8.5 C
Francisco Beltrão
sábado, 31 de maio de 2025

Edição 8.216

31/05/2025

Já ouviram falar em espondiloartrites?

A história de parentes consanguíneos pode ser uma pista diagnóstica importante.

Por Tiago Malucelli
A dor lombar crônica em pacientes jovens é uma queixa frequentemente banalizada e pode ser sinal de um problema potencialmente grave e debilitante. Estamos falando de um grupo de doenças chamadas de espondiloartrites (EA): doenças inflamatórias autoimunes que se iniciam em pessoas jovens, geralmente abaixo dos 45 anos de idade, e afetam a parte inferior da coluna, mais especificamente nas articulações sacroilíacas, podendo progredir de forma ascendente até atingir a coluna cervical, causando um enrijecimento irreversível da coluna.
A característica principal da doença é dor na região lombar e nas nádegas após períodos de repouso – mais comum de madrugada ou de manhã – com uma sensação de travamento nas costas que gradualmente alivia com os movimentos após sair da cama. Por isso, jovens com travamento recorrente nas costas ao acordar pela manhã devem ser investigados para esse grupo de doenças.
Outras manifestações que podem estar presentes:
1. Artrites: inflamação de grandes articulações como joelhos, tornozelos e cotovelos, causando dor e limitação da mobilidade;
2. Entesites: inflamação dolorosa na inserção dos tendões, que pode ocorrer em vários lugares, sendo bastante característica na região do tendão de Aquiles (nos calcanhares), na região dos quadris (cristas ilíacas) e inserção das costelas (tanto na região anterior como na posterior);
3. Dactilites: inflamação que causa inchaço e dor de todo o dedo da mão ou do pé, chamado “dedo em salsicha”;
4. Uveítes: inflamação de uma camada interna do olho, deixando-o vermelho de forma súbita, unilateral, extremamente dolorosa e associada a borramento visual, podendo evoluir com perda da visão se não for tratada rapidamente;
5. Psoríase: doença que causa lesões avermelhadas e descamativas na pele, mais frequentes em couro cabeludo, dentro do umbigo, entre as nádegas e superfícies extensoras dos cotovelos e joelhos. É comum também causar problemas nas unhas, como descolamento e deformidades (chamadas distrofias ungueais);
6. Doenças inflamatórias intestinais (colite ulcerativa e doença de Crohn): inflamação da parede intestinal que pode ulcerar e causar sintomas como dor abdominal, diarreia, perda de peso, anemia etc.

[relacionadas]

 

- Publicidade -

Exames diagnósticos
Os dois principais achados de exames nesse grupo de pacientes são sinais de inflamação nas articulações posteriores da bacia (sacroiliíte) na ressonância magnética e a presença do antígeno HLA-B27 no exame laboratorial de sangue – achado esse que pode ser encontrado também em familiares, mas que não significa necessariamente a presença de doença.
Dentro desse grupo das EAs estão as doenças espondilite anquilosante, artrite psoriásica, artrite associada às doenças inflamatórias intestinais, artrite reativa (anteriormente chamada de síndrome de Reiter, que ocorre após um quadro infeccioso, mais frequente do trato genitourinário ou gastrointestinal), a forma de EA juvenil, a forma de EA indiferenciada (quando não conseguimos enquadrar em nenhuma das outras) e a uveíte anterior aguda (associada a presença do HLA B27). Todas elas são doenças de forte agregação familiar, portanto, a história de parentes consanguíneos pode ser uma pista diagnóstica importante.
Infelizmente, esses pacientes passam, em média, cinco anos de médico em médico, fazendo exames inespecíficos e tratamentos sintomáticos, até serem encaminhados a um reumatologista, quando então recebem o diagnóstico e iniciam o tratamento adequado.
Antigamente, as EAs eram tidas como doenças sem cura e de caráter progressivo, mas felizmente nos dias de hoje essas doenças podem ser tratadas e ter um bom controle com o uso combinado de medicamentos anti-inflamatórios, imunossupressores e imunobiológicos (dependendo de cada caso), que podem controlar o processo autoimune, retardar a progressão das sequelas e conferir ao paciente uma melhor qualidade de vida.
O alerta é que esses pacientes devem ser investigados e tratados precocemente, para que rapidamente tenham melhora dos sintomas e melhora funcional, diminuindo o risco de sequelas físicas e emocionais de uma doença potencialmente incapacitante.

Antigamente, eram tidas como doenças sem cura e de caráter progressivo, mas felizmente nos dias de hoje essas doenças podem ser tratadas e ter um bom controle.

 

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques