Quem usa narguilé – espécie de cachimbo à base d’água, de origem oriental – esporadicamente tem um risco 2,2 vezes maior de desenvolver infarto do miocárdio. Entre os que usam com mais frequência, o perigo sobe para 3,7 vezes, segundo vários estudos que também demonstram que o seu uso é tão ou mais lesivo que o cigarro. Fumar livremente neste cachimbo também eleva as chances de câncer de pulmão, esôfago e estômago. Quem faz o alerta para os riscos e ilusões deste utensílio cada vez mais presente nas rodas de amigos é o cardiologista Álvaro Cesar Cattani, de Pato Branco.
“Vemos com muita preocupação o uso cada vez maior do narguilé entre os jovens, mas este não é um movimento regional, mas sim mundial. Existem vários fatores que ‘favorecem’ seu uso, como a introdução de vários sabores no tabaco, reduzindo a aspereza em um paladar melhor. Também há a percepção errada de que é mais saudável que o cigarro, gerando uma aceitação social e até ‘cultural’ em cafés e restaurantes. Tudo isso é potencializado ainda pelo seu baixo custo de uso e massificação de informação em redes sociais e mídias digitais”, avalia o cardiologista.
O narguilé utiliza “essências” com sabores que vão da baunilha a florais. É um dispositivo para fumar no qual o tabaco é aquecido e a fumaça gerada passa por um filtro de água antes de ser aspirada pelo fumante, por meio de uma mangueira. Segundo especialistas, o mecanismo de filtragem oferece uma ideia errada do que seria uma substância menos nociva à saúde.
“Existem efeitos agudos e crônicos do uso do narguilé sobre o sistema cardiovascular. De forma aguda existe um aumento dos batimentos cardíacos e da pressão arterial e redução da capacidade física. De forma similar existem efeitos agudos e crônicos no sistema respiratório. Agudamente existe um aumento da frequência respiratória e uma redução na oxigenação (medido por oximetria). No longo prazo o uso de narguilé pode levar a enfisema e bronquite crônica, mesmo padrão das pessoas que usam cigarro”, explica Cattani.
Chances de câncer aumentam em seis vezes
Outras associações com problemas de saúde são importantes, como a associação de narguilé com câncer. “O aparecimento de câncer de pulmão chega a ser seis vezes maior em fumantes regulares de narguilé do que as pessoas que não fumam. O risco de câncer de esôfago é duas vezes maior e de estômago, três vezes maior”, antecipa o médico.
Para mulheres grávidas que usam narguilé, as complicações relacionadas ao uso são preocupantes, como baixo peso do bebê ao nascer, complicações pulmonares e mortalidade infantil. Outras alterações também estão relacionadas a doenças odontológicas periodontais, alterações de voz, menor densidade óssea e elevado risco de fraturas.
“O uso do narguilé não é isento de risco, muito pelo contrário. Com a falsa percepção de ser mais saudável pode resultar em maior risco devido ao seu uso menos ‘condenável’. Várias entidades estão solicitando as autoridades sanitárias maior regulação sobre o uso”, conclui Cattani.