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Francisco Beltrão
sábado, 31 de maio de 2025

Edição 8.216

31/05/2025

Mais de 212 mil brasileiros admitem usar narguilé

Embora pareça inofensivo, uma sessão de narguilé, que dura em média de 20 a 80 minutos, corresponde a fumaça de 100 cigarros.

 

Ministro da Saúde Arthur Chioro apresenta dados sobre narguilé e tabagismo.

 

Apesar da liderança do Brasil no combate ao tabagismo ter resultado em conquistas importantes como a redução de 30,7% no percentual de fumantes nos últimos nove anos, o consumo do narguilé tem aumentado no País, principalmente entre os jovens. Mais de 212 mil brasileiros admitem usar o cachimbo, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS). 
Dados da PNS e da Pesquisa Especial de Tabagismo (PETab) mostraram que entre os jovens homens fumantes (entre 18 e 24 anos) o número de usuários do produto mais que dobrou nos últimos cinco anos, passando de 2,3% em 2008 para 5,5% em 2013. Para alertar sobre os malefícios do consumo do produto, o Ministério da de Saúde e o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) apresentaram campanha em alusão ao Dia Nacional de Combate ao Fumo, celebrado no último sábado, 29.
Segundo Arthur Chioro, ministro da Saúde, o uso do tabaco continua sendo responsável por 90% dos casos de câncer no País. Por utilizar um filtro de água antes de a fumaça ser aspirada pelo fumante, o consumo de narguilé é visto como menos nocivo à saúde. No entanto, dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) demonstram justamente o contrário. Uma sessão de narguilé, que dura em média 20 a 80 minutos, corresponde a fumaça de aproximadamente 100 cigarros.
“O pior de tudo é que ele incentiva o pessoal novo, abaixo de 18 anos, a usar. Eles podem usar com substâncias aromatizadas que tiram o sabor desagradável do tabaco, o que facilita a ingestão”, afirmou Roberto Yamada, coordenador do curso de Medicina da Unioeste, em Cine Debate sobre tabagismo realizado na última semana. O narguilé, aponta o médico, pode servir como entrada para o consumo do cigarro – o que geralmente acontece entre os 13 e 25 anos.

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Repetindo erros
Até recentemente, admite o médico pneumologista Redimir Goya, a Sociedade Brasileira de Pneumologia tinha dúvidas sobre o potencial viciante das “essências” consumidas junto ao narguilé. Goya lembra ainda da “falta de conhecimento com relação aos malefícios do tabagismo na década de 1970” e diz que hoje em dia é que “estamos colhendo os resultados” daquela ignorância.
“Embora tenha reduzido o número de fumantes, no Brasil ainda se fuma muito. E, infelizmente, estamos na época de colher os malefícios do cigarro. O pessoal que começou a fumar em 1960 e em 1970 está vendo agora os malefícios que o cigarro causa. A diminuição do cigarro hoje vai refletir na saúde daqui algumas décadas, isso que é importante”, disse, durante o Cine Debate na Unioeste.
O consumo de narguilé pode contribuir para o surgimento de doenças respiratórias, coronarianas e tipos de câncer como de pulmão, boca, bexiga e leucemia. Além disso, o narguilé pode gerar dependência devido às altas doses de nicotina. Estudos também apontam que 45 minutos de sessão acarreta a elevação das concentrações plasmáticas de nicotina, de monóxido de carbono expirado e dos batimentos cardíacos. Outro alerta importante relacionado ao uso diz respeito aos riscos de saúde relacionados não apenas ao consumo do tabaco, como também ao surgimento de doenças infectocontagiosas em razão do hábito de compartilhamento do bucal entre os usuários.
O coordenador de ensino do Inca, Luiz Felipe Ribeiro Neto, explica que a água não ameniza os efeitos do tabaco. “A ideia de que a água filtra a fumaça produzida é equivocada. O narguilé possui os mesmos componentes nocivos do cigarro, seja da nicotina ou cancerígenos. Há concentrações diferentes no mesmo produto. É importante entender que no narguilé ou no cigarro, os níveis dos compostos não são seguros de nenhuma forma”, ressalta.
Como um único cachimbo do narguilé pode ser usado por várias pessoas simultaneamente, a socialização do consumo se torna muito atraente, especialmente para os jovens. Por isso, a iniciação ao cigarro e a outros produtos do tabaco, por meio do narguilé, preocupa o Ministério da Saúde. A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE/2012) revelou que 7,6% dos adolescentes entre 13 a 15 anos entrevistados afirmaram ter fumado cigarro e/ou produto de tabaco nos últimos 30 dias, sendo que 5,1% admitiram ter fumado apenas cigarro.

Em Beltrão, lei “vaga”, que não pune pais e responsáveis, prejudica ação do Conselho Tutelar

JdeB – O Ministério da Saúde reforça que os narguilés estão incluídos nos produtos proibidos, em 2014, com a regulamentação da Lei Antifumo.  O consumo de cigarros, cigarrilhas, charutos, cachimbos e outros produtos fumígenos, derivados ou não do tabaco, em locais de uso coletivo, públicos ou privados, mesmo que o ambiente esteja só parcialmente fechado por uma parede, divisória, teto ou até toldo não é permitido.
Em Francisco Beltrão, o uso do narguilé em local público e a comercialização aos menores de 18 anos de idade são proibidos desde novembro de 2013, quando foi sancionada a Lei 4.127. Na prática, ainda falta regulamentar uma melhor forma de notificação, além de uma atuação mais eficaz do Conselho Tutelar, que, de acordo com José Adams Brizola, assessor do prefeito Antonio Cantelmo Neto, “estaria negligenciando a fiscalização com relação aos menores”.
O Conselho Tutelar se defende, argumentando que a lei municipal é “vaga” e não prevê repreensão aos pais e responsáveis de menores flagrados utilizando o narguilé. “É preciso uma regulamentação melhor. Hoje, a gente aborda e orienta, mas contra os adultos não se pode fazer nada. Falta punição aos pais e responsáveis, pois o consumo também está dentro de casa”, denuncia a conselheira Clemair Guedes.
De acordo com Brizola, falta ainda regulamentar a função da Secretaria Municipal de Assistência Social ou do Conselho Municipal Anti-Drogas, que, segundo apurou a reportagem doJdeB, não vem se reunindo. “Esse ano ficou meio parado”, diz Luiz Graczik, da Secretaria de Assistência Social.
Membro do conselho, Clemair confirma a inércia do grupo. “Está parado mesmo. Tivemos uma reunião há algumas semanas e mais nada. Há pouca gente para se dedicar”, admite. Integram o conselho a Polícia Civil, Polícia Militar, Secretaria de Assistência Social e o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente.

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