circulante, a linhagem predominante, porque não temos essa preocupação agora. É uma possibilidade bastante real dessas novas linhagens chegarem aqui. A gente tem três linhagens que são significativas: do Reino Unido, da África do Sul e a brasileira, que é da Amazônia, chamada P1. As três já estão circulando no Brasil.
Como você avalia este lockdown?
É uma medida amarga! Infelizmente isso está acontecendo pelo fato de não ter uma colaboração efetiva da população. Isso a gente já vê andando na rua, quantas pessoas usam a máscara de forma errada. Se você só acompanhar a ocupação dos leitos e dos hospitais aqui, está sempre 100% lotado. A rotatividade acaba sendo muitas vezes por causa de óbitos, o paciente sai porque acaba morrendo.
Quando o paciente precisa ser entubado e ir para ventilação mecânica, o prognóstico não costuma evoluir bem. O povo tem que colaborar mais com relação às medidas e entender que a gente ainda não tem um tratamento efetivo. O que funciona é o distanciamento social, o uso da máscara e higienização das mãos, porque 90% das vezes a doença vai ser autolimitada, ela evolui bem, 10% das vezes que é o problema. Só que esses 10% dos casos é que estão sobrecarregando o sistema.