Alguns adultos até gostam de ouvir o Cebolinha, mas isso pode ser um grande problema na alfabetização.
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“Casa” não, “tasa”. É assim que o garotinho Otávio Flores Dambroz, de 7 anos, fala algumas palavras, confundindo a letra “C”. Isso acabou interferindo na alfabetização, uma vez que ele escreve como fala. Elis Cláudia Flores, sua mãe, percebeu que ele demorou pra falar, diferente da irmã, Betina, de dois anos e meio, que conversa bastante. “As pessoas não entendiam o que ele falava, tinha que ir traduzindo”, conta Elis. Com três anos e nove meses, o pediatra orientou para procurar um fonoaudiólogo. Cinco meses depois, ele começava as sessões de fono.
Elis comenta que percebeu muita melhora; ele foi agregando letras no vocabulário e a expectativa é que ele tenha alta até metade do ano. Otávio ainda tem um pouco de dificuldade na escrita, porque não assimilou as letrinhas, e ainda faz algumas trocas.
Uma criança, pra ter um desenvolvimento de linguagem normal, precisa sentir a necessidade de falar, precisa ter um parceiro pra conversar, um contexto, uma situação. Quem comenta é a fonoaudióloga Alexandra Paula Francischett, sobre a relação entre a fala e a alfabetização.
“Precisa também ter uma capacidade cognitiva que favoreça a compreensão do mundo a seu redor e assim fazer uso da linguagem. Pra desenvolver a fala, o cérebro precisa fazer um caminho longo e esse caminho se desenvolve desde os primeiros meses de vida, quando vai havendo todo o desenvolvimento neurológico, o estímulo do ambiente, as interações, pra que tenha esse desenvolvimento”, declara.
Até pouco tempo, acreditava-se que a criança poderia ter até os 5 anos pra desenvolver todos os fonemas da fala. Os “Rs” são os mais difíceis, por isso são os últimos fonemas adquiridos, incluindo o “R” brando, que é o de barata e o “R” no meio do encontro consonantal, como pra, bra e cra.
“Hoje em dia, o que está acontecendo é que as crianças estão sendo mais estimuladas e acabam sendo alfabetizadas mais cedo. Antigamente, a criança começava a ter contato com a escrita a partir dos 7 anos. Quando chegava nesta idade, já tinha todo o quadro fonético impostado, falava todos os fonemas. Agora, a criança entra em contato já com 5 anos e o seu quadro fonético, às vezes, não está todo adquirido, isso causa uma dificuldade grande pra criança”, destaca Alexandra.
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O que isso pode causar?
A criança pode não ter condições de desenvolver sua fala, devido a uma falta de movimentação da língua, estimulação ou algo relacionado à audição. Os fonemas precisam estar instalados em sua fala pra ter uma alfabetização que realmente faça com que ela não tenha dificuldades de aprendizagem.
Segundo Alexandra, se a criança for para alfabetização trocando fonemas na fala, ela vai ter dificuldade de aprender, porque na alfabetização se aprende pelo som e desenvolvendo a questão motora da letrinha, desenhando a letra e associando-a ao som. “Se ela não tem esse som na fala, vai estar colocando pra determinada letra o som que ela usa, por exemplo: se ela não fala barata e fala balata, o “L” vai ser usado no momento do “R”. Quanto melhor estiver sua fala, mais tranquilo será essa aprendizagem.
Até os quatro anos
Mas, afinal, até que idade os erros na fala podem ser admitidos sem preocupação? “Até os 4 anos, a criança precisa estar com o quadro fonético todo em ordem, precisa não trocar muito. Mas se, com 4 anos, ainda apresentar muitas trocas na fala, não só o “R” e o “L”, mas “B” por “P”, não fala “gato”, fala “cato”, isso é preocupante. Ainda tem muitos fonemas fora do lugar que já deveriam estar instalados”, responde Alexandra.
Aos 4 anos, já está se aproximando do final do período de instalação dos fonemas, que é o “R” forte e o “R” fraco. A audição precisa ser estimulada pra criança adquirir esses sons. Quando ela aprende a escrever, copia como se fala, por exemplo “eu ti amo”, ao invés de “te”.
Algumas vezes, o ouvido dos pais acostumou com isso e fica difícil perceber, mas o importante é observar se a criança consegue usar a fala, os fonemas, se as palavras saem com coerência. Em tese, observar mesmo como está sendo a produção de fala. “Muitos pais, quando chegam no consultório, já mapeiam pra gente: ‘Não consegue o “R”, não consegue o “L”’. É uma questão de atenção com a fala da criança”.