mussarela
Em tempos de escândalos de adulteração do leite fica-se sabendo de histórias que são para rir e chorar. Contaram-me, e está registrado no devido processo, que em uma daquelas queijarias tipo “lixão”, que recebia o leite transportado para São Paulo, mas que de lá voltava como carga estragada, o pobre queijeiro tinha que fazer de tudo para “arrumar” o leite estragado de modo que se transformasse em queijo.
Mas certa vez o leite estava mesmo muito estragado e, indignado, telefonou ao patrão dizendo-lhe: nesse leite tive que pôr tanta soda, mas tanta soda… que acho que com esses queijos vai dar pra lavar roupa! O problema é que o telefone estava grampeado e foi preso. Dizem que, perante os procuradores, o velho queijeiro não perdeu a pose, se defendeu dizendo que ele tinha que fazer queijo, que a vida inteira tinha feito isso, que não pensassem que iriam acabar com esse sistema! Foi solto.
Essa é uma das tantas histórias de apreensões por adulteração de leite, realizadas ultimamente. Algumas adulterações com derivações para produtos cancerígenos. O consumidor já começa a perceber que o melhor é valorizar produtos de marcas idôneas ou de procedência confiável. Neste sentido, a produção artesanal está sendo revalorizada justamente por haver uma relação mais próxima entre produtor e consumidor. Por exemplo, as lojas de queijos artesanais A Queijaria e Mestre Queijeiro fazem questão de levar os produtores para São Paulo para que estabeleçam uma relação direta com os consumidores. Os nossos queijos terão qualidade somente quando o consumidor passar a exigir mais qualidade. Sem isso os serviços de inspeção não terão a devida eficácia.
Já se tem avançado em termos de legislação para que as microqueijarias se legalizem, mas ainda há muito por fazer. A nossa legislação avança por retalhos, ainda falta um marco regulatório completo para as indústrias rurais de pequeno porte. Enquanto isso, os serviços de inspeção aplicam para uma pequena queijaria, que faz 20-30 quilos de queijos por dia, as mesmas normas que para uma que faz toneladas de queijos por dia.
Para animar o processo de reconhecimento de qualidade dos nossos queijos, vale a pena lembrar a experiência do Primeiro Prêmio Queijo Brasil, promovido pelo Movimento Slow Foode pela Mercearia Mestre Queijeiro realizado no ano passado em São Paulo. Foram apresentados quase 150 queijos, mas interessante observar que o objetivo da premiação foi favorecer a união dos produtores em vez da competição; as medalhas nas três categorias – ouro, prata, bronze – foram oferecidas a todos os queijos que cumpriram os requisitos de qualidade. Assim, cada queijeiro ou queijaria voltou para casa com uma lista de queijos premiados: um número de queijos com medalha de ouro, outros com medalha de prata e outros com medalha de bronze. Todavia, os queijos foram submetidos à votação popular dos participantes do evento, de modo que cada queijo bem colocado na votação acabou ganhando mais um prêmio. O importante é que assim forma-se a opinião pública. O consumidor se qualifica sendo cada vez mais exigente e a qualidade dos produtos melhora.
Bem que poderíamos organizar o primeiro Prêmio Queijo Sudoeste do Paraná!