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Francisco Beltrão
terça-feira, 03 de junho de 2025

Edição 8.218

04/06/2025

”Se eu não tivesse feito os exames de rotina, talvez ia descobrir só daqui uns anos, aí podia ser tarde”, conta Saudi Mensor

Em sua rede social, ele relatou brevemente as etapas de seu tratamento e o que pensava e sentia sobre tudo isso. O caso de Saudi deixa evidente que a prevenção é o melhor caminho.

 

 Já em casa, Saudi retirou os pontos e a sonda e se recupera bem.
Agora, ele aguarda o resultado dos últimos exames com boas expectativas.

 

Quando nos sentimos bem de saúde, sem nenhum sintoma, com disposição e bem-estar no dia a dia, uma consulta ao médico ou um exame mais complexo parecem ser coisas totalmente desnecessárias. Contudo, os investimentos e a dedicação de muitos profissionais na medicina preventiva têm comprovado que prevenir é sempre melhor do que remediar. Até o mês de novembro de 2015, quando seu exame de PSA apresentou alterações, o empresário beltronense Saudi Mensor não sentia absolutamente nada de errado, nenhum sintoma, nenhuma dor, nada. A comprovação veio com novos exames e a biópsia, que revelaram a existência de um pequeno tumor em sua próstata, ainda em fase inicial.
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estimou que, só no ano passado, pelo menos 5.260 novos casos de câncer foram diagnosticados apenas no Paraná. No Estado, este tipo de neoplasia é o que mais acomete os homens, seguido pelo câncer de cólon e reto e o de pulmão. Observando o quadro geral de todos os tipos de câncer que têm incidência no Paraná, os casos de câncer de próstata superam os casos de câncer de mama, que é tipo que mais acomete as mulheres no Estado. 
Como qualquer outro paciente oncológico, Saudi jamais esperava fazer parte desta estatística. Se dependesse apenas de fatores genéticos, nem seus avós, pais ou tios apresentaram quadros de câncer até hoje. Apesar de se manter tranquilo desde a descoberta da doença, o impacto na família não foi fácil. “A família se assusta um pouco mais, a preocupação é maior, se assusta mais do que a pessoa doente, eu estava muito tranquilo, porque eu não tinha sintomas, não sentia nada, a rotina estava normal, inclusive fiz campanha (para vereador), fui pra rua, trabalhei bastante. O positivo é que todo mundo ficou torcendo, rezando, motivando, apoiando, me dando forças e continuam assim inclusive agora, no pós-cirúrgico. Esse apoio é importantíssimo”, afirma Saudi. 

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No momento de angústia, o desabafo na rede social
Um fato que chamou a atenção da comunidade e até dos próprios amigos e familiares de Saudi foi sua decisão de compartilhar o que estava acontecendo com ele, o tratamento e as informações que recebia, através de seu perfil no Facebook. A primeira postagem ocorreu no dia 30 de janeiro deste ano, às 10h29, quando ele relatou que havia identificado a doença ainda em novembro de 2015, durante uma campanha do Novembro Azul, que visa prevenir os homens sobre os riscos do câncer de próstata. Foram 450 curtidas nesta postagem.
No relato, ele também fala da cirurgia que fez em janeiro deste ano e sugere que os homens não hesitem em tirar suas dúvidas e entender melhor a doença. “Após o exame de sangue, constatou-se alteração no exame PSA, exame feito para acompanhamento de alterações da próstata. Em seguida fui encaminhado para fazer uma biópsia, que deu o que não esperávamos, um pequeno tumor. O conhecido câncer de próstata. Na época com 53 anos. Depois de vários outros exames e outras consultas, optei em ouvir o meu médico e fazer a cirurgia. Fiz a cirurgia no dia 17 de janeiro de 2017. Graças a Deus está correndo tudo bem, amanhã tenho consulta para retirada dos pontos e da sonda. Escrevo isto para que todos os homens que tiverem dúvidas não tenham medo, pior é não encarar o problema”, escreveu Saudi.
Ele revela que fez isso porque sentiu falta de um grupo ou um lugar para conversar sobre o assunto, e queria discutir sobre a doença fora do consultório médico, entre amigos ou pessoas que já passaram pelo mesmo problema. “Eu fiz isso por um pouco de angústia, porque você fica na hora sem saber o que fazer, acaba sendo uma fuga, um desabafo, e eu não encontrava onde conversar sobre isso. É um problema que tá aí, todo mundo tem um conhecido, um parente, um amigo, um pai que tem câncer, então a gente vai ter que encarar, é uma coisa que nós temos que abrir mais para a sociedade sem medo, até para fortalecer e dar coragem para as pessoas que estão tendo o problema, para eles terem coragem de dar o próximo passo”, afirma. 
Após este primeiro relato, ele percebeu a repercussão positiva que sua atitude causou. Inclusive acabou tendo contato com outros beltronenses que passavam por situação semelhante. “Durante o período, um conhecido da gente, que se tornou amigo, lá da Cidade Norte, um dia eu fui lá e falamos sobre o assunto e ele também tinha descoberto mais ou menos naquele mês de novembro, e ele já tinha marcado a cirurgia, fez em julho do ano passado, eu acompanhei todo o processo dele também”, conta.
Foram mais algumas postagens nas semanas seguintes, como a do dia 2 de fevereiro, quando ele relatou como estava sendo o período pós-cirúrgico. “No último dia 31 de janeiro fiz a minha consulta pós-cirúrgica, tirei os pontos e a sonda. Estes primeiros 15 dias costumam ser os mais chatos por causa da sonda e um pouco de dor, mas nada que não passe. Na consulta, o médico já estava com o resultado dos exames feitos com o material retirado com a cirurgia, que a princípio está tudo bem. No próximo mês farei os exames novamente para ver se o PSA está zerado”, escreveu, e ainda acrescentou no final da postagem: “Quero convidar a todos que compartilhem esta minha experiência como uma forma de incentivar os homens com mais de 45 anos a ter coragem de fazer os exames preventivos para que o problema seja definitivamente eliminado.”

Ideia é criar um grupo de apoio
Seguindo o exemplo de sucesso do Grupo Mão Amiga, formado por mulheres que já encararam o câncer e hoje se dedicam em auxiliar outras mulheres em situação semelhante, Saudi conversou com alguns amigos e a ideia deles é, futuramente, criar um grupo de homens nos mesmos moldes. “Sempre você se sente bem quando contribuiu com o outro, eu sempre fui daqueles que pensam em fazer alguma coisa, algum serviço, onde todos possam ganhar com isso, então isso não deixa de ser um serviço social, e a gente teve a ideia de colocar-se à disposição e de, junto com mais alguns, criar um grupo, uma metodologia, um projeto para abrir um espaço para isso futuramente”, adianta.
Para Saudi, os homens precisam ser mais organizados neste sentido, para que exista um local onde outras pessoas possam recorrer. Neste sentido, ele defende o apoio das famílias e da sociedade em geral, para que o processo seja mais tranquilo para todos. E, no que depender de sua intenção de contribuir, pelo tom revelado na última postagem, no dia 22 de fevereiro, o projeto segue em frente: “Ontem refiz todos os exames na expectativa que os resultados sejam todos positivos. Assim que tiver o resultado, estarei compartilhando, com o objetivo de incentivar os que estiverem com dúvidas de iniciar o tratamento. Um grande abraço e até breve”. 

 

Psicólogo diz que escrever e dialogar ajuda aliviar a carga

Os relatos de Saudi Mensor nas redes sociais também foram observados pelo psicólogo e psicanalista Érico Peres Oliveira. Ele afirma que o sofrimento, seja qual for sua fonte, nos lança uma posição de solidão e o enfrentamento precisa ser sozinho, mesmo rodeado de pessoas que nos amem. “Todavia, existem formas de dividir o peso. Uma das alternativas diante da dor é justamente transformar o sofrimento em arte. Seja por meio de pinturas, música, dança ou teatro, é uma maneira de expressar isto que nos dói e nos habita”, diz.
Segundo Érico, a escrita também entra neste contexto. “Quando escrevemos sobre o que sentimos, tiramos um pouco desta carga daquilo que precisamos lidar. Seja nas redes sociais, em blogs ou em arquivos pessoais, a escrita é uma das maiores aliadas para amenizar os sintomas. Na presença de uma doença grave, este mecanismo é muito bem-vindo”, garante o psicólogo.
Os grupos de apoio também são elencados pelo profissional como algo positivo quando estamos enfrentando uma enfermidade. “O fato de encontrar iguais e promover um diálogo sobre como cada um está lidando com a questão também favorece para que o fardo sobre os ombros diminua. Existe uma gama gigantesca de produção cultural que se desenvolveu justamente neste processo de transformação. São inúmeras situações onde o motor da arte foram justamente momentos de angústia, aflição e sofrimento”, afirma o psicólogo. 

Psicólogo Érico Peres Oliveira: “Alternativa diante da dor é transformar
o sofrimento em arte”. 
Fotos: Alex Trombetta/JdeB

 

 

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