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Francisco Beltrão
sábado, 07 de junho de 2025

Edição 8.221

07/06/2025

Mortalidade infantil na região de Beltrão é a menor do Paraná

Com remodelação da atenção às gestantes e vigilância assídua dos óbitos, índice caiu mais de 50% em dois anos, fechando em 7,4 óbitos a cada mil nascidos vivos em 2015. Até bem pouco tempo atrás, regional era ?lanterna? no ranking.

 

Recém-nascido atendido na UTI neonatal do Hospital Regional de Francisco Beltrão.
Fotos: Tiago Moreira/JdeB

A avaliação mais efetiva e de maior sensibilidade da qualidade de vida de uma sociedade é a tendência de queda na mortalidade infantil. Essa afirmação abre o Linha Guia da Rede Mãe Paranaense, documento-base de um programa estadual de atenção à saúde da gestante implantado em 2012 e que, com a parceria dos municípios, ajudou a acelerar a queda da taxa de mortalidade infantil na microrregião de Francisco Beltrão, cortando-a pela metade entre 2005 e 2015.

“Num momento em que se fala tanto de fatores negativos na saúde, é importante falar de algo positivo e que foi fruto de várias indagações ao longo do tempo na nossa regional de saúde que é a mortalidade infantil. Entre as 22 regionais de saúde do Paraná, somos a que mais reduziu em número absoluto de óbitos e, no ranking das regionais, agora estamos em 1º lugar, só que favoravelmente”, comemora a chefe da 8ª Regional de Saúde, Cíntia Jaqueline Ramos.
Há motivos de sobra para celebrar. A 8ª RS era, até bem pouco tempo atrás, a microrregião paranaense onde mais morriam crianças de até um ano de idade, contrariando a reputação de área em pleno desenvolvimento social e econômico. Dos 14 óbitos a cada 1.000 nascidos vivos em 2005, o índice oscilou até a casa dos 16/1.000NV em 2008 e 2010, mas caiu para 7,4/1.000NV em 2015, bem abaixo da média Paranaense (10,8/1.000NV). Nenhuma outra região conseguiu uma taxa de mortalidade infantil abaixo de 8,0 em 2015. A 7ª RS de Pato Branco, por exemplo, fechou o último ano com 12,7/1.000NV. Já a regional de Guarapuava teve a maior mortalidade infantil no período: 14,8/1.000NV.
“Desde 2013, a nossa região vem trabalhando com o programa Rede Mãe Paranaense, que trouxe um norte de atendimento assistencial, pré-natal, fluxo de atendimento e pontos de atenção. A adesão dos municípios, qualificação dos profissionais e essa reorganização do modelo de atenção fizeram com que a gente conseguisse reduzir esse índice. Não há um fator preponderante, foi o modelo de atenção que fez com que a gente reduzisse esse índice. Mas o desafio de agora em diante é manter, que é o mais difícil”, prevê Cíntia.

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Equipe do Samu entrega criança recém-nascida na UTI neonatal do Hospital Regional.

35 óbitos entre 4,6 mil nascimentos

Em termos absolutos, no último ano morreram 35 crianças antes de completar o primeiro ano de vida somando todos os 27 municípios que compõem a 8ª RS. Em contrapartida, foram 4.680 bebês nascidos vivos. Para efeito de comparação, em 2011 houve 27 óbitos infantis só em Francisco Beltrão, que fechou aquele com ano uma taxa de 22,7/1.000NV, assombrosa para qualquer gestor de saúde pública. Outro dado que chama a atenção é que metade dos municípios da 8ª RS zeraram as mortes infantis em 2015 (veja mais na tabela).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estipula, para países desenvolvidos, uma meta de mortalidade infantil anual até 10/1.000NV. Mas, mesmo depois de alcançado este primeiro objetivo, ainda há “gordura pra queimar” e muito a que consolidar, afirmam as técnicas da 8ª RS. 
“Em torno de 70% dos óbitos ainda são evitáveis. Hoje, a inevitabilidade do óbito está relacionada àquele feto ou bebê que realmente não tem sobrevida, por exemplo, no caso de uma má formação. Porque se a mãe fez o pré-natal, se a criança nasceu no lugar certo, se a assistência aconteceu, não há motivo para haver a morte infantil”, assegura s enfermeira Greicy do Amaral, da vigilância de óbitos infantis da 8ª RS. 

 

 

Reorganização e descentralização de ações
O modelo de atenção à gestante proposto pelo programa Rede Mãe Paranaense é o grande trunfo para a queda vertiginosa na mortalidade nos últimos dois anos, juntamente com a descentralização dos comitês de prevenção da mortalidade materna, infantil e fetal, que permite que cada município investigue e analise a própria realidade.
Segundo relata Gládis Barzotto, da atenção primária à saúde da 8ª RS, o processo de implantação do programa iniciou em 2011, com a capacitação das redes de atenção à saúde em todo o Estado. Só na microrregião, cerca de 18 mil profissionais de saúde participaram das oficinas, que terminaram em dezembro de 2014. “Foi a partir de uma dessas oficinas que foi dado o direcionamento para chegar ao Mãe Paranaense e depois os hospitais a atender mães de risco habitual, intermediário e alto risco. Isso somou muito para a qualidade da assistência e diminuição da mortalidade infantil”, diz Gládis.
A descentralização do Comitê Regional de Prevenção à Mortalidade Materno Infantil também é apontado como chave para o sucesso da prevenção da mortalidade infantil na região. O grupo trabalha em conjunto com o setor de vigilância dos óbitos nas análise dos desfechos desfavoráveis, oferecendo feedback aos municípios através de ofícios e em reuniões, onde se discute em conjunto as falhas e sugestões de ações para evitar morte infantil. “O comitê é de controle social formado por técnicos da área de saúde representando instituições (os três hospitais de Beltrão, Unioeste, Unipar, ASSRS, Cresems, CRM e técnicos da regional de saúde) e é organizado como um grupo técnico de avaliação, monitoramento e educação assessorando os municípios de nossa regional”, Beatriz Maria Berticelli, chefe da Seção de Vigilância Epidemiológica.

Cládis Barzotto e demais integrantes da 8ª Regional de Saúde que participaram da entrevista para esta reportagem.

 

Estratificação do risco pra a gestante e a criança
A estratificação do risco para a gestante e para a criança aparece como o elemento orientador do programa. O médico que atende à paciente no município, através do protocolo da Linha Guia, possui condição de classificar essa gestante em risco habitual, risco intermediário e alto risco. As gestantes de risco habitual são aquelas que não apresentam fatores de risco individual, sociodemográficos, de história reprodutiva anterior, de doença ou agravo, portanto, não necessitam de atendimento de referência de maior complexidade. Nesse caso, o pré-natal é ofertado pelo município e o atendimento hospitalar se dá no hospital mais próximo – exceto o de Verê, todos os hospitais da região estão aptos a prestar assistência a gestantes de risco habitual. “A estratificação é um processo dinâmico, ou seja, se a mulher inicia a gestação classificada como risco habitual, mas desenvolve qualquer complicação, ela é reestratificada”, explica Maria Isabel da Cunha, responsável pelas redes de atenção na 8ª RS.
Gestantes com fatores de risco relacionado a determinadas características individuais (raça, etnia e idade), sociodemográficas e de histórico reprodutivo são consideradas de risco intermediário. Na 8ª RS, elas têm como referência de atendimento ambulatorial o Centro Mãe Paranaense, ligado ao CRE (Centro Regional de Especialidades) – exceto Francisco Beltrão, que ainda faz este atendimento no Instituto da Mulher. Já o atendimento hospitalar é feito no Hospital Regional do Sudoeste (HRS). 

 

 

 

 

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