TAB pode ser depressão grave.
Por Rodrigo G. Bueno – “Doutor, meu humor oscila muito ao longo do dia. Será que sou bipolar?” Esse tipo de relato é comum na prática clínica. No entanto, é importante esclarecer que mudanças de humor reativas, diante de situações do cotidiano, não configuram o diagnóstico de Transtorno Afetivo Bipolar (TAB).
Quando se fala em bipolaridade, a maioria das pessoas lembra de episódios de mania, caracterizados por autoestima inflada, redução da necessidade de sono, pensamentos acelerados, aumento acentuado da energia e envolvimento em atividades impulsivas ou de risco. Contudo, o que muitos desconhecem é que a primeira manifestação do TAB pode ser uma depressão grave — isso acontece em cerca de 54% dos casos.
O TAB pode se manifestar de três formas principais: mania, hipomania (uma forma mais branda da mania) e depressão maior. A hipomania envolve alterações do humor, energia, comportamento, sono e pensamento, mas sem prejuízo funcional grave. Já a depressão bipolar pode ser confundida com uma depressão “comum” (unipolar) — e esse é o grande desafio diagnóstico.
Mesmo na ausência de episódios prévios de mania ou hipomania, existem sinais de alerta que levam o médico a suspeitar de depressão bipolar. Entre eles, destacam-se:
• Início da depressão antes dos 25 anos
• História familiar de transtorno bipolar
• Piora com o uso de antidepressivos isolados
• Sintomas depressivos atípicos (excesso de sono, aumento do apetite, humor reativo, fadiga intensa)
• Episódios depressivos muito recorrentes
• Uso de substâncias psicoativas como álcool, maconha ou benzodiazepínicos
Esses sinais indicam a necessidade de uma avaliação cuidadosa, pois o tratamento da depressão bipolar é diferente do tratamento da depressão unipolar. O uso isolado de antidepressivos, por exemplo, pode agravar o quadro em pacientes com bipolaridade não reconhecida.
Identificar corretamente o transtorno é essencial para oferecer um tratamento eficaz, seguro e que realmente melhore a qualidade de vida do paciente.
